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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

TEATRO: "O Grande Dia da Batalha"



TEATRO: “O Grande Dia da Batalha”,
de Máximo Gorki e Jorge Silva Melo
Encenação | Jorge Silva Melo
Interpretação | Inês Pereira, Ricardo Aibéo, Ruben Gomes, André Loubet, Vânia Rodrigues, Simon Frankel, José Neves
Produção | Artistas Unidos
Teatro Nacional D. Maria II | 10 Fev 2018 | sab | 21:00


Li a tua peça [Albergue Nocturno]. É nova e inegavelmente boa. O segundo acto é muito bom: é o melhor, o mais forte, e quando estava a lê-lo, especialmente o fim, quase dancei de alegria. O tom é sombrio, opressivo: o público não familizarizado com estas temáticas, sairá do teatro sobressaltado (...)”. Se cito este excerto da carta que Anton Tchekov escreveu a Gorki, seu amigo, é porque ele resume, em parte, aquilo que senti ao ver “O Grande Dia da Batalha”, peça escrita “a duas mãos” por Máximo Gorki e Jorge Silva Melo e em cena no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.

Quando, em 1902, Máximo Gorki escreveu “Albergue Nocturno”, já tinha escrito contos, novelas, um grande romance (“Foma Gordaiev”), já era um escritor admirado, já tinha escrito aquilo a que hoje se chama grandes reportagens, já atravessara a Rússia, a Ucrânia, já tinha sido sapateiro, atravessara o Volga a trabalhar nas cozinhas de um navio, já fora expulso da universidade, já pescara no Mar Cáspio, já estivera preso uma, duas, três vezes, conspirador, já andara pelas estradas como os miseráveis, vagabundos, profetas e ladrões, já conhecera os Humilhados e Ofendidos”, já lera “Os Miseráveis”, era um deles. Daí que todo este mundo salte para o palco em “O Grande Dia da Batalha” e, com ele, nós mesmos, obrigados a olhar para tanta gente, a viver os destinos diversos de personagens atiradas para ali, suspensas no tempo, algumas apenas defendendo ideais.

Ao prolongar o gesto de Gorki, Jorge Silva Melo injecta as nossas ruas, as nossas cidades, neste sórdido Albergue Nocturno, ao encontro dos desgraçados atirados para o lixo nas primeiras metrópoles e agora atirados para o lixo de Schengen e outras globalizações. São personagens abandonas pela industrialização, abandonadas pela pós-industrialização, morrendo de drogas como outrora de tuberculose. São muitos, cada vez mais. São os refugiados, os abandonados, os excluídos. São os protagonistas da história dos tempos modernos, os mesmos que protagonizaram a história há 115 anos atrás e antes e depois e sempre. É Gorki amplificado, revisto e actualizado, mas sempre Gorki. Mas é também o recuperar do “teatro com a comunidade”, do teatro da boa consciência social, da pura transcrição das falas das vítimas, sem mediações, nu e cru. Do bom teatro, portanto!

[Texto baseado no Programa da peça. Fotografia de Jorge Gonçalves, em http://artistasunidosnacapital.blogspot.pt/]

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