CINEMA: “Olhares Lugares”
(“Visages villages”)
Realização | Agnès Varda e JR
Argumento | Agnès Varda e JR
Fotografia | Roberto De Angelis,
Claire Duguet, Julia Fabry, Nicolas Guicheteau, Roman Le Bonniec,
Raphaël Minnesota, Valentin Vignet
Montagem | Maxime
Pozzi-Garcia, Agnès Varda
Interpretação | JR, Agnès
Varda, Jean-Paul Beaujon, Jeannine Carpentier, Marie Douvet, Nathalie
Schleehauf, Daniel Vos
Produção | Rosalie Varda
França | 2017 | Documentário |
90 minutos
Cinema Dolce Espaço, Ovar
13 fev 2018 | dom | 16:00
Não sabemos de que forma se
cruzaram os seus passos. Sabemos, isso sim, que Agnès Varda, a
realizadora, e JR, o fotógrafo e muralista, se conheceram em 2015 e
decidiram, quase de imediato, abraçar em conjunto um projeto que
fosse ao encontro dos objetivos comuns: a paixão pela imagem e a
possibilidade de, através dela, questionar o mundo. Esta união de
esforços leva-os, em “Olhares Lugares”, ao encontro duma França
rural, num processo que resulta, igualmente, numa tão improvável
quanto bela amizade. Os dois provarão que as diferenças não são
obstáculo quando está em causa a defesa dos valores éticos e
ideológicos numa sociedade cada vez mais voltada sobre si mesma.
“Olhares Lugares” é Agnès
Varda no seu melhor. Fiel aos princípios da Nouvelle Vague, que
ajudou a criar, a realizadora mostra-se exímia em estabelecer a
justaposição entre ficção e realismo documental. Fazê-lo em
parceria com JR é, desde logo, o reconhecimento por outras
expressões artísticas e, em particular, pela fotografia. Mas é
também a demonstração de que a comunhão entre o velho e o novo, o
moderno e o “rétro”, não apenas é possível como é idónea.
Varda e JR trazem às aldeias uma arte que, até então, tinha
primado pela ausência, e não apenas com o simples objectivo de a
mostrar, mas com o intuito de a tornar peça de museus vivos, de
lembrar que a arte não é um simples capricho, antes contribui para
o progresso social do indivíduo e para um melhor conhecimento do
mundo.
Apontado como o grande candidadto ao
Óscar para o Melhor Documentário em 2018, “Olhares Lugares” é
uma peça a quatro mãos com tanto de original como de belo, tanto de
terno como de intenso, uma pequena pérola que nos aquece o coração
e nos faz sorrir. Aqui, a simplicidade nunca é ligeireza, a ternura
não se confunde com a complacência. A auto-caravana que “vomita”
retratos gigantes é uma máquina de fazer magia que devolve
histórias e memórias, as afixa e grava para a posteridade, mesmo
sabendo o quão efémeras podem ser a vida e as coisas. E depois...
sabe tão bem ver um filme assim!
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