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sábado, 17 de fevereiro de 2018

FILME-CONCERTO: "Fantômas"



FILME-CONCERTO: “Fantômas”
Realização | Louis Feuillade
Argumento | Marcel Allain, Pierre Souvestre e Louis Feuillade
Fotografia e Montagem | Georges Guérin
Interpretação | René Navarre, Edmund Breon, Georges Melchior, Renée Carl, Yvette Andréyor, Jane Faber
Produção | Romeu Bosetti
Musica (interpretada ao vivo) | Amiina
França | 1913 | Crime, Drama | 61 minutos
Auditório de Espinho – Academia
16 Fev 2018 | sex | 21:30


Cinematograficamente falando, o ano de 1913 ficou marcado pelo arranque da série “Fantômas”, de Louis Feuillade, um épico de cinco horas e meia distribuído por cinco episódios, dos quais nos foi dado a ver no Auditório de Espinho o segundo, “Juve contre Fantômas”, em cópia restaurada. Personagem francês fictício da literatura, criado pelos autores Marcel Allain e Pierre Souvestre,“Fantômas” surgiu em 1911 e deu azo a 32 livros escritos em colaboração pelos dois autores. Nesta adaptação ao cinema, dois anos mais tarde, Feuillade mostra-se contagiado pela febre narrativa dos criadores da personagem, impondo às sequências um ritmo vertiginoso e evidenciando uma linguagem cinematográfica altamente evoluída numa altura em que o cinema dava ainda os primeiros passos.

O filme começa com um grande plano de Fantômas, apresentando-o, por meio de sobreposições, como um mestre do disfarce. Mas mostra também, pelo mesmo método, o Inspector Juve jogando com as mesmas armas e recorrendo ao disfarce para lograr os seus intentos de capturar o sanguinário Fantômas. A descoberta dum cadáver atrozmente assassinado faz disparar a investigação, com perseguições alucinantes pelos boulevards de Paris, um trepidante assalto ao combóio, a tragédia do Simplon Express e, já na parte final, o cerco à mansão de Lady Beltham e uma terrível explosão que vitima (ou talvez não) o Inspector e o seu ajudante e jornalista, Jérôme Fandor, ante o gesto triunfal do criminoso.

Mais do que a um drama policial de contornos surrealistas (as cenas da cobra são deliciosas), em “Juve Contra Fantômas” é ao apaixonante nascimento da linguagem cinematográfica, tal como a conhecemos hoje em dia, que nos é dado assistir. O experimentalismo narrativo, a forma de cortar com a linguagem convencional do teatro, é, no filme, uma quase obsessão do realizador. Os bairros de Paris, mostrados de forma absolutamente naturalista, são atravessados por personagens que se perseguem sob os mais variados disfarces, por mulheres de má vida, por meliantes e criminosos. É um vendaval de génio e de emoção que nos passa diante dos olhos e que faz deste filme um verdadeiro clássico do tempo do cinema mudo e uma obra de visualização obrigatória.

Resta falar da música, interpretada ao vivo, de forma magistral, pela banda islandesa Amiina (Hildur Ársælsdóttir, Edda Rún Ólafsdóttir, Maria Huld Markan Sigfúsdóttir e Sólrún Sumarliðadóttir). Melancólicos e etéreos, os ritmos encadeiam-se para alcançar o efeito desejado em melodias que convocam o medo e o suspense. Podemos falar duma banda sonora carregada de contrastes, da escuridão total e do terror às harmonias celestiais. Composta de forma quase introspectiva, inteligente e com uma estrutura delicada, ela serve de contraponto perfeito às peripécias que se vão sucedendo no ecrã, combinando de forma imaginativa os sons do violino, violoncelo, percussão, metalofone, harpa de mesa, ukelele e um conjunto de efeitos electrónicos verdadeiramente alucinantes. Trepidantes, tal como o filme. Louis Feuillade teria ficado orgulhoso do trabalho deste quarteto de jovens talentosos e geniais!

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