FILME-CONCERTO: “Fantômas”
Realização | Louis Feuillade
Argumento | Marcel Allain, Pierre
Souvestre e Louis Feuillade
Fotografia e Montagem | Georges
Guérin
Interpretação | René Navarre,
Edmund Breon, Georges Melchior, Renée Carl, Yvette Andréyor, Jane
Faber
Produção | Romeu Bosetti
Musica (interpretada ao vivo) |
Amiina
França | 1913 | Crime, Drama |
61 minutos
Auditório de Espinho –
Academia
16 Fev 2018 | sex | 21:30
Cinematograficamente falando, o ano
de 1913 ficou marcado pelo arranque da série “Fantômas”, de
Louis Feuillade, um épico de cinco horas e meia distribuído por
cinco episódios, dos quais nos foi dado a ver no Auditório de
Espinho o segundo, “Juve contre Fantômas”, em cópia restaurada. Personagem francês fictício da literatura,
criado pelos autores Marcel Allain e Pierre Souvestre,“Fantômas”
surgiu em 1911 e deu azo a 32 livros escritos em colaboração pelos
dois autores. Nesta adaptação ao cinema, dois anos mais tarde, Feuillade mostra-se
contagiado pela febre narrativa dos criadores da personagem, impondo
às sequências um ritmo vertiginoso e evidenciando uma linguagem cinematográfica altamente evoluída numa altura em que o cinema dava ainda os primeiros passos.
O filme começa com um grande plano de Fantômas, apresentando-o, por meio de sobreposições, como um
mestre do disfarce. Mas mostra também, pelo mesmo método, o
Inspector Juve jogando com as mesmas armas e recorrendo ao disfarce
para lograr os seus intentos de capturar o sanguinário Fantômas. A
descoberta dum cadáver atrozmente assassinado faz disparar a
investigação, com perseguições alucinantes pelos boulevards de
Paris, um trepidante assalto ao combóio, a tragédia do Simplon
Express e, já na parte final, o cerco à mansão de Lady Beltham e
uma terrível explosão que vitima (ou talvez não) o Inspector e o
seu ajudante e jornalista, Jérôme Fandor, ante o gesto triunfal do
criminoso.
Mais do que a um drama policial de
contornos surrealistas (as cenas da cobra são deliciosas), em “Juve
Contra Fantômas” é ao apaixonante nascimento da linguagem
cinematográfica, tal como a conhecemos hoje em dia, que nos é dado
assistir. O experimentalismo narrativo, a forma de cortar com a
linguagem convencional do teatro, é, no filme, uma quase obsessão do realizador. Os bairros de Paris, mostrados de forma
absolutamente naturalista, são atravessados por personagens que se
perseguem sob os mais variados disfarces, por
mulheres de má vida, por meliantes e criminosos. É um vendaval de
génio e de emoção que nos passa diante dos olhos e que faz deste
filme um verdadeiro clássico do tempo do cinema mudo e uma obra de
visualização obrigatória.
Resta falar da música, interpretada
ao vivo, de forma magistral, pela banda islandesa Amiina (Hildur Ársælsdóttir, Edda Rún
Ólafsdóttir, Maria Huld Markan Sigfúsdóttir e Sólrún
Sumarliðadóttir). Melancólicos e etéreos, os
ritmos encadeiam-se para alcançar o efeito desejado em melodias
que convocam o medo e o suspense. Podemos falar duma banda sonora carregada de
contrastes, da escuridão total e do terror às harmonias
celestiais. Composta de forma quase introspectiva, inteligente e com uma estrutura
delicada, ela serve de contraponto perfeito às peripécias que se
vão sucedendo no ecrã, combinando de forma imaginativa os sons do
violino, violoncelo, percussão, metalofone, harpa de mesa, ukelele e
um conjunto de efeitos electrónicos verdadeiramente alucinantes. Trepidantes, tal como o filme. Louis Feuillade teria ficado orgulhoso do trabalho deste quarteto de jovens talentosos e geniais!
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