TERTÚLIA: “Conversas Úteis”,
com António Canteiro
Museu de Ovar
20 Jan 2018 | sab | 21:30
Com a festa na rua em noite de abertura
do Carnaval de Ovar, foi no aconchego da Sala dos Fundadores do Museu
de Ovar que se fez a verdadeira festa, a da palavra, a que alimenta o
espírito e faz viver. António Canteiro foi o convidado de honra
desta primeira sessão de 2018 do “Conversas Úteis”, tertúlia à
roda dos livros, como de costume moderada por Carlos Nuno Granja.
Nela, o autor falou dos seus romances, do processo criativo que a
eles preside, mas sobretudo das suas experiências de vida, dos
momentos de alguma forma marcantes e que se encontram na génese das suas
histórias, da sua poesia. “Os escritores são ladrões”, referiu
a este propósito, dando como exemplo o seu último romance, “A Luz
vem das Pedras”, nascido em 2012, em grande medida surgido de uma
história escutada a uma idosa de S. Caetano, Cantanhede, a sua terra natal. Outro exemplo advém do
seu trabalho como Técnico Superior de Reinserção Social no
Estabelecimento Prisional de Aveiro, com a consulta das peças
processuais a poderem dar um valioso contributo à ficção que faz. “O
António Canteiro vive muito do João Cruz enquanto Técnico”,
remata.
“Escrevo os livros aos bocados e
depois junto-os todos e dou-lhes lógica, coerência”, refere o
autor a propósito dum processo de escrita que pode, nesta fase crucial
de, “das partes, dar forma ao todo”, “demorar um mês, um
mês e meio”. “A escrita vai-se fazendo; o labor é infinito”,
sublinha. Mas é nas partes que se detém, relevando a importância
de ouvir as histórias e de ajustar por palavras aquilo que é o dia
a dia. Designa isso por “invenção a partir do real” e, da
mesma forma, define a sua escrita como “ficção para além do
real”, confessando que “um romance escreve-se ao longo dos anos e
a partir de muitas experiências de vida”.
Com a sessão a caminhar para o fim,
tempo para falar de poesia, um assunto tão grato ao escritor. E logo
uma revelação: “Tento meter poesia na prosa, sob a forma de uma
carta escrita, por exemplo.” Como que a sublinhar as suas palavras,
lê um excerto de “A Luz vem das Pedras”, precioso pedacinho de
prosa que acabou por ganhar a sua “emancipação”, indo integrar
“Na Luz das Janelas Pestanejam as Sombras”, o seu livro de poemas que,
em 2015, foi galardoado com o Prémio de Poesia Bocage. Tempo ainda
para confidenciar ao auditório que “ouvir as histórias aos outros
é uma forma de os libertar dum peso que carregam, da mesma maneira
que verter essas mesmas histórias nas páginas dos meus livros
funciona, para mim, como uma libertação”. Daí que, um dia, não irá perder tempo a escrever as suas memórias: “Os meus livros são as minhas
memórias, todos eles são um registo das coisas que me acompanham”, conclui.
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António Canteiro, pseudónimo
literário de João Carlos Costa da Cruz, nasceu em 11 de Outubro de
1964 na freguesia de S. Caetano, concelho de Cantanhede. Técnico
Superior de Reinserção no Estabelecimento Prisional de Aveiro,
inicia atividade literária em 2005, com “Parede de Adobo”,
Menção Honrosa do Prémio Carlos de Oliveira; “Ao Redor dos
Muros”(Gradiva) venceu o Prémio Alves Redol, em 2009; “Largo da
Capella” (Gradiva) obteve a Menção Honrosa do Prémio João
Gaspar Simões, em 2011; “O Silêncio Solar das Manhãs”
(Gradiva) foi Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, em 2013;
“Logo À Tarde Vai Estar Frio” (Gradiva) foi Menção Especial do
Júri, no Prémio João José Cochofel / Casa da Escrita de Coimbra,
em 2013, e acabaria por vencer o Prémio Maria Amália Vaz de
Carvalho, em 2015; “Na Luz das Janelas Pestanejam as Sombras”
(ed. LASA) foi Prémio de Poesia do Bocage, em 2015; o seu último
romance, “A Luz Vem das Pedras” (Gradiva), publicado em 2017,
venceu em 2015 o Prémio Alves Redol.
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