EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Fernando
Pessoa”,
de Joakin Pereyra
Biblioteca Municipal de Estarreja
20 Jan > 14 Fev 2018
Não conduz, apesar de ter carta, não
sabe falar para a rádio, afirma-se um rebelde e gosta de ser polémico.
Assim é Joakin Pereyra, artista plástico nascido há 65 anos em
Estarreja e com um percurso artístico de mais de meio século,
repartido entre a pintura e a escultura. É dele a exposição agora
patente na Biblioteca Municipal de Estarreja, intitulada “Fernando
Pessoa” e na qual o artista apresenta, numa vintena de obras
diversas, a sua visão do mais universal poeta português.
Lê-se nas obras de Joakin Pereyra a
mesma liberdade de expressão que se lê no Pessoa poeta, no Pessoa
prosador, dramaturgo, criador de charadas, inventor ou no Pessoa Íbis
do Egito. Ora atentas ao detalhe, minuciosas, precisas, ora livres e
soltas, desprendidas, informais, nelas cabem todos os sonhos do
mundo. Abertas à apreciação e interpretação do espectador, as
obras tendem a mostrar um Pessoa sonhador com a Ria de Aveiro no
horizonte, um Pessoa tornado volátil no fumo que se desprende duma
chávena de café, um Pessoa-silhueta apenas pressentido na noite
lisboeta, um Pessoa reduzido à sua mão direita ante um poema
inacabado ou mesmo “um outro Pessoa”, que mais não será que o
auto-retrato do pintor, ele que se afirma “um bocado Pessoa”. Mas
é no seu conjunto, na forma como se “cosem” os múltiplos
fragmentos do poeta e se reconstrói um Pessoa ortónimo, que reside a
grande força desta exposição.
Como afirma Alberto Caeiro, “uns agem
sobre os homens como o fogo, que queima neles todo o acidental, e os
deixa nus e reais”. Assim é Joakin Pereyra, naquilo que tem de
mais autêntico: a sua frontalidade, a necessidade de denunciar, o génio provocador. Impregnadas destes
atributos, as suas obras são como abanões a uma sociedade amorfa e
conformista, desabituada de pensar, incapaz de se corrigir. Uma
oportunidade, pois, para conhecer este artista interventivo e multifacetado - e de, no
seu traço, intuir Fernando Pessoa, naquilo que nele pode haver de mais
consciente, mas também de mais absurdo e perturbador -, aquela que se oferece na
Biblioteca Municipal de Estarreja. Até ao dia 24 de Fevereiro.
Sem comentários:
Enviar um comentário