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VISITA GUIADA: “O Porto de D. Pedro
IV”
Orientada por | Professor César Santos
Silva
Organizada por | Confraria das Almas do
Corpo Santo de Massarelos
22 Set 2018 | sab | 10:00
Com quase seis dezenas de participantes
- “gente suficiente para fazer uma revolução liberal (!)”, nas
palavras bem humoradas do Professor César Santos Silva –, decorreu
na manhã de hoje mais uma Visita Guiada promovida pela Confraria das
Almas do Corpo Santo de Massarelos. “O Porto de D. Pedro IV”
serviu de assunto a uma jornada de conhecimento e convívio que teve
o seu início na Praça do Exército Libertador e terminou na Rua de
Cedofeita. Ao longo de duas horas falou-se de D. Pedro IV,
naturalmente, mas falou-se de muitas outras coisas também, ou um dos
lemas do orientador da visita não fosse o de que “tudo tem a ver
com tudo”.
Baptizado como Pedro de Alcântara
Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim
José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, D.
Pedro IV tem o seu nome ligado a alguns dos mais importantes
acontecimentos políticos da vida portuguesa na primeira
metade do século XIX. Nascido em Queluz em 12 de Outubro de 1798,
filho do Rei D. João VI e de D. Carlota Joaquina, D. Pedro teve uma
infância marcada pelo instável ambiente familiar e pelos
acontecimentos sociais e políticos, desde os ecos da Revolução
Francesa às ameaças napoleónicas, culminando na fuga da corte para
o Brasil perante as invasões francesas, em 1807. Foi precisamente
por aqui que esta verdadeira aula de história começou, encerrando
com ela um convite aos presentes a que mergulhassem na sequência de
momentos conturbados que se seguiram, como a proclamação da
independência do Brasil em 7 de Setembro de 1822, as duas coroas a
que D. Pedro abdicou (e que até poderiam ter sido quatro, caso
tivesse aceite as coroas de Espanha e da Grécia, que seriam suas por
imposição sucessória) ou, sobretudo, o empenho pessoal do “apenas”
Duque de Bragança na solução do tremendo conflito interno que se vinha a agudizar entre absolutistas e liberais desde que D. Miguel tomou conta do trono e rasgou, literalmente, a nova Carta Constitucional.
Numa sombra precária em manhã de
autêntico Verão, fala-se então da expedição militar composta por menos
de 7.000 homens, um terço dos quais mercenários, e que, dos Açores,
chegará às costas portuguesas em 09 de Julho de 1832. São eles “os
bravos do Mindelo”, uma incorrecção histórica já que o local do
desembarque foi na praia do Pampelido da Memória, na freguesia de
Lavra, concelho de Matosinhos e não no Mindelo, uma freguesia do concelho de Vila do Conde. Reposta a verdade – e depois de
“pararmos” numa tasca de onde provinha um delicioso aroma a peixe frito, que saciou D. Pedro deixando-o farto mas que o levou a
confessar estar falido … tendo o tasqueiro ficado f***** -,
estamos pois em plena Praça do Exército Libertador (mas que será
sempre o Carvalhido), percebendo que foi por aqui que as tropas
liberais entraram na cidade - os miguelistas a cometerem um erro
crasso já que, com os seus 80.000 homens, facilmente teriam esmagado
a investida das tropas de D. Pedro, “cortando o mal pela raiz”. E
se por aqui entraram, pela agora Rua 9 de Julho continuaram – e nós
com eles - rumo ao coração duma cidade que os acolheu com
desconfiança, como que adivinhando o cerco do Porto que viria a
durar mais de um ano.
Pelo caminho vamos tomando contacto com
o caos urbanístico que a própria Rua 9 de Julho personifica, a
importância desta via que era a antiga estrada para Santiago de
Compostela, as casas dos vareiros de Ovar, a profusão de quintas nobres que marcavam a paisagem
duma zona profundamente rural, as fábricas que laboraram até há
bem pouco tempo e as “ilhas” que em seu redor se instalaram, até a
razão de ser de topónimos como a Ramada Alta, tomando como referência a distante torre dos Paços do Concelho. Mas fala-se igualmente na
Quinta da Ana Esganada (onde, posteriormente, se rasgou o Hospital
Militar) ou na “titoria” da Quinta das Águas Férreas, isto sem
perder de vista as tropas de D. Pedro que, connosco, fazem este mesmo trajecto,
encabeçadas agora pelo Batalhão Académico, o “teatral e muito
vaidoso” Almeida Garrett ou o “cara-de-pau”
Mouzinho da Silveira lado-a-lado com o sorumbático Alexandre Herculano ou com “o mais corrupto político português de sempre”, Costa
Cabral. À esquerda, altaneiras, as
torres da Igreja da Lapa parecem querer lembrar-nos que D. Pedro tem
aí o seu coração. Até que entramos em Cedofeita!
Num Porto cercado e a viver momentos
muito difíceis, a ordem entre os liberais estabelecia-se numa espécie de
cidade-estado, sendo a sua “capital”, precisamente, esta Rua de
Cedofeita. Era aqui que se concentravam os Ministérios e era aqui
que estava alojado D. Pedro, depois duma curta estadia no Palácio
dos Carrancas (actual Museu Nacional de Soares dos Reis). A
importância desta artéria da cidade está patente nas suas casas e
nas histórias que elas contam, os nomes de Felizardo Lima e de
Carolina Michaëlis de Vasconcellos à cabeça. A visita está a
chegar ao fim mas importa dizer que a cruel guerra civil terá os
liberais como os grandes vencedores, o que redundará no exílio do
rei absoluto e na reposição da Carta Constitucional lavrada por D.
Pedro, provando, na plena medida, a sua pertinácia e dedicação à
causa que encabeçou. Pouco mais viveria D. Pedro: só o tempo
suficiente para ver as Cortes reunidas de acordo com a Carta, tendo
falecido 4 dias após o começo do reinado de D. Maria II, em 24 de
Setembro de 1834. Sobre aquele que ficou conhecido como “Libertador”
ou “Rei Soldado” fica a certeza de que o seu nome é
indissociável da experiência liberal portuguesa, que assinala o
início do Portugal contemporâneo. Daí que as últimas palavras do
historiador Professor César Santos Silva sejam de incentivo a que se
procure saber mais sobre “o tremendo século XIX”. E porque as Visitas Guiadas não ficam por aqui, importa lembrar que a próxima terá lugar já no dia 14 de Outubro e levará os interessados à descoberta da Sinagoga do Porto. Informações e inscrições em geral@confrariacorposantomassarelos.pt.
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