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sábado, 22 de setembro de 2018

VISITA GUIADA: "O Porto de D. Pedro IV"


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VISITA GUIADA: “O Porto de D. Pedro IV”
Orientada por | Professor César Santos Silva
Organizada por | Confraria das Almas do Corpo Santo de Massarelos
22 Set 2018 | sab | 10:00


Com quase seis dezenas de participantes - “gente suficiente para fazer uma revolução liberal (!)”, nas palavras bem humoradas do Professor César Santos Silva –, decorreu na manhã de hoje mais uma Visita Guiada promovida pela Confraria das Almas do Corpo Santo de Massarelos. “O Porto de D. Pedro IV” serviu de assunto a uma jornada de conhecimento e convívio que teve o seu início na Praça do Exército Libertador e terminou na Rua de Cedofeita. Ao longo de duas horas falou-se de D. Pedro IV, naturalmente, mas falou-se de muitas outras coisas também, ou um dos lemas do orientador da visita não fosse o de que “tudo tem a ver com tudo”.

Baptizado como Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, D. Pedro IV tem o seu nome ligado a alguns dos mais importantes acontecimentos políticos da vida portuguesa na primeira metade do século XIX. Nascido em Queluz em 12 de Outubro de 1798, filho do Rei D. João VI e de D. Carlota Joaquina, D. Pedro teve uma infância marcada pelo instável ambiente familiar e pelos acontecimentos sociais e políticos, desde os ecos da Revolução Francesa às ameaças napoleónicas, culminando na fuga da corte para o Brasil perante as invasões francesas, em 1807. Foi precisamente por aqui que esta verdadeira aula de história começou, encerrando com ela um convite aos presentes a que mergulhassem na sequência de momentos conturbados que se seguiram, como a proclamação da independência do Brasil em 7 de Setembro de 1822, as duas coroas a que D. Pedro abdicou (e que até poderiam ter sido quatro, caso tivesse aceite as coroas de Espanha e da Grécia, que seriam suas por imposição sucessória) ou, sobretudo, o empenho pessoal do “apenas” Duque de Bragança na solução do tremendo conflito interno que se vinha a agudizar entre absolutistas e liberais desde que D. Miguel tomou conta do trono e rasgou, literalmente, a nova Carta Constitucional.

Numa sombra precária em manhã de autêntico Verão, fala-se então da expedição militar composta por menos de 7.000 homens, um terço dos quais mercenários, e que, dos Açores, chegará às costas portuguesas em 09 de Julho de 1832. São eles “os bravos do Mindelo”, uma incorrecção histórica já que o local do desembarque foi na praia do Pampelido da Memória, na freguesia de Lavra, concelho de Matosinhos e não no Mindelo, uma freguesia do concelho de Vila do Conde. Reposta a verdade – e depois de “pararmos” numa tasca de onde provinha um delicioso aroma a peixe frito, que saciou D. Pedro deixando-o farto mas que o levou a confessar estar falido … tendo o tasqueiro ficado f***** -, estamos pois em plena Praça do Exército Libertador (mas que será sempre o Carvalhido), percebendo que foi por aqui que as tropas liberais entraram na cidade - os miguelistas a cometerem um erro crasso já que, com os seus 80.000 homens, facilmente teriam esmagado a investida das tropas de D. Pedro, “cortando o mal pela raiz”. E se por aqui entraram, pela agora Rua 9 de Julho continuaram – e nós com eles - rumo ao coração duma cidade que os acolheu com desconfiança, como que adivinhando o cerco do Porto que viria a durar mais de um ano.

Pelo caminho vamos tomando contacto com o caos urbanístico que a própria Rua 9 de Julho personifica, a importância desta via que era a antiga estrada para Santiago de Compostela, as casas dos vareiros de Ovar, a profusão de quintas nobres que marcavam a paisagem duma zona profundamente rural, as fábricas que laboraram até há bem pouco tempo e as “ilhas” que em seu redor se instalaram, até a razão de ser de topónimos como a Ramada Alta, tomando como referência a distante torre dos Paços do Concelho. Mas fala-se igualmente na Quinta da Ana Esganada (onde, posteriormente, se rasgou o Hospital Militar) ou na “titoria” da Quinta das Águas Férreas, isto sem perder de vista as tropas de D. Pedro que, connosco, fazem este mesmo trajecto, encabeçadas agora pelo Batalhão Académico, o “teatral e muito vaidoso” Almeida Garrett ou o “cara-de-pau” Mouzinho da Silveira lado-a-lado com o sorumbático Alexandre Herculano ou com “o mais corrupto político português de sempre”, Costa Cabral. À esquerda, altaneiras, as torres da Igreja da Lapa parecem querer lembrar-nos que D. Pedro tem aí o seu coração. Até que entramos em Cedofeita!

Num Porto cercado e a viver momentos muito difíceis, a ordem entre os liberais estabelecia-se numa espécie de cidade-estado, sendo a sua “capital”, precisamente, esta Rua de Cedofeita. Era aqui que se concentravam os Ministérios e era aqui que estava alojado D. Pedro, depois duma curta estadia no Palácio dos Carrancas (actual Museu Nacional de Soares dos Reis). A importância desta artéria da cidade está patente nas suas casas e nas histórias que elas contam, os nomes de Felizardo Lima e de Carolina Michaëlis de Vasconcellos à cabeça. A visita está a chegar ao fim mas importa dizer que a cruel guerra civil terá os liberais como os grandes vencedores, o que redundará no exílio do rei absoluto e na reposição da Carta Constitucional lavrada por D. Pedro, provando, na plena medida, a sua pertinácia e dedicação à causa que encabeçou. Pouco mais viveria D. Pedro: só o tempo suficiente para ver as Cortes reunidas de acordo com a Carta, tendo falecido 4 dias após o começo do reinado de D. Maria II, em 24 de Setembro de 1834. Sobre aquele que ficou conhecido como “Libertador” ou “Rei Soldado” fica a certeza de que o seu nome é indissociável da experiência liberal portuguesa, que assinala o início do Portugal contemporâneo. Daí que as últimas palavras do historiador Professor César Santos Silva sejam de incentivo a que se procure saber mais sobre “o tremendo século XIX”. E porque as Visitas Guiadas não ficam por aqui, importa lembrar que a próxima terá lugar já no dia 14 de Outubro e levará os interessados à descoberta da Sinagoga do Porto. Informações e inscrições em geral@confrariacorposantomassarelos.pt.

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