Páginas

sábado, 22 de setembro de 2018

CINEMA: "Guerra Fria"



CINEMA: “Guerra Fria” / “Zimna wojna”
Realização | Pawel Pawlikowski
Argumento | Pawel Pawlikowski, Janusz Glowacki e Piotr Borkowski
Fotografia |Lukasz Zal
Montagem | Jaroslaw Kaminski
Interpretação | Joanna Kulig, Tomasz Kot, Borys Szyc, Agata Kulesza, Cédric Kahn, Jeanne Balibar, Adam Woronicz, Adam Ferency
Produção | Ewa Puszczynska e Tanya Seghatchian
Polónia, França, Reino Unido | 2018 | Drama, romance | 88 minutos | M/14
Cinema Dolce Espaço, Ovar
21 Set 2018 | sex | 21:30


Quatro anos após “Ida”, Pawel Pawlikowski regressa aos ecrãs com “Guerra Fria”, uma conturbada história de amor entre um director de orquestra dedicado à recolha e divulgação da herança  musical polaca e uma candidata a integrar o projecto, uma cantora temperamental mas com uma voz divina. A primeira parte do filme parece querer sugerir que o olhar de Pawlikowski se centra, de forma intensa e aprofundada, na situação política dum país alinhado a Leste e subjugado aos ditames do estalinismo, embora se vá percebendo o esforço do realizador em permanecer à superfície desses elementos para melhor se focar na história deste casal.

Condensando, no curto espaço de 88 minutos, uma década de relacionamento repleto de armadilhas, o filme não facilita a tarefa ao espectador em matéria de envolvimento, de tal forma a realização passa por cima das personagens e dos seus problemas, como que os subestimando. Mas é precisamente esse lado urgente que confere ao filme a sua parcela de tragédia humana, os problemas dos dois protagonistas vindo, em grande parte, de si mesmos e das suas diferenças, o homem tendo uma visão de artista, enquanto a mulher, mais pragmática, recusando acima de tudo envolver-se. E se há toda uma evidência na doçura melancólica dele, o olhar duro no rosto de anjo dela oferece um contraste sublime.

De uma enorme delicadeza, “Guerra Fria” envolve-nos como um aconchegante pijama de flanela em tarde de Inverno à lareira. O filme oferece ao olhar um sem número de emoções, mesmo que a empatia com o espectador nem sempre seja óbvia. É nessas alturas que se evidencia o excelente trabalho de Paweł Pawlikowski em termos de composição dos planos, a sua magnífica textura e visão harmónica a convidarem à contemplação, o que o preto e branco da fotografia reforça. E há ainda a maravilhosa Joanna Kulig, no papel da cantora, capaz de nos brindar com uma interpretação absolutamente sincera e apaixonada, a fazer lembrar uma Anna Magnani ou uma Gena Rowlands.

Sem comentários:

Enviar um comentário