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quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

EXPOSIÇÃO DE DESENHO E PINTURA: "Pare, Escute e Olhe"


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EXPOSIÇÃO DE DESENHO E PINTURA: “Pare, Escute e Olhe”, 
de Pedro Partidário
Centro Cultural de Cascais
01 Out 2022 > 22 Jan 2023


O trabalho sobre papel de Pedro Partidário é filiado em Maria Velez, pintora e sua professora de Desenho no 1º ano do curso de Arquitectura, que, a seu tempo, sugeriu o seu nome ao marido, o Escultor Fernando Conduto, para fazer parte do grupo de docentes de Desenho e de Projecto do 1º ano do Curso de Arquitectura da Universidade Lusíada de Lisboa, disciplinas que coordenava no início dos anos de 1990. Pedro Partidário iniciou a sua experiência pedagógica, primeiro como professor de Projecto e, dois ou três anos depois, como professor de Desenho. Destacou-se rapidamente como um dos mais activos e empenhados membros do corpo docente na defesa do Desenho enquanto suporte intelectual e linguístico da actividade projectual aplicada, estabelecendo com os colegas e, sobretudo, com o casal Maria Velez e Fernando Conduto, uma forte amizade e cumplicidade para a vida.

O título escolhido para esta exposição, “Pare, Escute e Olhe”, não será estranho a todos os que partilham a circunstância de terem sido alunos do Escultor Fernando Conduto: um alerta, oportunamente repetido nas suas aulas. Este aviso de atenção aos comboios continuou a ser ouvido nas reuniões semanais de coordenação na Universidade Lusíada, onde se pensava e discutia o Desenho. O panorama entre o coordenador Fernando Conduto e o elenco de professores de Desenho, que chegou a ser de dezassete elementos, era de militância sem excepção e era grande o entusiasmo com que se discutiam as questões do Desenho, se criavam exercícios e se analisavam os resultados obtidos com os alunos. Esta relação cresceu para além da componente didáctica e pedagógica do meio académico entre alguns docentes, dando origem a fortes laços de amizade e de cumplicidade, em especial entre o Professor Conduto e Pedro Partidário.

A exposição que a Fundação D. Luís l apresenta ao público revela o crescimento e a maturidade atingida por Pedro Partidário na expressão gráfica, muito para além da actividade de arquitecto e de docente, criando um corpo de trabalho artístico só possível na persistência do saber parar, escutar e olhar. Organizada em três espaços, o primeiro, o espaço da Ética, “Onde a Poesia não Entra”, é de reacção às situações de maus-tratos e de injustiça que vitimizam sobretudo as mulheres. Os outros espaços revelam a compulsividade no acto de desenhar: Um, “Depois do Poema”, de resposta às leituras de poesia, com destaque para os poetas Herberto Hélder e Carlos Drummond de Andrade. Outro, “Perante o Poema”, resulta da deambulação e da contemplação da paisagem rural e da paisagem costeira, onde Pedro Partidário colhia e desenhava momentos de pura poesia. Parem, escutem e olhem...

[Texto de Miguel Navas, extraído da folha de sala da exposição e que pode ser vista no original em https://www.fundacaodomluis.pt/expositions/pedro-partidario]

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Uma Homenagem à Vida"


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EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Uma Homenagem à Vida”,
de Maria Velez
Centro Cultural de Cascais
01 Out 2022 > 29 Jan 2023

“Nasci em 1935 em Lisboa. Não fui à escola até aos dez anos por problemas de saúde. Tinha professora em casa. Aprendi francês, inglês, alemão e piano. O liceu, frequentei no Colégio Coração de Maria. Aos 15 anos queria tirar pintura, mas a esperta da minha mãe (ela também pintava e frequentava o atelier da Eduarda Lapa) aconselhou-me a tirar primeiro um curso de comércio na Escola Lusitânia para o meu pai ficar contente (...). Depois treinei-me em aulas noturnas de modelo nu na Sociedade Nacional de Belas Artes, acompanhada pelo meu irmão, que gostava de desenhar. E entrei na Escola Superior das Belas Artes. No entanto, quando me questionassem sobre o meu curso devia dizer que estudava para professora. Era mais digno. Nada de confusões.”
Maria Velez

Patente ao público no Centro Cultural de Cascais até ao próximo dia 29 de janeiro, “Uma Homenagem à Vida” reúne uma colecção de pinturas de Maria Velez, através das quais a artista se dá a ver em intimidade e beleza. Organizada com o apoio da família Velez, a mostra abre uma extraordinária janela sobre o universo da artista, permitindo perceber, através dos temas e dos pormenores das suas telas, as influências culturais, tradições e os saberes do Minho, Alentejo e a expressão artística feminina. São trabalhos que expressam plasticamente as suas vivências e as suas memórias: da família, dos lugares, das viagens que fez, dos verões que passou junto ao mar. De forma complementar, possui ainda alguns apontamentos de textos escritos pela artista sobre as suas experiências e inspirações.

Maria Velez iniciou o curso de pintura na ESBAL no final dos anos cinquenta, altura em que o programa era muito académico e fechado. Quis, por isso, logo no final do primeiro ano, passar uma temporada na Suíça onde teve oportunidade de trabalhar no atelier de um conhecido professor da Bauhaus e de acompanhar exposições de grandes mestres da pintura moderna. Começou aqui, nesta vontade de entender aquilo que está por detrás das pinceladas dos grandes pintores, uma inquietude que a acompanharia para o resto da vida. Foi esta descoberta das potencialidades da linguagem visual, este “aprender fazendo”, que a motivou para sempre e que a levou a explorar de forma autónoma, com grande persistência e curiosidade, múltiplas técnicas de desenho e pintura. Completou o curso em 1960 com dezoito valores.

Nos anos que se seguiram, conviveu com Sá Nogueira, Júlio Pomar, Alice Jorge, João Hogan, António Charrua e muitos outros. Foi nesta época, tão vibrante e tão rica em termos de trabalho e de amizades, que conheceu o escultor Fernando Conduto com quem veio a casar. Em paralelo com a pintura, começou a colaborar na loja do pai e a lecionar desenho, primeiro no ensino técnico, mais tarde na Faculdade de Arquitetura de Lisboa. O ensino tomou uma dimensão muito relevante na sua vida. Acreditou e defendeu sempre que, para saber desenhar, basta aprender a gramática das artes visuais, o alfabeto da visão. E que a criatividade se estimula quando se experimenta fazer. Ensinou assim milhares de alunos a ver com olhos de desenhar.

Em 1962 foi pela 1ª vez à Bienal de Veneza, tendo ficado fortemente impressionada pelas colagens de Rauschenberg, já que, justamente nessa altura, andava a explorar as linhas de Picasso, Braque e Juan Gris. A técnica dos relacionamentos pictóricos do cubismo, adicionada às colagens e à abstração, abriram caminho e marcaram a direção de desenvolvimento do seu trabalho. Foram as suas influências culturais mais próximas que trouxeram os temas e os detalhes: as origens dos seus pais – o Minho, com a sua carga religiosa, mais erudita, e o Alentejo, de agricultores e sabedoria popular — e toda a expressão artística feminina, como os barros da Rosa Ramalho, os de Estremoz, as rendas de bilros e os objetos do seu quotidiano. Explorou as vivências e as memórias que levava guardadas no coração: a família, os lugares, os registos de viagens, os primeiros desenhos das filhas e depois dos netos, os verões na praia e o mar de que tanto gostava.

Foi desta forma que, explorando a pintura de uma forma mais abstrata, nunca deixou de contar a sua história. Cada quadro tem uma narrativa, uma viagem a um tempo de emoções e recordações, uma relação entre as suas memórias, os objetos que lhe eram queridos e as ideias que defendia. São estes temas, materializados em pinceladas delicadas e intencionais, planos intersetados que andam para cá e para lá, e linhas voadoras a completar e agarrar a composição, que caracterizam a sua pintura. Na evolução do seu trabalho, a sua expressão plástica foi-se tornando mais madura, mais solta, mais rica. Esta exposição apresenta uma coleção de pintura que concentra todo o conhecimento adquirido na sua vida de trabalho. Uma explosão de emoções, uma intensidade de luz e cor, uma mestria e um domínio singular do seu ofício. Uma homenagem à vida.

[Adaptado do texto que acompanha a exposição e que pode ser visto no original em https://www.fundacaodomluis.pt/expositions/maria-velez]

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Black Light"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Black Light”,
de Margaret Watkins
Curadoria | Anne Morin
Centro Cultural de Cascais
24 Set 2022 > 08 Jan 2023


Falar de Margaret Watkins é falar de alguém que é lembrado pelas suas contribuições inovadoras no campo da fotografia publicitária. A marca do seu génio, porém, vai muito além deste particular nicho, reconhecendo-se nela, hoje, uma figura determinante na activação de características específicas da linguagem fotográfica, permitindo que esta se tornasse, para parafrasear László Moholy-Nagy, num verdadeiro instrumento de expressão que nos ajuda a ver o mundo de outra forma, e não apenas num substituto mecânico da pintura. É isso que podemos perceber em “Black Light”, notável exposição retrospectiva da obra da fotógrafa, que até ao dia 08 de Janeiro de 2023 pode ser vista na Fundação Dom Luís I - Centro Cultural de Cascais. Retratos, paisagens, naturezas mortas, cenas de rua, trabalhos publicitários, desenhos comerciais e composições, constituem o corpo de uma mostra que engloba um conjunto de 121 imagens datadas entre 1914 e 1939, para além de documentação variada (revistas, cadernos), um documentário e uma câmera fotográfica que pertenceu à artista.

Nascida em Hamilton, na província de Ontário, em 1884, no seio de uma família de retalhistas abastados, Watkins, cedo revelou sensibilidade artística que, ainda durante a infância, desenvolveu através dos estudos de piano, do desenho e da poesia. Mais tarde, interessou-se também pela geologia, que viria a influenciar a narrativa e a textura da sua linguagem fotográfica, desenvolvida num mundo pleno de possibilidades pela diversidade de todas essas linguagens. Assim, estabeleceu um diálogo constante entre a Arte e a vida doméstica, cujo assunto e objeto se fundem num só, e utilizou este conceito ao longo da sua carreira, tanto no seu trabalho pessoal como nas suas imagens publicitárias. Watkins teve uma carreira notável como fotógrafa independente, que continuou a crescer durante os anos 20. As suas composições equilibradas e harmoniosas resultam de um extraordinário trabalho de manipulação das linhas curvas e das diferentes proporções entre o vazio e a plenitude. A sua obra ganhou visibilidade e notoriedade e foi alvo de várias exposições coletivas e individuais, a mais importante das quais teve lugar no Art Center, em Nova Iorque, em 1923.

Em 1928, Margaret Watkins decide visitar as tias em Glasgow, onde acabará por permanecer, para cuidar delas. A sua carreira entra em declínio e, embora tenha visitado outras cidades europeias na década de 30, tirando fotografias que demonstram a sua capacidade de antecipar as principais revoluções estéticas e conceptuais que se seguiriam, o trabalho da artista perdeu visibilidade de forma irremediável. Apanhada pelos eventos históricos em vésperas da Segunda Guerra Mundial, Watkins desistiu da sua carreira. Margaret Watkins morreu em Glasgow, em novembro de 1969. Pouco tempo antes, teve o cuidado de entregar ao seu jovem vizinho, Joseph Mulholland, uma caixa preta, selada, cheia de fotografias e negativos, sem o informar do conteúdo da mesma. Mulholland tornou-se, assim, por puro acaso, consignatário daquela vida incompleta, acabando por permitir que esta exposição retrospectiva da obra de Watkins se tornasse realidade. Esta visionária sem rosto e sem sombra merece o seu lugar ao lado dos grandes nomes da fotografia, para que a sua fugidia luz negra possa continuar a iluminar o caminho através do reino desconhecido da História.

[Baseado no texto curatorial de Anne Morin que acompanha a exposição]