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quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Uma Homenagem à Vida"


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EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Uma Homenagem à Vida”,
de Maria Velez
Centro Cultural de Cascais
01 Out 2022 > 29 Jan 2023

“Nasci em 1935 em Lisboa. Não fui à escola até aos dez anos por problemas de saúde. Tinha professora em casa. Aprendi francês, inglês, alemão e piano. O liceu, frequentei no Colégio Coração de Maria. Aos 15 anos queria tirar pintura, mas a esperta da minha mãe (ela também pintava e frequentava o atelier da Eduarda Lapa) aconselhou-me a tirar primeiro um curso de comércio na Escola Lusitânia para o meu pai ficar contente (...). Depois treinei-me em aulas noturnas de modelo nu na Sociedade Nacional de Belas Artes, acompanhada pelo meu irmão, que gostava de desenhar. E entrei na Escola Superior das Belas Artes. No entanto, quando me questionassem sobre o meu curso devia dizer que estudava para professora. Era mais digno. Nada de confusões.”
Maria Velez

Patente ao público no Centro Cultural de Cascais até ao próximo dia 29 de janeiro, “Uma Homenagem à Vida” reúne uma colecção de pinturas de Maria Velez, através das quais a artista se dá a ver em intimidade e beleza. Organizada com o apoio da família Velez, a mostra abre uma extraordinária janela sobre o universo da artista, permitindo perceber, através dos temas e dos pormenores das suas telas, as influências culturais, tradições e os saberes do Minho, Alentejo e a expressão artística feminina. São trabalhos que expressam plasticamente as suas vivências e as suas memórias: da família, dos lugares, das viagens que fez, dos verões que passou junto ao mar. De forma complementar, possui ainda alguns apontamentos de textos escritos pela artista sobre as suas experiências e inspirações.

Maria Velez iniciou o curso de pintura na ESBAL no final dos anos cinquenta, altura em que o programa era muito académico e fechado. Quis, por isso, logo no final do primeiro ano, passar uma temporada na Suíça onde teve oportunidade de trabalhar no atelier de um conhecido professor da Bauhaus e de acompanhar exposições de grandes mestres da pintura moderna. Começou aqui, nesta vontade de entender aquilo que está por detrás das pinceladas dos grandes pintores, uma inquietude que a acompanharia para o resto da vida. Foi esta descoberta das potencialidades da linguagem visual, este “aprender fazendo”, que a motivou para sempre e que a levou a explorar de forma autónoma, com grande persistência e curiosidade, múltiplas técnicas de desenho e pintura. Completou o curso em 1960 com dezoito valores.

Nos anos que se seguiram, conviveu com Sá Nogueira, Júlio Pomar, Alice Jorge, João Hogan, António Charrua e muitos outros. Foi nesta época, tão vibrante e tão rica em termos de trabalho e de amizades, que conheceu o escultor Fernando Conduto com quem veio a casar. Em paralelo com a pintura, começou a colaborar na loja do pai e a lecionar desenho, primeiro no ensino técnico, mais tarde na Faculdade de Arquitetura de Lisboa. O ensino tomou uma dimensão muito relevante na sua vida. Acreditou e defendeu sempre que, para saber desenhar, basta aprender a gramática das artes visuais, o alfabeto da visão. E que a criatividade se estimula quando se experimenta fazer. Ensinou assim milhares de alunos a ver com olhos de desenhar.

Em 1962 foi pela 1ª vez à Bienal de Veneza, tendo ficado fortemente impressionada pelas colagens de Rauschenberg, já que, justamente nessa altura, andava a explorar as linhas de Picasso, Braque e Juan Gris. A técnica dos relacionamentos pictóricos do cubismo, adicionada às colagens e à abstração, abriram caminho e marcaram a direção de desenvolvimento do seu trabalho. Foram as suas influências culturais mais próximas que trouxeram os temas e os detalhes: as origens dos seus pais – o Minho, com a sua carga religiosa, mais erudita, e o Alentejo, de agricultores e sabedoria popular — e toda a expressão artística feminina, como os barros da Rosa Ramalho, os de Estremoz, as rendas de bilros e os objetos do seu quotidiano. Explorou as vivências e as memórias que levava guardadas no coração: a família, os lugares, os registos de viagens, os primeiros desenhos das filhas e depois dos netos, os verões na praia e o mar de que tanto gostava.

Foi desta forma que, explorando a pintura de uma forma mais abstrata, nunca deixou de contar a sua história. Cada quadro tem uma narrativa, uma viagem a um tempo de emoções e recordações, uma relação entre as suas memórias, os objetos que lhe eram queridos e as ideias que defendia. São estes temas, materializados em pinceladas delicadas e intencionais, planos intersetados que andam para cá e para lá, e linhas voadoras a completar e agarrar a composição, que caracterizam a sua pintura. Na evolução do seu trabalho, a sua expressão plástica foi-se tornando mais madura, mais solta, mais rica. Esta exposição apresenta uma coleção de pintura que concentra todo o conhecimento adquirido na sua vida de trabalho. Uma explosão de emoções, uma intensidade de luz e cor, uma mestria e um domínio singular do seu ofício. Uma homenagem à vida.

[Adaptado do texto que acompanha a exposição e que pode ser visto no original em https://www.fundacaodomluis.pt/expositions/maria-velez]

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