Ensaio ou prólogo à sétima temporada do Shortcutz Ovar, com início agendado para o próximo dia 23 de Fevereiro, a sessão #68 constituiu uma novidade no panorama do certame. Pela primeira vez, Tiago Alves furtou-se à responsabilidade de assumir a programação, a qual recaiu sobre um júri chamado a eleger três filmes exibidos ao longo de 2022 e a construir o alinhamento da sessão com base em critérios por si definidos. Não um júri qualquer, ressalve-se, antes um Júri Jovem, com idades compreendidas entre os 16 e os 22 anos, na sua grande maioria estudantes. Do que viram, escutaram e sentiram ao longo das oito sessões em que se dividiu a temporada, terá nascido um conjunto de ideias que, após discussão certamente acalorada, conduziu à decisão final. Uma decisão que acabou por privilegiar “O Teu Nome É”, de Paulo Patrício, “Tchau Tchau”, de Cristèle Alves Meira e “Nada nas Mãos”, de Paolo Marinou-Blanco, exibidos por esta ordem.
Com a sala expande da Escola de Artes e Ofícios a registar uma magnífica moldura de público – entre indefectíveis destas sessões e um número significativo de estreantes –, “O Teu Nome” carregou de sombras o início da noite ao abordar, na forma de um documentário de animação, os contornos de que se revestiu o assassínio de Gisberta Sales, no Porto, em 2006. A morte voltou a marcar presença forte no filme de Cristèle Alves Meira, uma ficção genialmente concebida sob a égide do momento pandémico, ao encontro de uma menina que, à sua maneira, se despede do avô, contornando a dolorosa realidade da partida sem adeus e a forma como os funerais COVID-19 transformaram o luto. Em “Nada nas Mãos”, é ainda e sempre a morte a grande protagonista, aqui observada dos mais variados ângulos, inclusive do próprio morto, numa comédia mordaz, desopilante e muito, mas muito divertida.
Eduarda Terra, Sara Oliveira, Maria Silva, Jorge Azevedo e Clara Maio deram a cara pelo Júri Jovem e, à excepção desta última, ausente da sessão por compromissos relacionados com a sua vida académica, explicaram as suas escolhas, responderam às questões do público e do apresentador, Tiago Alves, e sujeitaram-se ao seu escrutínio. Exímios na arte de bem programar uma sessão de curtas, os elementos do júri souberam ir ao encontro, não necessariamente dos seus filmes favoritos, antes dos mais representativos relativamente a um conjunto de temas que marcam a actualidade e aos quais os jovens se mostram particularmente sensíveis. Fizeram-no com sensibilidade, inteligência, rigor, coerência e uma enorme maturidade. Amor e morte, preconceito e distancia, desumanização e xenofobia, violência e solidão, foram faces das muitas moedas atiradas à fonte dos desejos, na esperança de um mundo melhor. No que depender destes jovens, fica a certeza de que o seu crer e a sua vontade cedo darão os melhores frutos. A outra certeza é de que o Júri Jovem estará de regresso em 2023 e voltará a brindar-nos com mais uma sessão inesquecível.
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