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terça-feira, 9 de setembro de 2025

CERTAME: WOOL | Festival de Arte Urbana da Covilhã 2025



CERTAME: WOOL | Festival de Arte Urbana da Covilhã 2025
Vários locais, Covilhã
21 > 29 Jun 2025


Criado em 2011, o WOOL – Festival de Arte Urbana da Covilhã foi o primeiro do género em Portugal, surgindo com o objetivo de revitalizar o centro histórico da cidade através da arte urbana. O nome “WOOL” remete directamente para as histórias e memórias ligadas à Covilhã — outrora um dos grandes centros nacionais da indústria de Lanifícios —, simbolizando a relação entre a memória colectiva e a renovação do espaço urbano. Ao longo das suas doze edições, o certame tem acolhido dezenas de artistas nacionais e estrangeiros, muitos dos quais deixaram intervenções que continuam a pontuar as ruas da Covilhã, naquilo que constitui um roteiro permanente de arte urbana. A iniciativa tem vindo a posicionar a cidade como uma referência incontornável no panorama artístico português, integrando-a em redes internacionais e destacando a sua originalidade ao trabalhar directamente com o património, seja ele material ou imaterial. A distinção com o Selo de Qualidade EFFE e a classificação, em 2023, como Projecto de Interesse Cultural pelo Ministério da Cultura – que o integra no Regime do Mecenato Cultural –, são o reflexo, não apenas da qualidade artística do projecto, mas também do seu impacto social, económico e turístico para a região.

Não tendo podido acompanhar a edição deste ano do Festival durante o seu curso, no último terço do passado mês de Junho, aproveitei agora para rumar à Covilhã com o propósito exclusivo de revisitar a cidade e apreciar o que de bom o WOOL nos deixou. Perdi, claro está, uma parte importante da essência de um festival que se faz de conversas e concertos, exposições e visitas guiadas, filmes e acções comunitárias, masterclasses e workshops, residências artísticas e instalações. Pude, isso sim, visitar um conjunto de murais que, à semelhança dos anteriores, preenchem de cor e vida fachadas até então esquecidas, transformando-as em peças de arte acessíveis a todos. Mas não só murais, porquanto nesta edição o WOOL reforçou o seu carácter comunitário com uma Acção Artística orientada pela A Avó Veio Trabalhar e designada “Todos Somos o Outro”. Nele, várias dezenas de participantes construíram colectivamente uma instalação têxtil de grandes dimensões, evocando as tradições da cidade e promovendo a empatia e o encontro intergeracional. O resultado voltou a poder ser visto no decurso da FIADA – Feira Internacional de Artesanato, Design e outras Artes, que decorreu no passado fim de semana, constituindo um momento particularmente relevante pela sensibilidade, engenho e dedicação que cada um daqueles quase seiscentos retalhos encerra.

Em busca do legado do WOOL 2025, subimos a Calçada de S. Martinho, ao encontro da espanhola Lídia Cao e do seu “O Velo de Ouro”, graças ao qual a artista traz para dentro da Arte Urbana a sua faceta de ilustradora. Uma das grandes revelações deste WOOL foi a portuguesa Lígia Fernandes, pela forma sensível como abordou a infância de outros tempos, feita de tropelias e correrias, de jogos às escondidas ou ao arco, ao berlinde ou ao trinca-cevada (que era assim que se dizia quando eu era miúdo). “Verde memória” e “Naranjo para calle” são duas intervenções no espaço urbano com a assinatura do duo espanhol Ampparito, simples na aparência, mas abertas a narrativas onde predominam temas como a memória, a opressão ou a resiliência. O grego Stelios Pupet prestou tributo aos lanifícios da Covilhã com a obra “Portrait of a woven memory”, a qual pode ser vista na Rua António Augusto Aguiar. Enfim, num espaço de grandes dimensões entre dois prédios, o colectivo espanhol Boa Mistura fez nascer um mural com o título “Amor”, o qual, em si mesmo, é um abraço ao WOOL e à sua “missão de transformar pela Arte e de fazer comunidade, no cuidado e no encontro”. Para ver na Covilhã, a qualquer hora do dia... ou da noite!

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