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quinta-feira, 21 de agosto de 2025

EXPOSIÇÃO DE PINTURA E DESENHO: “Neorrealismos ou a Politização da Arte em Júlio Pomar”



EXPOSIÇÃO DE PINTURA E DESENHO: “Neorrealismos ou a Politização da Arte em Júlio Pomar”,
de Júlio Pomar
Curadoria | Afonso Dias Ramos, Mariana Pinto dos Santos
Atelier-Museu Júlio Pomar
10 Jul > 02 Nov 2025


Júlio Pomar destacou-se como uma das figuras centrais do neorrealismo português, movimento artístico e literário associado à resistência ao regime fascista. Para Pomar, o neorrealismo não era um mero estilo estético, mas uma atitude crítica e transformadora, alinhada com o ideal de “cultura integral do indivíduo” defendido por Bento de Jesus Caraça. Neste sentido, acreditava que a revolução e a liberdade só seriam possíveis através do acesso à cultura, onde a arte, a literatura e o pensamento político se revelam instrumentos fundamentais da liberdade e da revolução. Durante os anos 1940 e 1950, realizou algumas das suas obras mais conhecidas e marcantes no contexto de resistência ao fascismo, como “Almoço do Trolha”, “Gadanheiro”, “Os Carpinteiros” ou “Marcha”, utilizando também meios como a gravura e a pintura mural, valorizados pelos neorrealistas pela sua acessibilidade e força comunicativa.

Júlio Pomar refletiu ao longo da vida sobre a relação entre arte e política, não só em entrevistas e textos críticos, como também reavaliando os desafios históricos e contemporâneos à liberdade. Em 1942, já defendia a necessidade de dar voz aos artistas como agentes de mudança social e em 1945 assumia o compromisso de retratar “a realidade total”, incluindo o desagradável e o marginal. A partir dos anos 1950, Pomar iniciou uma viragem formal na sua prática artística. O seu trabalho tornou-se mais gestual e, nos anos 1960, incorporou influências da Pop Art, abrindo-se a novas experiências estéticas e técnicas. No entanto, esta evolução formal nunca significou o abandono do compromisso político. Pelo contrário, Pomar integrou a crítica social e política nas novas linguagens que adoptou, num percurso que reflete uma constante experimentação.

“Neorrealismos ou a Politização da Arte em Júlio Pomar” procura, justamente, destacar essa multiplicidade de abordagens e a complexa relação entre arte e política ao longo de mais de cinquenta anos de criação, apresentando um conjunto diverso de obras oriundas de coleções públicas e privadas, incluindo pinturas, desenhos, cartazes ilustrações e assemblages, nomeadamente os desenhos feitos na prisão de Caxias em 1947, cartazes do pós-25 de Abril e ilustrações para “A Selva”, de Ferreira de Castro. Além do valor visual das obras, a exposição sublinha a relevância do pensamento de Pomar sobre o papel da arte na sociedade. Desde cedo, o artista refletiu sobre a representação do real, a responsabilidade do artista e a arte enquanto acção vital em diálogo com o mundo. Ao longo do tempo, reavaliou os combates travados contra a ditadura e recontextualizou-os face ao desafio de defender a liberdade e a democracia. A mostra convida, assim, a uma leitura plural e actual da sua obra, reafirmando o lugar da arte como espaço de resistência, reflexão e intervenção.

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