Bárbara Fonte, Bruno Silva, Estefânia r. e Veredas apresentam Lázaro, instalação desenvolvida a partir de um processo colaborativo que teve início em 2021 e se prolongou até 2025. Tomando o Jardim de São Lázaro, no Porto, como ponto de partida, o grupo trabalhou com fotografia, performance e paisagem sonora para escutar e transfigurar o espaço público entendido aqui como lugar de fricção, memória, resistência e fabulação. Para todos, este jardim foi, e continua a ser, um lugar de fantasia visual. Entrou nas suas vidas antes da idade adulta, num tempo ainda por definir entre a infância e juventude. Lugar real, mas também moldura imaginária, Lázaro emerge agora como espaço de reencontro com esse tempo, com os seus enigmas, os seus afectos e a sua potência de reinvenção.
Nada aqui é suposto. Tudo se aventura no desequilíbrio, num território onde o caos não é ruína, mas princípio organizador. A exposição não propõe uma síntese nem uma unidade, mas uma convivência densa entre linguagens, corpos e imaginários. O colectivo afirma-se não como fusão, mas como campo de tensão onde cada gesto se inscreve com a sua singularidade. Lázaro não representa: convoca. Recria um espaço onde o real e o imaginado se contaminam, onde a cidade se torna matéria viva de escuta e reconfiguração. A instalação emerge como corpo aberto, numa espécie de organismo em variação contínua, onde dispositivos e narrativas se implicam mutuamente, sem hierarquia. Entre camadas visíveis e latências sonoras, entre presença e rasto, entre anjos caídos e promessas de ressurreição, Lázaro evoca uma entrega radical: talvez uma petite mort, talvez uma folia, talvez o abandono necessário à metamorfose.
[Extraído da Folha de Sala da exposição]
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