Demonstrativas de uma dinâmica imparável, as Propostas Fotográficas do iNstantes - Associação Cultural prosseguem no seu desígnio de explorar as múltiplas camadas de que se reveste a Fotografia, dar a conhecer o trabalho de um vasto conjunto de autores e abrir espaço a novos olhares, novos géneros, novas tendências. É neste âmbito que podemos apreciar “A Magia da Arquitectura”, série de imagens da fotógrafa portuguesa, radicada na Holanda, Ana Carvalho, e que pode ser apreciada, até ao final do mês, na Casa da Cultura de Avintes. Os mais atentos lembrar-se-ão que foi nesta mesma Casa que Ana Carvalho expôs as suas “Paisagens Impossíveis”, na edição de 2020 do iNstantes - Festival Internacional de Fotografia de Avintes. E se, já então, a fotógrafa endereçava o convite a que se percebesse onde terminava a realidade representada e tinha início um fascinante mergulho na abstracção, desta feita insiste no desafio e amplia-o, apresentando uma sequência de fotografias que, pontuadas pelo real, tendem a parecer o que não são.
Ana Carvalho considera-se “uma pessoa com sorte”. Desde 2019 a viver em Almere, cerca de trinta quilómetros a leste de Amsterdão, rapidamente percebeu estar perante um laboratório de ensaio de modernas técnicas construtivas e arrojados projectos arquitectónicos em terrenos conquistados ao mar. Por se tratar da mais nova cidade dos Países Baixos - a sua primeira casa só ficou concluída em 1976 -, o visitante não deve esperar fortalezas milenares, canais medievais, palácios renascentistas. Mas Almere faz as delícias dos amantes da arquitectura em edifícios icónicos como “The Wave”, “Side by Side”, “La Defense”, “Rooie Donders”, a extravagante “Casa Mirador”, a torre residencial “Flores” ou o especialíssimo “De Smaragd”. Neles encontra as assinaturas de renomados arquitectos como Liesbeth van der Pol, Rem Koolhaas (o mesmo da Casa da Música, no Porto), René van Zuuk ou Herman Hertzberger. É sobre as suas ruas e praças, as margens dos seus canais ou os espaços abertos ao mar, que Ana Carvalho lança a sua atenção, ao encontro das formas e da geometria, dos elementos contrastantes, dos jogos de luz que constantemente se lhe oferecem. Uma atenção transformada em obsessão pelo hermetismo das estruturas, a essência do detalhe e uma esmagadora riqueza visual.
Os seguidores de Ana Carvalho nas redes sociais conhecem o seu fascínio pelo distanciamento do real em busca de novas realidades. Neste processo, importa aquilo que a artista faz com duas (ou mais) imagens consonantes, tornadas dissonantes pela simples mudança de perspectiva. O fascínio estende-se ao observador, entregue ao “jogo” de descobrir os artifícios que cada uma das imagens carrega… ou não. A colagem funciona como catalisador dos processos de transformação do real, um recurso de meta-arquitectura que reforça a sua beleza e fascínio. Mas nem só de colagens vive a exposição, com a artista a deslocar o eixo do jogo para o detalhe, num convite a encontrar o verdadeiro sentido da imagem. É ela que nos interroga: O óculo da fachada de um prédio ou a fuselagem de um avião? Uma janela de vidro martelado ou uma ponte? Os elementos futuristas do filme “Blade Runner” ou um dos pilares da Ponte 25 de Abril? A cada um a sua interpretação, mas para isso é preciso ver a exposição, ao encontro de um apurado sentido estético, uma enorme imaginação e muito humor. Garantidos estão momentos de reflexão, de espanto e da mais pura diversão. Só até 31 de Julho!
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