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sábado, 26 de julho de 2025

CINEMA: "A Uma Terra Desconhecida" | Mahdi Fleifel



CINEMA: “A Uma Terra Desconhecida” / “To a Land Unknown”
Realização | Mahdi Fleifel
Argumento | Mahdi Fleifel, Fyzal Boulifa, Jason McColgan
Fotografia | Thodoris Mihopoulos
Montagem | Halim Sabbagh
Interpretação | Mahmoud Bakri, Aram Sabbah, Angeliki Papoulia, Mohammad Alsurafa, Mouataz Alshaltouh, Mohammad Ghassan, Mondher Rayahneh, Manal Awad, Munther Reyahneh
Produção | Geoff Arbourne, Mahdi Fleifel
Reino Unido, França, Alemanha, Países Baixos, Grécia, Dinamarca, Catar, Arábia Saudita, Território Palestiniano Ocupado | 2024 | Crime, Thriller | 105 Minutos | Maiores de 14 Anos
Vida Ovar – Castello Lopes
25 Jul 2025 | sex | 14:30


Dirigido por Mahdi Fleifel, “A Uma Terra Desconhecida” conta a história de dois primos palestinianos, Chatila e Reda, vagueando pela cidade de Atenas, enquanto buscam desesperadamente encontrar um meio de poder chegar à Alemanha. Numa cidade onde o trabalho é escasso, não ter documentos representa um enorme desafio, obrigando-os a recorrer ao roubo ou à prostituição como forma de ganhar o dinheiro que lhes permita prosseguir viagem rumo ao eldorado europeu e ainda enviar algum para os familiares próximos que permanecem na Palestina. De revés em revés, o sonho dos dois primos parece esvair-se a cada novo dia. A sucessão de episódios afunda a esperança, mas não consegue quebrar a teimosa resiliência que partilham. O quotidiano transforma-se numa jornada de agonia, raiva e desespero, espelho intenso e vivo da difícil situação dos refugiados que chegam à Europa na expectativa de uma vida melhor.

Por meio de uma narrativa concisa e de interpretações realistas, “A Uma Terra Desconhecida” explora a verdade nua e crua dos refugiados sem lar ou cidadania. Num dia a dia feito de privações, medo e expedientes, bastam os obstáculos mais simples que se atravessam continuamente no caminho das personagens para fornecer ao filme toda a tensão de que necessita. Tendo-se a si mesmos como único suporte, Chatila e Reda devem ainda enfrentar aqueles que sombriamente emergem para lucrar com o sofrimento alheio. Com um ritmo constante, a história mergulha habilmente nas lutas das personagens, tirando o maior partido das camadas subtis que se abrigam nas impressões iniciais: Os traumas de infância, o instinto de sobrevivência, a vontade férrea, as boas memórias. Perfeitamente equilibrado, o filme traz à tona a humanidade em toda a sua complexidade, revelando um enraizamento profundo na verdade das emoções.

Empenhado em mostrar de que forma a vontade de seguir em frente pode prevalecer até mesmo nas circunstâncias mais sombrias, o filme coloca em primeiro plano os dramas pessoais, em detrimento das questões políticas subjacentes. Identificar o que alimenta a migração e a experiência dos refugiados constitui uma importante camada conceptual, a tão desejada assimilação a um país estrangeiro a revelar-se literalmente impossível quando todos os direitos são negados. Mahdi Fleifel, ele próprio residente de um campo de refugiados no Líbano durante a sua meninice, investe emocionalmente no apego à distante terra natal e às referências culturais – da comida aos relacionamentos – forçando o espectador a mergulhar na natureza desumanizadora de um mundo que reduz os indivíduos a menos que nada, negando-lhes o lugar e as condições para se poderem estabelecer e criar raízes. Numa paisagem global cada vez mais fragmentada, “A Uma Terra Desconhecida” constitui uma experiência cinematográfica impactante, geradora de uma forte empatia com aqueles que vêem as suas vidas reduzidas aos impulsos básicos de sobrevivência e união.

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