EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Hiding from Baba Yaga”,
de Nanna Heitmann
100 Anos da Leica I - O Mundo Através do Visor
Curadoria | Magda Pinto
Museu Nacional Soares dos Reis
24 Mai > 13 Jul 2025
Bruxa imprevisível e perigosa, Baba Yaga vive numa pequena cabana no meio da floresta. Um dia, aprisiona uma jovem chamada Vaselisa, que acabará por escapar da cabana de Baba Yaga com a ajuda de um gato preto e magro. Enquanto é perseguida pela bruxa, Vaselisa lembra-se do conselho dado pelo gato e, assim, deixa cair uma toalha e um pente atrás de si. Imediatamente, um rio largo e profundo irrompe no local, tendo nas suas margens uma floresta tão vasta e densa que acabará por travar a progressão da malvada bruxa. Bem-vindos às margens infinitas do Ienissei, um rio aparentemente sem fim, cercado por florestas encantadas e pessoas em busca de liberdade. Na série que lhe valeu o Prémio Revelação Leica Oscar Barnack, em 2019, a fotógrafa documental germano-russa Nanna Heitmann registou a vida ao longo das margens do Rio Ienissei, um dos cursos de água mais longos do mundo com os seus quatro mil quilómetros de extensão. Foi ele o fio condutor de um trabalho atento, intenso e sensível, que nos convida a viajar pelo infindável reino de mitos que é a Sibéria.
O impulso inicial para o projecto surgiu durante uma temporada passada em Tomsk, na qual Nanna Heitmann tomou consciência de uma Rússia muito diferente daquela que conhecera dos filmes infantis soviéticos e contos de fadas eslavos. Apesar da mãe ser russa, para a fotógrafa a Rússia, à excepção de Moscovo, não passava de um grande espaço em branco no mapa. Decidiu, então, passar seis meses na cidade de Tomsk, na Sibéria, e foi lá que conheceu Baba Yaga, figura do folclore eslavo que dá o título a esta série fotográfica. A estadia serviu para proceder à documentação sistemática da vida ao longo do rio e da mitologia da região. Em busca de imagens oníricas, a artista pediu emprestado um jipe russo, encheu-o com todos os materiais necessários para acampar e conduziu na direcção da República de Tuva, no sul da Sibéria. Com um conjunto de imagens inspiradoras em mente e lugares que queria ver ao longo do caminho, rumou a esta região remota, na fronteira com a Mongólia, ao encontro da nascente do Ienissei.
Ao acompanhar o curso do rio, vendo-o serpentear para o norte até finalmente desaguar no Oceano Ártico, Nanna Heitmann atravessou a árida região selvagem da taiga siberiana, rica em mitos e rituais antigos. Mestres da pintura russa foram uma importante revelação visual para a artista, em particular Ivan Bilibin, ilustrador de antigos contos de fadas russos, e Mikhail Nesterov, cujas pinturas simbólicas na Galeria Tretyakov, em Moscovo, tanto a tinham encantado na infância. Esses artistas desenvolveram as suas pinturas magicamente sugestivas, baseado-as em esquemas de cores suaves que contam histórias de um mundo estranhamente misterioso. Nelas colheu a artista a inspiração para dar a ver o seu fascínio por aqueles que sabem encontrar na vastidão da Sibéria o espaço certo para viver de acordo com os seus próprios ideais. Também Heitmann tem o seu Yuri a morar não muito longe das margens do Ienissei, numa cabana construída sobre uma lixeira, onde pode viver de forma inteiramente livre. Para ver no Museu Nacional Soares dos Reis, até 13 de Julho.
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