EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Claudia Andujar & Os Yanomami”,
de Claudia Andujar
Curadoria | Thyago Nogueira
Bienal ’25 Fotografia do Porto
Centro Português de Fotografia
15 Mai > 29 Jun 2025
Claudia Andujar nasceu na Suíça em 1931 e cresceu na Transilvânia numa família de origem judaica e protestante. Sobrevivente do holocausto, estabeleceu-se no Brasil em 1955, onde começou uma carreira de sucesso como fotojornalista, vindo a desenvolver um corpo de trabalho focado em comunidades marginalizadas e vulneráveis. Em 1971, a artista encontrou os Yanomami pela primeira vez, compondo uma série de registos para a revista “Realidade”. Nos seis anos seguintes, Claudia Andujar desenvolveu um extenso projecto fotográfico com este povo, distanciando-se do estilo documental para experimentar novas técnicas fotográficas. Nesse período, fotografou os elementos da comunidade nas suas casas colectivas e acompanhou-os na floresta nas mais diversas actividades, da apanha de frutos às expedições de caça. O animismo fascinou-a, levando-a a esforçar-se por evocar visualmente a experiência xamânica. Adoptou uma lente grande-angular, aplicando vaselina na lente de sua câmara, e usou filme infra-vermelho e filtros coloridos, com o propósito de imbuir as imagens de uma atmosfera onírica. Fez também múltiplas exposições, para sobrepor várias cenas no mesmo quadro, sugerindo a presença de muitas pessoas e a conexão espiritual partilhada.
No começo dos anos 1970, a ditadura militar brasileira lançou um programa com o objectivo de abrir a Amazónia e explorar os seus recursos minerais e agropecuários. A situação deteriora-se rapidamente quando as terras Yanomami são invadidas por quarenta mil garimpeiros. Mais de 15% da população morre de malária e outras doenças. Andujar enceta uma campanha de denuncia desta situação, sendo expulsa do território pelo governo militar. Esta decisão apenas reforçou o seu activismo, levando-a a colocar de lado a carreira artística para se dedicar à defesa dos direitos territoriais e culturais dos povos indígenas através da criação da Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY). Em 1980, a CCPY inicia uma campanha de vacinação como parte de um programa de saúde para imunizar os Yanomami contra as doenças trazidas, como tuberculose, malária, coqueluche e gripe. Para facilitar a identificação das pessoas de diferentes comunidades, os médicos desenvolveram um sistema em que cada indivíduo era fotografado com uma placa em volta do pescoço indicando o seu número no boletim de saúde. Em 2005, impactada ao perceber que as placas com números poderiam ser associadas às estrelas amarelas e tatuagens das vítimas do Holocausto, Andujar revisitou esses retratos, desenhando um paralelismo com a sua própria experiência.
Nesta exposição agora patente na Sala Aurélio da Paz dos Reis do Centro Português de Fotografia, é possível acompanhar o trabalho da fotógrafa nas várias fases do seu envolvimento com a comunidade Yanomami, desde a descoberta de uma nova cultura ao amadurecimento do seu trabalho, à medida que foi passando mais tempo na floresta. Em seis ecrãs de grandes dimensões, as imagens vão-se sucedendo e relacionando-se entre si, acrescentando novos significados à fotografia da artista. Na mente do visitante fica um corpo de trabalho que se faz de resistência e luta, mas também de respeito pelo modo de vida das minorias indígenas. A instalação divide-se em dois momentos, o primeiro dos quais tem a ver com o trabalho inicial da artista, o qual traduz a beleza e complexidade da vida na floresta e a espiritualidade xamânica. Num segundo momento, acompanhamos o trabalho de reprodução fotográfica do seu arquivo, nos anos 1980, para protestar contra a demarcação fragmentada da Terra indígena Yanomami, sendo a demarcação contínua apenas homologada pelo governo em 1992. A exposição serve também de plataforma para que o povo Yanomami seja visto e ouvido fora do seu território, num momento em que a violência contra os povos indígenas e a crise climática global ameaçam as suas vidas.
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