TERTÚLIA / ESCUTA COMENTADA: “Oxímoro”,
de João Martins
Museu Júlio Dinis - Uma Casa Ovarense
01 Mai 2025 | qui | 10:30
oximoro |csimó|
(o·xi·mo·ro)
nome masculino
Combinação engenhosa de palavras cujo sentido literal é contraditório ou incongruente (ex: silêncio ensurdecedor é um oximoro). = OXÍMORO, OXÍMORON, OXIMÓRON
Origem etimológica: latim tardio oxymorum, -i, do grego oxúmoron, -ou.
“Oximoro”
in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
O Dia do Trabalhador deu azo a que João Martins pusesse mãos à obra e apresentasse, no ambiente acolhedor e intimista do Museu Júlio Dinis, “Oximoro”, o seu terceiro álbum de estúdio, com edição do Carimbo Porta-Jazz. Ao invés de um formalíssimo concerto, o músico optou por dar a conhecer o álbum através de passagens seleccionadas, revelando o seu conceito, a razão de ser dos títulos dos oito temas que integram o trabalho, as curiosidades que várias das suas passagens abrigam, a aventura do acto de compor, a articulação com os restantes músicos, alguns pormenores da gravação do álbum nos estúdios do CARA - Centro de Alto Rendimento Artístico, o invulgar desenho da capa do álbum, da autoria de Maria Mónica, ou o momento ansiosamente aguardado da sua apresentação ao público, no passado dia 9 de Abril, no portuense espaço Porta-Jazz. Foi uma conversa animada que envolveu Laura Rui, voz do álbum e que também emprestou a sua colaboração ao nível dos sintetizadores, e que teve na interacção com o público um elemento da maior riqueza e dinamismo.
“Como se fosse a apresentação de um livro, só que em versão áudio”. Foi desta forma que João Martins começou por explicar o pressuposto da sessão, na expectativa de que ninguém tivesse vindo ao engano. Poucos, mas bons, os espectadores começaram por ouvi-lo falar do título do álbum, desse “oximoro”, palavra que desconhecia mas que, muito casualmente, serviu na perfeição à intenção do músico em criar um trabalho “que estudasse os opostos, os paradoxos”. Inspirados neste conceito, os temas foram sendo compostos e os títulos surgiram quase naturalmente. “Os Pequenos Passos do Gigante” é o tema de abertura do disco, com o trabalho do sintetizador a sugerir estes pequenos passos, agigantados graças à duração do tema. “Dicotomia Singular”, o tema seguinte, fala do diálogo entre os saxofones de Fábio Almeida e Gabriel Neves, enquanto “Profundamente Superficial” tem a ver com a forma como João Martins sente a diferença entre as várias texturas do tema, acentuadas pelo trabalho de Nuno Trocado na guitarra eléctrica.
Incongruência das incongruências, “A Dança Sem Movimento” é um “bolero camuflado” cujo som vive em parte de uma caixa de ritmos. “Diversificado Incongruente” é a excepção que confirma a regra, já que o título não encerra um oximoro, embora se encaixe na conceptualidade do álbum ao falar das dificuldades que o trabalho de composição implica. “Ligados pela Interrupção” reflecte os silêncios que também são música, ao passo que “O Acaso Planeado”, a balada do álbum, parte de uma base rítmica à qual cada músico deveria acrescentar um tom (embora na prática as coisas não se passassem exactamente assim) e tem numa máquina de escrever um original instrumento. “A Turbulência da Serenidade” é um título que se explica por si só, antecipando um tema onde as diferenças de ritmo, som e textura são notórias. A conversa progrediu entre o que é jazz e o que não é jazz, os espaços para a experimentação e a improvisação, a voz sem poema e os poemas sem voz, o poder catalisador da bateria, os desafios de um estúdio de gravação, uma residência artística que percorreu uma tanoaria, o interior de uma igreja ou o seio de uma floresta. Um momento enriquecedor a muitos títulos, ficando a aguardar-se a sequência lógica desta tertúlia: o concerto de apresentação de "Oximoro" na cidade de Ovar.
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