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terça-feira, 6 de maio de 2025

CERTAME: iNstantes - Festival Internacional de Fotografia de Avintes 2025



CERTAME: iNstantes - Festival Internacional de Fotografia de Avintes 2025
Vários artistas
Curadoria | Pereira Lopes
Organização | iNstantes - Associação Cultural
Avintes, Braga, Lourosa, Valadares e Vila Nova de Gaia
02 Mai > 31 Mai 2024


Inaugurado no passado dia 02 de Maio, o iNstantes - Festival Internacional de Fotografia de Avintes volta a atrair as atenções dos amantes e curiosos da fotografia, trazendo a doze espaços dos concelhos de Vila Nova de Gaia, Santa Maria da Feira e Braga os olhares de 55 fotógrafos de onze países. Como vem sendo hábito, o dia de sábado foi dedicado à visita às exposições, reunindo quase uma centena de interessados que tiveram, assim, a oportunidade de juntar ao lado artístico a dimensão social, transformando o dia num momento especial de aprendizagem e convívio. O dia começou com a visita à exposição intitulada “Sal da Terra”, do egípcio Loai Zedan, patente na Casa da Cultura de Lourosa, e que documenta o trabalho agrícola em torno do trigo, do algodão ou da vinha nas férteis regiões banhadas pelo rio Nilo. Estreia muito saudada enquanto espaço expositivo do iNstantes, a Biblioteca Municipal de Gaia acolhe o trabalho de quatro fotógrafos, com propostas muito distintas entre si. Natural de Barcelona mas há muito radicado na cidade do Porto, Eduardo Perez Sanchez mostra-nos a sua “Fotografia de Cena”, conjunto de imagens captadas entre o início dos anos de 1980 e o presente, representativas de diferentes formas de expressão teatral, dança ou, de uma forma mais geral, manifestações de Arte Cénica.

Da série “sente-se (sentar-se e sentir-se num banco de assento)”, Miguel Louro apresenta, também na Biblioteca Municipal de Gaia, uma das suas quatro exposições de “Platinotipias”, expoente máximo da impressão fotográfica a preto e branco. No mesmo local, a fotógrafa brasileira Paula Sampaio traz-nos o projecto “O Lago do Esquecimento”, conjunto de imagens captadas desde 2011 na região do lago de Tucuruí (PA), verdadeiro cemitério de árvores vítimas da retenção das águas do rio Tocantins para a construção de uma central hidroeléctrica. Também na Biblioteca, Sérgio Santos mostra o porquê do mar ser “o último sítio livre do mundo” (Ernest Hemingway), ao apresentar “Abismos de cor: a magia subaquática”, magnífico conjunto de imagens que documentam ecossistemas marinhos e exploram a beleza que se abriga em várias áreas do Atlântico, Caraíbas, Mediterrâneo, mar Vermelho e oceano Índico. Fugindo ao itinerário da visita, uma rápida incursão no bonito e bem cuidado espaço do Centro de Reabilitação do Norte, outra novidade no mapa das exposições, permite apreciar um muito inspirador “Curar Feridas”, trabalho do fotógrafo galego Xacobe Meléndrez Fassbender, através do qual reflecte sobre o tempo recente, vivido durante a pandemia de COVID-19.

A Junta de Freguesia de Avintes volta a abrir as suas portas ao Festival e à parceria entre fotógrafos de Portugal e da Finlândia. Subordinada ao tema “Ambiente Digital”, a exposição colectiva abrange o olhar de dezanove fotógrafos e pretende assinalar o Ano Europeu da Educação para a Cidadania Digital, conforme declaração do Conselho Europeu. Na Fundação Joaquim Oliveira Lopes, Hélder Luís mostra “Atlântico”, conjunto soberbo de imagens que documentam duas viagens a bordo do Íris do Mar, barco de pesca registado em Ponta Delgada. Do mesmo fotógrafo, na Pérgula do Largo do Palheirinho, “Rumo à Pesca” segue a linha do projecto anterior, olhando um barco da pesca do cerco dos mais antigos (e eficazes) a operar em Portugal. Num dos espaços dos Plebeus Avintenses, a espanhola Nati Esmel expõe “Analógica / Digital”, série de registos feitos ao longo do seu percurso fotográfico, entre 1977 e 2023, representativos de uma maneira singular de sentir e fazer fotografia. Noutro novo espaço desta décima segunda edição do iNstantes, o CCDR Adriano Correia de Oliveira, Leonor de Blas, fotógrafa documental independente radicada no Paraguai, mostra “Memórias do Corpo”, cartografia de histórias íntimas que provam que não existe corpo que não contenha beleza.

Os Bombeiros Voluntários de Avintes acolhem sete das vinte e três exposições que compõem o certame. “A terra dos filhos do sol - Desafio do povo Xokleng”, do brasileiro Anderson Coelho, fala da luta do povo Laklãnõ-Xokleng que, como todos os povos indígenas do Brasil, procura preservar a sua identidade cultural e defender o território. “Carmela”, do uruguaio Fede Ruiz Santesteban, reconstrói uma história familiar atravessada pela migração e pelo cultivo da terra como evocação, memória e legado. Em “Artistas de Rua”, o norte-americano Joe Votano mostra o trabalho daqueles que fornecem entretenimento aos transeuntes, animando as ruas e praças das nossas cidades. Jorge Alves apresenta “Entre Cidades”, conjunto de imagens que mostram como “luz e trevas coexistem para criar profundidade e emoção, tanto na fotografia quanto na vida”. Do norte-americano Ken Carlson podemos ver “Sombras no Deserto”, conjunto de imagens que destacam o valor das sombras como ferramenta para fotografar, mas também como forma de expressão da própria fotografia. O brasileiro Paulo Heise faz de “Luzes Líquidas” a sua maneira de contar histórias. Finalmente, o macaense Tang Kuok Hou apresenta “Here we go again”, projecto que procura redefinir a imagem monótona da cidade, integrando todos os seus elementos numa representação visual coesa que abrange pessoas, comunidade, cultura local, natureza e memórias pessoais.

A visita terminou na Casa da Cultura de Avintes, onde está instalada a sede do iNstantes - Associação Cultural. São quatro as exposições que aqui podem ser vistas, mas antes falarei de dois projectos que, integrando o Festival em espaços distintos dos mencionados, merecem igualmente uma referência. Um denomina-se “Metamorphosis” e contempla uma oportuna reflexão sobre as tensões entre tradição e modernidade em três comunidades rurais do concelho de Góis, pelo olhar atento de António Luís Moreira (filme) e Carmen Serejo (livro). O outro direcciona-nos para a Universidade do Minho, em Braga, onde a paraguaia Jessica Isfrán Perez mostra “Quantas recordações guarda a memória?”, ensaio fotográfico sobre a vida de Liz Paola Cortaza, uma mulher trans de 64 anos que viveu a maior parte da sua vida e início da sua transição de género durante a Ditadura Militar no Paraguai. Da espanhola Beni Pons Villalonga podemos ver, na Casa da Cultura de Avintes, “Arquitecturas subjectivas”, narrativa visual a partir de elementos objetivos, onde a arquitetura se transforma num inesperado jogo de linhas, cores, contrastes e composições. “A presença da matriz portuguesa em Macau, nas imagens entre tempos” é outra das exposições patentes neste espaço, através da qual o colectivo Halftone - Macau Photographic Association olha o território de Macau, “o dragão aparentemente tranquilo, mas sempre acordado”. Iván Castiblanco Ramirez, fotógrafo colombiano, traz-nos “Corpo (des)medido / Corpo perdido” e a ideia do corpo como um novo objecto de consumo. Enfim, “Aos olhos de Eduardo” encerra esta visita guiada com um conjunto de imagens a preto e branco de Eduardo Teixeira Pinto, representativas do percurso do autor amarantino que nos deixou no início de 2009.

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