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quinta-feira, 15 de maio de 2025

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “A Terra dos Filhos do Sol – Desafio do Povo Xokleng” | Anderson Coelho



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “A Terra dos Filhos do Sol – Desafio do Povo Xokleng”,
de Anderson Coelho
iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes 2025
Bombeiros Voluntários de Avintes
02 Mai > 31 Maio 2025


Foi com emoção e júbilo que o povo Laklãnõ-Xokleng viu, no dia 21 de Setembro de 2023, o Supremo Tribunal Federal do Brasil colocar um ponto final na lei indigna do Marco Temporal, devolvendo aos povos indígenas a justiça e o respeito pelos seus direitos. Originários de uma vasta região inserida nos Estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, os Laklãnõ-Xokleng enfrentam uma histórica perseguição desde o século XIX, quando teve início o processo de colonização e ocupação de terras no sul do Brasil levado a cabo por bugreiros contratados para dizimar os indígenas - então pejorativamente chamados de “bugres”. Os ciclos de violência, porém, nunca cessaram, sendo o Marco Temporal - uma interpretação ruralista que estabeleceu a data de 5 de outubro de 1988 como limite para o reconhecimento da ocupação tradicional indígena no país – o mais recente atentado à comunidade. Ora, os Laklãnõ-Xokleng não ocupavam as suas terras apenas e só porque estavam impedidos de o fazer por força das circunstâncias que marcam a sua história naquele território. Com o acórdão do Supremo, não só foi feita justiça, abrindo portas à demarcação definitiva da TI Ibirama-La Klãnõ, como se reconheceram ciclos consecutivos de violência praticados contra os Xokleng, com a participação directa do Estado brasileiro.

Os ecos dos festejos faziam-se sentir ainda quando nova tragédia sobreveio aos Laklãnõ-Xokleng. Na noite de 13 de outubro de 2023, a comunidade enfrentou uma cheia sem precedentes, causada pelo fecho, com recurso à força policial, das comportas do reservatório da Barragem Norte. Mais de trezentas pessoas viram as suas casas invadidas pelas águas e as suas aldeias isoladas, sendo forçadas a deslocar-se para áreas seguras, uma saga que se repete desde a década de 1970, a cada nova cheia. Sem acesso à água potável, alimentos básicos e instalações sanitárias nos abrigos onde se socorreram, as pessoas reclamaram da atitude do Governo Federal que tem, sistematicamente, mostrado a sua prepotência no tratamento dado aos indígenas com a construção da barragem na década de 70. É que a Barragem Norte não só veio reduzir drasticamente as áreas agrícolas e habitacionais, como degradou o rio, provocando cheias no inverno e impondo secas nas restantes estações. Acresce que a barragem e a sua zona de impacto estão dentro dos parcos 15% de área “útil” que resta das expropriações do território tradicional Xokleng.

Ensaio fotográfico de enorme relevância, “A terra dos filhos do sol – O Desafio do povo Xokleng” é uma pequena mostra dos embates que estes povos indígenas do sul do Brasil enfrentam para poder sobreviver. Na sua força e na sua luta, eles tipificam as minorias esmagadas pela opressão capitalista na sua sede de mais dinheiro e mais poder. Inscrita na 12.ª edição do iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes, a exposição oferece pistas importantes sobre o viver e o sentir destas comunidades, dando a ver um conjunto de imagens de cunho documental reveladoras de um quotidiano intimamente ligado à mãe-natureza, uma cultura e uma tradição devedoras de práticas ancestrais, a riqueza que um curso de rio ou uma floresta de araucárias encerram. Mas Anderson Coelho não esconde, antes releva, a outra face da moeda: a revolta de quem rejeita viver na situação de refugiado no seu próprio território e clama por liberdade e por justiça. De forma honesta e genuína, “A terra dos filhos do sol – Desafio do povo Xokleng” convida-nos a olharmos a beleza que se esconde nas coisas mais simples e a entendermos o quão melhor seria este mundo se livre de exploradores e opressores. Para ver até ao final deste mês de Maio.

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