EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Sente-se II”,
de Miguel Louro
iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes 2025
Biblioteca Pública Municipal de Vila Nova de Gaia
02 Mai > 31 Maio 2025
“[A Platinotipia] é o Rolls Royce dos processos fotográficos.”
Manuel Gomes Teixeira
Em 2024, o iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes ofereceu aos visitantes uma pérola designada “Memórias”, mostra de valor incalculável composta por vinte placas de vidro, cujos positivos permitiram recordar o quotidiano das vinhas do Douro nos primórdios do século XX, desde a colheita nas encostas debruçadas sobre o rio até ao momento da exportação para os mais diversos mercados do muito apreciado Vinho do Porto. Um ano volvido, a organização do Festival volta a cumprir o desígnio de mostrar a fotografia nas suas mais variadas vertentes - conceptuais, estéticas, orgânicas ou filosóficas -, convidando-nos a apreciar o trabalho do médico e fotógrafo Miguel Louro, especialista em Medicina do Trabalho e Medicina Geral e Familiar e que completa, em 2025, cinquenta anos de carreira fotográfica. Além do significado e interesse das imagens, o grande valor da série intitulada “Sente-se II” (“sentar e sentir-se num banco de assento") reside na Platinotipia, expoente máximo da impressão das fotografias a preto e branco no mundo, e que tem em Miguel Louro um dos raríssimos cultores desta técnica no nosso país.
A impressão em Platina tem uma longa tradição, remontando ao início da história da fotografia, apesar da primeira patente do processo só ter sido registada em Inglaterra em 1873 por William Willis. Fotógrafos como Frederick Evans, Paul Strand, Alfred Stieglitz, Edward Weston ou Irving Penn, foram alguns dos mais importantes utilizadores desta técnica. Os procedimentos de impressão iniciam-se com a escolha criteriosa de um papel de alta qualidade, de algodão puro, seguindo-se o seu emulsionamento com uma solução especial de sais de platina e paládio. A segunda etapa consiste em expor o papel a luz ultra-violeta em contacto com o negativo do mesmo tamanho da prova, sendo posteriormente processada e lavada. De todo este processo resulta uma imagem com uma inconfundível atmosfera, formada unicamente com micropartículas metálicas de platina e paládio puros, embebidas nas fibras do papel e sem qualquer substrato adicional. As imagens tornam-se tão permanentes como o papel que lhes serve de suporte, podendo a sua duração, em perfeitas condições, ser avaliada na ordem das centenas de anos.
Seja em Toronto ou Reiquiavique, em Havana ou Nova Iorque, na Patagónia ou em Freixo de Espada à Cinta, as imagens têm em comum o facto de nelas haver um ou mais bancos. Simples ou estilizados, utilitários ou decorativos, vazios ou com gente, num parque de merendas ou à porta de uma loja, eles aí estão a convidar ao descanso e ao relaxamento. Apesar do vidro que cobre as fotografias lhes roubar detalhe e acrescentar indesejáveis reflexos, olhamos para o conjunto de imagens, podemos apreciar as subtis variações de uma riquíssima paleta de cinzentos, a gama tonal muito extensa e delicada e a sensação de tridimensionalidade e outros atributos menos tangíveis que revestem o trabalho de Miguel Louro e lhe acrescentam um carácter e uma luminosidade únicos. A irregularidade dos bordos das composições e as legendas delicadamente escritas à mão remetem para uma certa artesania de processos que confere a cada imagem um carácter autoral único. “Sente-se II” pode agora ser vista na Biblioteca Pública Municipal de Vila Nova de Gaia e, como se percebe, oferece aos amantes da fotografia uma possibilidade única de relacionamento com uma técnica de enorme efeito. Para ver até 31 de Maio.
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