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sábado, 17 de maio de 2025

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Aos Olhos de Eduardo” | Eduardo Teixeira Pinto



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Aos Olhos de Eduardo”,
de Eduardo Teixeira Pinto
iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes 2025
Casa da Cultura de Avintes
02 Mai > 31 Maio 2025


“ (...) Na boca descansava um cigarro já moribundo e nas mãos uma máquina muito esquisita. Chamam-lhe Eduardo e dizem que é fotógrafo.”
Pedro Basto, in “Testemunhos” [https://www.eduardoteixeirapinto.com/]

Num mundo dominado por novas tecnologias em constante evolução, é com admiração e alguma perplexidade que assistimos ao ressurgimento do interesse pelas fotografias antigas, também designadas “vintage”. É quase paradoxal que, na era do digital, onde tudo é instantâneo e descartável, as pessoas sejam cada vez mais atraídas pelo processo lento e deliberado da captura do momento, sabendo que aquelas imagens foram feitas, as mais das vezes, com base em mecanismos rudimentares. O que há de mágico nestas imagens antigas é que elas evocam uma sensação de nostalgia, transportando-nos de volta a uma época em que cada fotografia era uma obra de arte tangível. Ao contrário das fotos digitais modernas, que podem ser infinitamente editadas e filtradas, as fotografias vintage carregam o peso da autenticidade. As suas imperfeições – demasiado grão, nitidez deficiente, excesso ou ausência de luminosidade - são aquilo que as torna tão cativantes, ao mesmo tempo que nos dizem da passagem do tempo e da beleza de momentos que jamais serão replicados.

Estão neste caso as imagens de Eduardo Teixeira Pinto, reunidas sob o título “Aos Olhos de Eduardo”, e que podem ser apreciadas na Casa da Cultura de Avintes. Joia da coroa da décima segunda edição do iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes, a mostra reúne um conjunto de fotografias a preto e branco, representativas do percurso do autor. Através delas, recuamos às décadas de 50, 60 e 70 do século passado, ao encontro da então Vila de Amarante e de um modo de vida particularmente ligado à terra e ao rio. As crianças que jogam ao arco ou ao pião, as vendedeiras no mercado, os carros de bois carregados de pipas de vinho, os barcos a remos que cruzam o rio, a roupa estendida nos varais, um pescador solitário ou o fogo dos festejos trazem-nos um tempo que quase se palpa e sente, de tal forma a sensibilidade do artista se mostra capaz de tamanho milagre. O foco suave, os tons monocromáticos e a iluminação única são marcas da assinatura autoral que, de mãos dadas com a beleza dos motivos e a riqueza dos enquadramentos, fazem com que nas imagens ressoe um nível emocional intenso e profundo.

Cada fotografia de Eduardo Teixeira Pinto conta uma história, capturando não apenas as pessoas e os lugares do passado, mas também os contextos culturais e sociais de toda uma época. São verdadeiros tesouros artísticos, que nos conectam intimamente com os tempos idos e nos convidam a criarmos relações empáticas com aqueles que nos precederam. O olhar honesto e franco do autor faz-nos parar para pensar e ganhar consciência de que as nossas fotografias são, para a maioria de nós, a coisa mais duradoura que legaremos à posteridade. Muito mais do que as mensagens que possamos deixar escritas ou postadas nas redes sociais. Posto isto, escusado será dizer que há aqui um motivo que, por si só, justifica uma deslocação a Avintes. Poderá sempre apreciar o trabalho de um punhado de outros fotógrafos que expõem no iNstantes, poderá (deverá) ainda provar a tão afamada broa de Avintes, mas não deixe de olhar nos olhos este “ilustre amarantino” e, sem saudosismos, atentar na sua arte. A experiência é verdadeiramente fascinante. Só até 31 de Maio.

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