EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Carlos Muro Aguado”,
de Carlos Muro
Centro Cultural Casa de Vacas, Madrid
27 Mar > 27 Abr 2025
Chegou ontem ao fim “Carlos Muro Aguado”, a exposição de Carlos Muro que ao longo do último mês esteve patente no Centro Cultural Casa de Vacas, em pleno Parque do Retiro, pulmão verde da cidade de Madrid. Natural de Toledo e a residir em Madrid, Carlos Muro tem-se dedicado de forma intensa à pintura, dedicando-lhe oito a dez horas de trabalho diário, encerrado no seu atelier. O entusiástico acolhimento da grande exposição levada a cabo na medieval Pedraza, em Segóvia, no Verão passado, juntamente com o escultor José Manuel Belmonte, trouxe-lhe a certeza de que o tempo, o esforço, o sacrifício e a paixão colocada nos seus trabalhos teria valido a pena. Voltou a mostrar-se agora perante o público madrileno, numa mostra que não é retrospectiva nem se oferece como um projecto em si mesma. Antes pretende ser o resumo da sua filosofia de vida e de trabalho, o espelho fiel daquilo que Carlos Muro é, cada peça apresentada como totalmente intemporal, dispensando a colagem a modas ou tendências, dando a sensação de terem sido pintadas hoje, ainda que realizadas em momentos muito diferentes.
Em termos pessoais, a pintura é para Carlos Muro muito mais do que uma actividade profissional: É uma maneira de viver o representado, saber o porquê de pintar e poder transmiti-lo ao espectador. Um “sentir e fazer sentir” por parte de quem, ao longo de toda a sua vida, se mostrou uma pessoa aberta e afável, mas ao mesmo tempo ciosa da sua individualidade e auto-suficiência, fechada a influências externas e buscando ser única em cada uma das suas acções. Ao chegar à pintura, a solidão do atelier e o isolamento entre as telas e os pincéis fez com que se fechasse no desenho, onde acabaria por ver reconhecido o seu trabalho com a outorga de alguns prémios importantes. Mais tarde, com a mente cheia de luzes, sombras, formas, quimeras e a elegância da monocromia do desenho, abraçou a expressividade do cinza, voltando as costas à cor e tomando uma via particularmente recompensadora, ainda que divergente da dos seus pares. Esta exposição é o resultado de um trabalho que não dispensa o cunho experimentalista, mas que acaba por se inscrever numa linha pictórica herdeira do jogo impressionista, tanto implícita quanto explicitamente.
Retrato, natureza, paisagem urbana, busca, figura, naturezas mortas... A obra de Carlos Muro é muito heterogénea e reflecte a profundidade da sua vida, uma totalidade perante quase tudo, uma transmissão dos seus sentimentos perante o que pintou. Este é o fio condutor de uma exposição que representa a sua própria arte, os seus processos e a sua mente, capaz de transmitir imensidão e grandeza e de mostrar de que forma os sentimentos do artista transcendam a própria pintura. Artista solitário, viajante e investigador, é também um criador que conseguiu realizar-se através da experiência pessoal, apesar de conhecer e estudar grandes pintores. Este estudo está presente na sua obra sob a forma de homenagem a pintores como Goya, Rembrandt, Vermeer, Hopper ou Velasquez, baseando alguns dos seus trabalhos em obras-primas da pintura, de cuja matriz fez desaparecer a cor, a precisão e as pinceladas, para chegar a composições abstractas, num encontro pessoal com algo único e em direção à figuração extrema. A sua última exposição, a mais completa até à data, dá-nos a possibilidade de reflectir sobre a marcha do tempo, as diferentes atmosferas, as subtis nuances de rostos e paisagens, a elegância, sensibilidade e distinção dos seus cinzentos.
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