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terça-feira, 29 de abril de 2025

LUGARES: Sinagoga de Santa María la Blanca | Toledo





LUGARES: Sinagoga de Santa María la Blanca
C. de los Reyes Católicos, 4 - Toledo
Horários | Das 10h00 às 18h45 (de 01 de Março a 15 de Outubro) e das 10h00 às 17h45 (de 16 de Outubro a 28 de Fevereiro). Aberto todos os dias
Ingressos | € 4,00 (ingresso normal)


Um passeio descontraído pela parte mais ocidental do casco histórico de Toledo poderá fazer com que o visitante passe em frente à sinagoga de Santa María La Blanca sem perceber que aquela fachada austera, na sombra de centenários ciprestes, oculta a mais bela, delicada e harmoniosa sinagoga toledana. Franqueadas as portas, a sumptuosidade e luminosidade do espaço interior, aliados a um ambiente de serenidade e de paz que a alvura das paredes e colunas inspira, dão-nos a certeza de ser este um dos monumentos imperdíveis da cidade. Composto por cinco naves paralelas, cobertas com artesoado de madeira e separadas entre si por arcos de ferradura que repousam sobre pilares octogonais rematados por capitéis de estuque decorados, o espaço é de um primor arquitectónico raro. A atenção do visitante dirige-se, sobretudo, para os trinta e dois capitéis que rematam os suportes dos quatro conjuntos de arcos que estruturam o interior da sinagoga, todos eles diferentes entre si e decorados com complexos motivos geométricos e vegetais, principalmente pinhas e voltas, em tudo semelhantes aos que podemos encontrar nas muitas igrejas do culto cristão espalhadas pela cidade.

As origens da sinagoga de Santa María la Blanca remontam, segundo atesta uma inscrição conservada numa viga do edifício, ao ano de 1180. Embora as opiniões dos historiadores divirjam quanto ao mentor da obra, parece ser consensual que a comunidade judaica terá recorrido a construtores e pedreiros muçulmanos para erguer o espaço, os quais não terão tido qualquer pejo em dotá-lo de uma profusão de elementos mudéjares, tão em voga na época. Por volta do ano de 1250, a sinagoga sofreu um violento incêndio que a reduziu a cinzas, sendo reconstruída em 1260 graças a uma autorização especial do rei Alfonso X, o Sábio, contrariando uma bula papal promulgada por Inocêncio IV. Uma vez reconstruída, a sinagoga manteve o culto hebraico até 1391, ano em que uma revolta contra os judeus levou à sua expropriação e consagração ao culto cristão sob a actual denominação de Santa Maria La Blanca. Em meados do século XVI abrigou um beatério para “mulheres arrependidas”, acabando votada ao abandono por mais de cem anos. Foi quartel de infantaria e, já no século XIX, na sequência da Guerra da Independência, serviu de depósito ou armazém da Real Fazenda. Em 1930 foi declarada Monumento Nacional, sofrendo obras de recuperação que acabaram por lhe conferir o aspecto actual.

Entre as muitas curiosidades que a rodeiam, compete lembrar que, das cerca de dez sinagogas, cinco centros de estudos hebraicos e uma renomada escola de tradutores que chegaram a integrar a urbe toledana, fazendo desta um ícone de convivência pacífica entre três distintas culturas, até aos nossos dias chegaram apenas duas - esta e a Sinagoga del Tránsito, ou Sinagoga de Samuel ha - Leví, distando entre si escassos 240 metros -, constituindo dois dos melhores exemplos de arquitectura religiosa hebraica da Península Ibérica e modelo inspirado para numerosos centros de culto judaico posteriores. Por outro lado, vale a pena realçar que, na própria urbe toledana, prende a atenção o facto de que as duas sinagogas pouco tenham a ver uma com a outra de um ponto de Vita construtivo, uma vez que a primeira se apresenta como um grande espaço diáfano, a de Santa María La Blanca reproduz visivelmente a disposição espacial em naves paralelas que têm sobretudo a ver com uma mesquita muçulmana, a semelhança das muitas que existiriam na cidade à data da sua construção. Refira-se por último que, ao contrário de outras sinagogas, a de Santa María la Blanca não possui qualquer vestígio físico ou arqueológico da existência de uma galeria para que as mulheres pudessem assistir ao culto, pelo que se admite que tal função fosse exercida numa das naves laterais, separadas do espaço interior por meio de cortinas ou de reposteiros provisórios em madeira.

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