EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: Zanele Muholi
Curadoria | Inês Grosso, Filipa Loureiro
Museu de Arte Contemporânea de Serralves
10 Abr > 12 Out 2025
“Ao exagerar a escuridão do meu tom de pele, estou a reclamar a minha negritude, que sinto ser constantemente representada pelo outro privilegiado. A minha realidade é que não imito essa negritude; é a minha pele, e a experiência de ser negra está profundamente enraizada em mim. Nós estamos aqui; temos as nossas próprias vozes; temos as nossas próprias vidas.”
Zanele Muholi
Zanele Muholi, activista visual e artista da África do Sul, retrata nas suas obras as vidas e experiências de pessoas negras LGBTQIA+ (Lésbica, Gay, Bissexual, Transgénero, Queer, Intersexo, Agénero, Assexual), tanto no seu país natal como em várias partes do mundo. Através da fotografia, e ao longo de vários anos, Muholi tem-se dedicado a dar visibilidade a comunidades frequentemente sub-representadas ou mal compreendidas, revelando as injustiças sociais e políticas a que estão sujeitas. Ao colocar as vivências e as lutas destas comunidades no centro da sua prática artística, Muholi transcende o simples registo visual ou documental, questionando, inspirando e reivindicando o espaço que estas comunidades merecem no panorama global da arte e da sociedade. Além de retratar histórias de luta e resiliência, Muholi serve-se da câmara para criar autorretratos que exploram questões de raça e a força do olhar negro, entre os quais se destaca a célebre série “Somnyama Ngonyama” (“Viva a Leoa Negra”), que catapultou a sua obra para o reconhecimento internacional.
A exposição, organizada cronologicamente e estruturada em núcleos temáticos, acompanha o percurso de Muholi desde que começou a sua actuação como ativista, no início de 2000, até à actualidade. Com mais de duzentas fotografias, representa a maior retrospectiva da sua trajectória até ao momento e assinala a primeira grande apresentação da sua obra em Portugal. Além de oferecer uma visão abrangente da prática de Muholi, a exposição revisita momentos marcantes da história da África do Sul, desde os anos sombrios do apartheid até à luta contínua pela igualdade e pelos direitos humanos. Em Portugal, onde o legado colonial continua profundamente enraizado na sociedade, esta mostra oferece uma oportunidade única para uma reflexão crítica sobre as implicações históricas e culturais da discriminação e opressão, enquanto nos lembra da urgência de debater questões como a identidade de género e cultural, a memória e a justiça social.
Muholi nasceu em 1972 e cresceu sob o regime do apartheid, um sistema político e social de segregação racial que garantiu o domínio da minoria branca sobre a maioria negra. Formalmente institucionalizado em 1948 pelo Partido Nacional, além de impor a segregação racial, este regime perpetuava discriminações de género e orientação sexual. Embora o apartheid tenha terminado oficialmente em 1994, com a transição democrática liderada por Nelson Mandela, e a Constituição de 1996 tenha sido um passo significativo ao proibir a discriminação baseada na orientação sexual, a comunidade LGBTQIA+ sul-africana continua a ser vítima de preconceito, crimes de ódio e violência de forma reiterada. Zanele Muholi é uma voz incontornável na arte contemporânea e no ativismo social. A sua obra combate de forma ativa o preconceito e a discriminação e convida-nos a refletir sobre a urgência de uma sociedade mais inclusiva e equitativa, inspirando novas perspectivas e diálogos necessários em matéria de igualdade, resistência e humanidade.
[Extraído do Roteiro da Exposição, em https://cdn.bndlyr.com/nsa343pdfl/_assets/2503_roteiro_zanele_site.pdf]
Sem comentários:
Enviar um comentário