EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Retratos”,
de Daryan Dornelles
Curadoria | Magda Pinto
Leica Gallery Porto
22 Mar > 10 Mai 2025
“Retratar é como desvendar um segredo que ambos — fotógrafo e retratado — concordam em partilhar.”
Daryan Dornelles
Sensibilidade, criatividade e perspicácia, são requisitos indispensáveis a um fotógrafo de retratos. Daryan Dornelles possui todas essas características, o que facilmente se percebe ao apreciar a exposição “Retratos”, patente até 10 de Maio no bonito e elegante espaço da Leica Gallery, a Sá da Bandeira, no Porto. Entre os mais proeminentes artistas portugueses e brasileiros da atualidade, poucos devem ser os nomes que nunca estiveram à frente da sua câmara. Com uma simpatia única e um sorriso pronto, o seu à vontade é um vector único de descontração e desobstrução, sendo precisamente nesta forma de desconstrução que tudo tem o seu início. Os gestos, a luz, a sombra, o tempo vivido no estúdio, são um jogo quase hipnótico de conhecimento, desconhecimento e reconhecimento entre quem fotografa e quem é fotografado. Não é algo que se ensine ou se possa explicar, nem esta capacidade é para todos, mas a verdade é que conseguimos ver, nestes retratos, a conexão íntima que o fotógrafo estabelece com o sujeito que está diante da câmara.
Cidadão brasileiro a viver em Lisboa, Daryan Dornelles tem na sua paixão pela música as raízes de uma carreira fotográfica de enorme sucesso. A comprová-lo, desfilando ante o nosso olhar, Cee-Lo Green, Russo Passapusso, Luiz Melodia, Elza Soares, Carminho, Chico Buarque, Caetano Veloso, Dino d’Santiago ou Sérgio Godinho são apenas algumas das personalidades do mundo da música que figuram nesta exposição, em imagens que são, algumas delas, capas de discos ou de revistas como a GQ, a Vogue, a Esquire, a Bravo ou a Rolling Stone. Estudioso da fotografia, da sua evolução, do tipo de estética que se impõe a cada momento, o artista mostra-se particularmente atento aos detalhes e à forma como se vão alterando, procurando acompanhá-los. Ouvir música como forma de estimular a sua criatividade é outra das suas características, ele que é um coleccionador confesso de obras musicais nos mais variados formatos. Enfim, olhamos o conjunto de imagens e percebemos que aquilo que temos à nossa frente são retratos com assinatura, fruto de um olhar autoral, pessoal e intransmissível.
O retrato é quase como uma negociação entre presença e abstração. Enquanto que, por um lado, marca a identidade de alguém, é também uma construção, uma mediação do eu através dos olhos do outro, desafiando a noção de um eu fixo, que pode ser também uma identidade fluída, relacional e performática. Aquilo que Daryan Dornelles nos mostra é que fazer um retrato de alguém é estar diante desse alguém e ser-lhe permitido entrar. É como um encontro inquietante, cúmplice e único, em que se tensionam os limites entre intimidade e construção simbólica, entre o visível e o intangível. É aqui, neste encontro aparentemente simples, que nascem os retratos, entre a imagem que projectam e a verdade que guardam. “Retratos” convida o espectador a que veja para além da imagem, a que perceba a cumplicidade que é necessária entre fotógrafo e pessoa fotografada. Mas, acima de tudo, a que aprecie este diálogo entre o artista e o sujeito retratado, em que identidade e alteridade se misturam e confundem, sugerindo que ver o outro é inevitavelmente um acto de auto-descoberta.
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