CINEMA: “Coro”
Realização | Edgar Ferreira
Argumento | Edgar Ferreira, Mafalda Almeida, Andrea Lupi
Fotografia | João Biscaia
Montagem | Edgar Ferreira, Steven Nascimento
Interpretação | Verónica Milagres da Silva, Filipa Passos, Miguel La Féria, Rui Aleixo, Marisa Figueira, Lucília de Jesus, Mónica Santos, Rui Gonçalo Fernandes, Lucinda Gerhardt, Inês Martins, Maria Fátima Nunes, Manon Marques, Sara Afonso, Rui Miranda, Ariana Russo
Produção | Mafalda Almeida, André Vieira
Portugal | 2025 | Documentário | 86 Minutos | Maiores de 12 Anos
UCI Arrábida 20 - Sala 7
06 Abr 2025 | dom | 14:20
Esforço, entrega, cumplicidade, resiliência, vulnerabilidade, sacrifício, emoção, paixão... Mil palavras não chegariam para descrever o objecto filmico que dá pelo nome de “Coro”, documentário encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian à produtora Galope Films, no 60.º aniversário do Coro Gulbenkian. Da primeira apresentação pública, sob a direcção de Olga Violante, a 27 de Maio de 1964, até aos nossos dias, o filme traça o percurso de um agrupamento de uma coesão inabalável, muito justamente reconhecido e aclamado, tanto dentro de portas como além-fronteiras. Realizado por Edgar Ferreira, o filme surge na sequência do excelente “Soma das Partes”, documentário sobre a Orquestra Gulbenkian, e de um outro menos conhecido intitulado “A música é bela, os aeroportos são tristes”, dedicado ao maestro Michel Corboz, personalidade ímpar do mundo da música e que dirigiu o Coro Gulbenkian ao longo de cinquenta anos, até 2019.
Em “Coro”, Edgar Ferreira decidiu abordar o Coro Gulbenkian através dos olhares, das vozes e das emoções dos seus elementos. Ao longo de quase uma hora e meia, ele mostra que por detrás de um som inconfundível, dos inúmeros concertos, trabalhos discográficos e distinções que o Coro vem coleccionando, existe um grupo de pessoas com vidas paralelas, nem sempre ligadas à música, onde se incluem professores, engenheiros, advogados, atletas, actores, médicos, enfermeiros, terapeutas da fala, musicólogos e até um enólogo. No cair da noite, de muitas noites, vemos como se reúnem e trabalham no exercício permanente de criar um corpo artístico de uma só voz. Desta arte de conciliar a vida pessoal com a verdadeira paixão que é pertencer ao Coro, retira o filme os maiores proventos. Ao desviar o foco dos factos históricos, de uma certa cronologia ou das personalidades que nele deixaram a sua marca - sobretudo Michel Corboz, mas também Fernando Eldoro e Jorge Matta -, o realizador humaniza o filme, trazendo o espectador para o seu interior.
Filmado com uma grande proximidade, “Coro” consegue transmitir o ambiente de absoluta confiança que reina no seio do grupo, algo que é reforçado no dia a dia pelo que cada um trás de fora e que, na sua vivência única, se torna parte do todo. A partilha torna-se palpável à medida que o filme avança e vamos percebendo o envolvimento de cada um no processo de filmar o “seu” Coro e fazer com que daqui venha a sair (mais) um objecto de que todos se possam orgulhar. O resultado não poderia ser mais feliz, já que o processo de realização espelha o funcionamento do Coro Gulbenkian: aproximação, contacto, trabalho colectivo. A lógica do trabalho artístico em conjunto, razão de ser do agrupamento, aplica-se à construção do documentário, daqui resultando aquilo a que se poderá chamar “um filme coral”. Por muitas diferenças que possam existir entre os vários elementos do Coro, o empenho de todos vai no caminho da perfeição.“Coro” poderá não ser um documentário perfeito, mas andará lá perto.
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