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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Rêverie" | Kit Young



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Rêverie”,
de Kit Young
Encontros da Imagem de Braga
Leica Gallery Porto
Set 2024 > Jan 2025


“Rêverie” é uma palavra de origem francesa, que representa a ideia de devaneio, um estado de introspecção, uma espécie de um sonho acordado, em que a mente vagueia livremente. Como nos sonhos nocturnos, dos quais muitas vezes despertamos confusos, também neste sonhar acordado podemos confundir o que imaginamos com a realidade. Em ambos os estados, apenas o que sentimos ou as emoções que vivemos se apresentam claras na nossa memória. Talvez seja por este desprendimento relativamente ao mundano que, partindo de sítios tão distintos como Paris, Chicago, a ilha de Skye, Veneza, Nova York ou Norfolk, a visão única de Kit Young, aliada a uma estética refinada, nos transportam para uma atmosfera de mistério e beleza. Compreende-se assim que o seu trabalho, habitualmente dividido em séries, seja aqui apresentado como um único corpo, unido por um padrão visual singular e inconfundível.

O conjunto de fotografias apresentado em “Rêverie”, desafia a percepção e memória de quem as vê, levando-nos a duvidar se somos meros espectadores de uma realidade vivida por outrem, ou se somos parte integrante daquelas imagens. Subitamente é como se estivéssemos lá, com o nosso subconsciente a experimentar memórias alheias, apropriando-nos delas, inebriados pela atmosfera de sonho para a qual somos transportados. São imagens que ficam em nós. Fechamos os olhos e podemos continuar a vê-las. Não precisamos de saber o local ou a data em que foram feitas, o que está por trás delas ou qual a narrativa a que pertencem; é como se nos pertencessem, falando para o nosso íntimo de uma forma profunda e inesperada. Contrariando Roland Barthes com o seu conhecido “noéme” da fotografia “that-has-been”, a partir do qual entende a fotografia como possibilidade de revisitar um fragmento de tempo e espaço que nunca poderemos voltar a viver; encontramos no trabalho de Kit Young não uma representação de um tempo e espaço, mas sim inúmeras possibilidades. Uma espécie de portal para um lugar de liberdade, que se apresenta diferente de cada vez que o vemos, onde podemos ver algo novo e criar diferentes memórias, como se cada vez que revisitamos as suas imagens fosse a primeira.

Com uma abordagem poética e evocativa transversal a todo o seu corpo de trabalho, Kit Young não vê as suas fotografias como completas no momento de captura das mesmas. Ele é um apaixonado pelo trabalho que desenvolve na câmara escura, é lá que leva ao limite a sua técnica e mestria, o que também o faz desafiar-se constantemente, inspirando-o na busca de novos temas para as suas fotografias. Assim, ao observar o seu trabalho, tanto podemos deparar-nos com uma paisagem nebulosa e onírica, onde a natureza parece respirar em silêncio; como com o turbilhão da vida numa cidade cheia de gente, interrompido unicamente por figuras solitárias; ou até com um retrato íntimo e nostálgico, que desperta em nós curiosidade e contemplação imediatas. “Rêverie” é isto mesmo, uma dança delicada entre o real e o imaginário, onde através de momentos aparentemente não relacionados no tempo e espaço, somos transportados para um local paralelo, onde a sensibilidade única de Kit Young transforma, de forma magistral, um fugaz momento em algo etéreo.

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