EXPOSIÇÃO: “Centro de Arte Contemporânea 50 anos - A Democratização Vivida”
Vários artistas
Curadoria | Miguel von Hafe Pérez
Museu Nacional Soares dos Reis
07 Jun > 29 Dez 2024
10 de junho de 1974. Não se cumpriram ainda dois meses da Revolução dos Cravos e já no Porto uma acção de rua inscreve na história da construção de centros culturais e espaços museológicos dedicados à criação contemporânea um momento inédito e até hoje sem paralelo. Protagonizado por artistas e intelectuais da cidade ligados a instituições como a Cooperativa Árvore, o Teatro Experimental do Porto, a Seiva Trupe ou o Cineclube do Porto, o “Enterro do Museu Soares dos Reis” dá voz a uma reivindicação popular alimentada pela pulsão efervescente de abertura à modernidade, resgatada do pesado silêncio da ditadura. Um movimento simbólico de protesto materializa-se nesse acto performático que, de forma mais ou menos directa, vai constituir a semente da Fundação de Serralves e do seu Museu de Arte Contemporânea. “Centro de Arte Contemporânea 50 anos - A Democratização Vivida” recorda esse acontecimento e evoca a história do CAC – Centro de Arte Contemporânea graças a um significativo conjunto de 144 obras de arte e mais de 250 peças documentais e gráficas, como cartazes, convites, catálogo e fotografias de artistas.
Nascido de uma reclamação da cidade, o CAC — Centro de Arte Contemporânea instala-se, cerca de dois anos depois, justamente no Museu Nacional Soares dos Reis, o espaço para desenvolver e implementar um programa que, olhando retrospectivamente, pareceria impossível de concretizar. Para isso contribuíram o voluntariado e profissionalismo que Fernando Pernes, Etheline Rosas e Mário Teixeira da Silva verteram no projecto. Na verdade, a ambição daquilo que acabou por se produzir num Porto ainda incipientemente confrontado com o pensamento vanguardista da arte contemporânea poderia parecer utópico. Fernando Peres, director do Centro de Arte Contemporânea, percebeu desde muito cedo que a memória do que estava a construir nas exposições temporárias desta instituição poderia vir a urdir a malha de uma possível colecção de um museu futuro. Tal veio a concretizar-se mediante a actuação do Estado, que compreendeu que o apoio à arte contemporânea melhor se concretizaria desse modo: por isso, muitas das obras apresentadas nas diversas exposições temporárias promovidas pelo Centro de Arte Contemporânea integram hoje em dia as colecções do Museu Nacional Soares dos Reis e do Estado.
De 1976 a 1980, o Centro de Arte Contemporânea promoveu cerca de 100 exposições e várias atividades culturais. Alberto Carneiro, Ângelo de Sousa, Álvaro Lapa, Júlio Pomar, Emília Nadal, Eduardo Nery, Nadir Afonso, Paula Rego e Fernando Lanhas, entre tantos outros, mostram as suas obras de forma antológica pela primeira vez no Porto. Um intenso dinamismo de programação só possível graças ao estabelecimento de parcerias com embaixadas, institutos culturais estrangeiros e instituições, que permitiram a apresentação de importantes exposições de arte contemporânea em itinerância nacional e internacional no Porto. Com curadoria de Miguel von Hafe Pérez, a exposição “Centro de Arte Contemporânea 50 anos - A Democratização Vivida” revisita a história desta aventura primordial no contexto institucional português, recriando alguns dos seus momentos expositivos e trazendo à luz muitos documentos gráficos pouco conhecidos. Testemunho vivo de um momento único para a cultura da segunda maior cidade do país, a mostra estará patente até ao final do ano e é absolutamente imperdível.
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