CINEMA: “A Ama de Cabo Verde” / “Àma Gloria”
Realização | Marie Amachoukeli-Barsacq
Argumento | Marie Amachoukeli-Barsacq
Fotografia | Inès Tabarin
Montagem | Suzana Pedro
Interpretação | Louise Mauroy-Panzani, Ilça Moreno Zego, Abnara Gomes Varela, Fredy Gomes Tavares, Arnaud Rebotini, Marc Lafont, Domingos Borges Almeida, Bastien Ehouzan, Delfi Rodrigues Dos Sanches, Manuel José Sovares, Denis Ortega Acevedo, Sidney Cardoso
Produção | Bénédicte Couvreur
França | 2023 | Drama | 83 Minutos | Maiores de 12 anos
UCI Arrábida 20 – Sala 5
19 Jul 2024 | sex | 14:35
Está certo quem diz que é nas coisas simples que reside a maior beleza. “A Ama de Cabo Verde” é uma história cheia de inocência e ternura que enquadra a relação entre as duas personagens centrais, uma menina que busca desesperadamente encontrar uma figura materna, e uma mulher cujos filhos moram a milhares de quilómetros e que são quase uns estranhos para ela. De forma delicada, o filme narra a história de Cléo (Louise Mauroy-Panzani), órfã de mãe e que, desde tenra idade, foi criada em França por uma emigrante cabo-verdiana chamada Glória. Com o pai frequentemente ausente por razões profissionais, Cléo tem em Glória a sua verdadeira família. Mas a notícia da morte da mãe de Glória, até então a cuidadora dos seus dois filhos, vai precipitar o regresso a Cabo Verde e obrigar à separação de Cléo. Fica a promessa de a menina poder visitar a ilha onde vive a família da ama, o que poderá acontecer já nas férias de Verão que se aproximam.
É nos pequenos detalhes, nos olhares, nos gestos, nas canções de embalar, que Marie Amachoukeli-Barsacq encontra os ingredientes que conferem ao filme a devida espessura. Num mundo que obriga a pequena protagonista a ter de lidar com a perda da mãe, a ama passa a ser a única pessoa no mundo capaz de a entender e proteger. Perdê-la tão abruptamente fará com que o caminho não seja fácil e Cléo vai ter de encontrar o passo certo que a ajudará a crescer. Por esse motivo, quando tudo está prestes a mudar, entendemos a relutância da criança em aceitar a separação e o seu empenho em forçar a situação para poder passar uns últimos dias com Glória. Marie Amachoukeli-Barsacq aproxima intencionalmente a câmera das suas personagens, fazendo com que as suas emoções não passem em claro. Jogar com a luz e com os espaços é outra forma de criar ambientes propícios à partilha de confidências… e medos.
Não será fácil encontrar um actor de tenra idade que aborde a sua personagem com tanta espontaneidade e credibilidade. Neste particular aspecto, a pequena Louise Mauroy-Panzani é prodigiosa, fazendo com que o seu papel pareça fácil sem o ser. Na sua ingenuidade, egoísmo, inocência e, até, alguma crueldade, ela mostra-se expressiva e verdadeira, como qualquer criança da sua idade na vida real. O seu papel é essencial para o filme porque é através do seu olhar que descobrimos o mundo que a rodeia e as pessoas que o habitam. A atenção incide sobre ela durante grande parte da história e a menina mais não faz do que embelezá-la, contando com a contribuição de Ilça Moreno Zego na criação de um sólido universo emocional que ambas partilham e no carinho que desenvolvem uma pela outra. Apesar das evidentes fragilidades do argumento, “A Ama de Cabo Verde” é capaz de transmitir emoção e sinceridade em apenas 80 minutos, o que muitos outros filmes não alcançam em duas e três horas.
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