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sábado, 20 de julho de 2024

CINEMA: Shortcutz Ovar Sessão #85



CINEMA: Shortcutz Ovar Sessão #85
Festa dos Premiados 2023
Apresentação | Tiago Alves
Escola de Artes e Ofícios
19 Jul 2024 | sex | 21:30


Em plena pausa estival, o Shortcutz Ovar voltou ao habitual espaço da Escola de Artes e Ofícios para mais uma Festa dos Premiados. Sessão sempre especial e particularmente concorrida, nela se recordou a temporada de 2023 e se deram a conhecer os grandes vencedores do certame nas várias categorias a concurso. Uma temporada - a sétima - recheada de muito e bom cinema curto, onde avultaram vinte e quatro filmes na selecção oficial, dos quais cinco de imagem animada e dez primeiras obras. O nível qualitativo dos filmes a concurso foi particularmente elevado, colocando à prova o júri constituído pela programadora e realizadora Ana Castro, pela cantora Laura Rui e pelo dramaturgo e actor Leandro Ribeiro, a quem coube a espinhosa tarefa de escolher os melhores entre os melhores. Fiel, conhecedor e fortemente interventivo, o público marcou presença firme sessão após sessão, sendo, também ele, chamado a pronunciar-se sobre os méritos de cada um dos filmes e a eleger o seu premiado.

Com uma plateia recheada de caras conhecidas e a apresentação da cerimónia a cargo de Tiago Alves, a Festa dos Premiados foi, sobretudo, uma festa de todos e para todos. Um concerto de Laura Rui com as Suspiro e o “after session” com DJ set de Mr. Wolf foram o culminar de momentos únicos de confraternização e partilha, nos quais subiram ao palco os vencedores da melhor curta do ano, primeira obra, animação, prémio do júri e prémio do público. Primeira figura em foco, João Gonzalez foi galardoado com o Prémio do Público graças ao filme de imagem animada “Ice Merchants”, uma fábula universal a lembrar aquilo que julgávamos perdido, mas que, no momento certo, está lá para nos amparar. Não foi uma surpresa, já que o público, ao longo da temporada, conferiu a primazia ao cinema de animação em cinco das oito sessões realizadas, com “Ice Merchants” a elevar-se acima dos restantes candidatos e a conquistar um dos prémios mais desejados da noite.

Ainda no campo da animação, o Prémio para a Melhor Animação foi para David Doutel e Vasco Sá com “Garrano”, um filme nascido da necessidade de refletir sobre o grave e endémico problema dos incêndios florestais em Portugal, mas que estende as suas preocupações à precariedade e à falta de expectativas num interior cada vez mais desertificado, onde os atentados ambientais que se adivinham com a exploração do lítio conduzem ao desaparecimento de um modo de vida que deu forma e sustento a comunidades inteiras ao longo de séculos. Depois de “Agouro”, a dupla de realizadores volta a receber este prémio no Shortcutz Ovar, graças a um filme de enorme beleza que cruza animação 2D tradicional com pintura a óleo e pintura digital. “Azul”, de Ágata de Pinho, recebeu muito justamente o galardão de Melhor Primeira Obra, premiando uma jovem realizadora e actriz que respira cinema e nos oferece um filme revelador de uma maturidade incomum, que coloca o dedo em muitas feridas, da maternidade compulsória à rejeição filial. À força da narrativa juntam-se efeitos belíssimos e uma interpretação incrível de Ágata de Pinho no seu próprio papel.

Antes de ser conhecido o grande vencedor da noite, o Júri deu conta da decisão de atribuir o seu Prémio Especial a “Palma”, de Mónica Santos. Apoiado num texto marcadamente romântico, quase “camiliano”, o filme tira partido do requinte dos espaços, da beleza dos planos, da subtileza dos pormenores, de uma estética apurada e de uma extraordinária interpretação de Mafalda Banquart, para prender o espectador numa trama onde vida e morte se combinam em doses iguais. Enfim, no momento mais esperado da noite, o público viu subir ao palco João Niza Ribeiro para receber o Prémio Melhor Curta pelo seu “Raticida”, um filme que assume os ambientes do Porto e as figuras que os povoam como elementos decisivos desta verdadeira fábula urbana. Do trabalho admirável com não actores ao lado documental que se imiscui na mais pura e dura das ficções, “Raticida” coloca em perspectiva o Porto turistificado e gentrificado, com o Porto dos marginalizados e excluídos, como que saídos da pena de John Steinbeck nesse notável “Ratos e Homens”.

1 comentário:

  1. Gostei.Foi muito além do que esperava! Arredada destas andanças...foi com emoção que assisti às exibições.

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