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sábado, 4 de maio de 2024

EXPOSIÇÃO: “Entre Dois Mundos - Mulher e Homem, Cúmplices do Oceano”



EXPOSIÇÃO: “Entre Dois Mundos - Mulher e Homem, Cúmplices do Oceano”,
de O Gringo
Maio do Azulejo 2024
Aveiro 2024 Capital Portuguesa da Cultura
Centro de Artes de Ovar
18 Abr > 22 Set 2024


Depois de ter estado presente no Museu Nacional do Azulejo com a exposição “Esperança Além do Horizonte”, o artista francês Bastien Tomasini, a.k.a. O Gringo, traz à Cidade Museu Vivo do Azulejo a sua arte, reflectindo sobre a figura icónica da varina, a sua importância enquanto esteio da família, a viagem de vidas castigadas, a esperança num melhor porvir. Composto por um conjunto de fotografias, painéis em azulejo e máscaras esculpidas, “Entre Dois Mundos - Mulher e Homem, Cúmplices do Oceano” propõem uma viagem no espaço e no tempo, levando o visitante ao encontro da varina que, na sua humildade e nobreza, se transformou num símbolo da Lisboa de ontem e de sempre. Ao mesmo tempo, convida-o a reflectir sobre o papel da mulher nas sociedades actuais, tomando como exemplo de coragem e de resiliência a varina de outrora que, descalça e de canastra à cabeça, escondia as mágoas no avental e apregoava, colina acima, colina abaixo, “o belo chicharro” e a “rica sardinha, vivinha e fresca”.

Baseando o processo criativo na fotografia digital impressa sobre azulejo, O Gringo abraça a função decorativa e artística deste suporte particularmente versátil, fazendo dele uma espécie de pele onde, de forma inspirada, vai afixando desenho, imagem e cor, qual tatuador ousado e irreverente. Ao atentarmos nos painéis, o olhar detém-se num barco de velas erguidas ou num cais onde se escolhe o peixe, numa rede, numa rosa-dos-ventos, num painel antigo de azulejos, nas mãos em prece, num olhar parado no infinito. Na improvável combinação do antigo com o moderno, as peças abrigam um conjunto de narrativas, distintas mas complementares entre si, que se misturam e confundem na forma como falam de céu e mar, pregões e gritos silenciados, xailes negros e branca espuma, redes de esperança e pescadores da barca bela. O trabalho artístico reforça esta ideia de sobreposição, percebendo-se em cada painel muito mais do que o simples decalque da imagem. Nos salpicos de tinta há ondas que se desfazem na areia, nas manchas de negro adivinha-se a angustiada espera por quem tarda em chegar.

Estendendo a exposição ao espaço exterior, é possível ver numa das fachadas da Escola de Artes e Ofícios uma peça do artista em diálogo com o meio envolvente, o rio que corre aos seus pés, os belos painéis de azulejo da Fonte Júlio Dinis em frente. Uma extraordinária peça de Arte Urbana que homenageia o conjunto azulejar desta cidade que é nossa, dignificando-o e enriquecendo-o. Termino com as palavras do Director do Museu Nacional do Azulejo, Alexandre Nobre Pais, inscritas no catálogo que acompanha a exposição: “O que a visão d’O Gringo nos dá é a beleza arquetípica, a que existe para lá daquela que o mar, o sal, a areia, o vento e o sol desgaste e corroem. A formosura de carácter daqueles que enfrentam os elementos, a adversidade e ficam velhos sendo jovens. As suas estórias ganham aqui, nestes painéis de azulejos, não a lógica de um documento, mas um sentido de gesta que lhes devolve a dimensão heróica, a grandeza daqueles que a História recorda e que sempre surgem, na nossa imaginação, jovens e belos, impávidos perante a adversidade e os contratempos, tal como O Gringo os retrata e imortaliza.”

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