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sexta-feira, 10 de maio de 2024

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Verdade Entre Mentiras"



EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Verdade Entre Mentiras”,
de Emerenciano
Biblioteca Municipal de Ovar
05 Abr > 08 Jun 2024


Depois das recentes exposições “Querer Dizer” e “O Livro”, Emerenciano volta a mostrar os seus trabalhos em Ovar, de onde é natural. Apresentada na galeria de exposições temporárias da Biblioteca Municipal de Ovar, “Verdade Entre Mentiras” é constituída por cerca de três dezenas de obras profundamente inscritas no ideário do artista, quer de um ponto de vista conceptual, quer na agudeza da mensagem que insiste em fazer passar. Uma observação rápida das assinaturas diz-nos que estamos perante um conjunto de obras produzidas entre 2020 e 2023, anos marcantes de um ponto de vista económico, social e político, dominados por uma devastadora pandemia que virou do avesso o mundo e a ideia que dele tínhamos. É neste contexto que a máscara se impõe como denominador comum à série de trabalhos apresentados, remetendo para a sua obrigatoriedade (leia-se, “omnipresença”) em contexto pandémico, ao mesmo tempo que explora o seu valor enquanto metáfora da criação artística num espaço dominado pela ilusão e fantasia, pelos desejos e inquietações.

Se num cenário de pandemia é obrigatório manter a máscara, por outro lado é importante que ela caia e que cada um possa mostrar aquilo que verdadeiramente é. Pensada neste contexto, “Verdade Entre Mentiras” levanta questões de ordem ética e moral verdadeiramente significantes. No catálogo da exposição, Emerenciano escreve que o título “é justificado pela aproximação da Arte à Vida e às guerras, onde o desenho e a pintura estão com uma mistura de mentiras verdadeiras e verdades falsas”. O artista tem esta capacidade de olhar o mundo e de, através da sua Arte, colocar em cada obra uma chamada de atenção para “a instabilidade associada à irreflexão e à mentira por onde passam as romarias a confundir a Verdade”. Por isso, não é apenas a máscara que se impõe em cada trabalho de forma tão óbvia, mas também a serpente, símbolo da mentira, da tentação e do pecado. As questões morais subjacentes a este tipo de figuração são levantadas de forma directa, pedindo envolvimento e convidando à acção.

Igualmente fracturantes são as razões éticas que a pintura de Emerenciano insiste em questionar. Deixemos de parte máscaras e serpentes e atentemos nas linhas que se estendem na mesma caligrafia estilizada de há cinquenta anos – “o poeta é um animal longo desde a infância”, escreve Luiza Neto Jorge –, também elas parte integrante da verdade como da mentira. Intrínsecas aos objectos ou externas a eles, as letras não se conformam às margens que o artista impõe, antes mergulham no verso do desenho, acompanhando as suas derivações escherianas enquanto causa e efeito de si mesmas, num eco penetrante que prende e liberta. Com estas letras se contrói o mais belo poema de liberdade, mas não é menos verdade que são estas as mesmas letras que desenham discursos de ódio e intolerância. Naquilo que importa ver, Emerenciano está lá para conversar, dizendo-nos que a Arte é isto mesmo: Irreverente e imprevista na sua vocação para estimular os sentidos e lançar o diálogo, estabelecer pontes e ajudar na construção de um mundo melhor. 

1 comentário:

  1. Sou o Emerenciano e quero agradecer o interessante texto que escreveu a propósito da minha exposição na Biblioteca Municipal de Ovar

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