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quinta-feira, 23 de maio de 2024

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Correspondências, 2020-21”



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Correspondências, 2020-21”,
de Ana Sabiá
iNstantes 2024 – Festival Internacional de Fotografia de Avintes
Casa da Cultura de Avintes
10 Mai > 26 Mai 2024


“Qual a imagem da tua identidade? Que país é esse? O que eu diria à criança que fui? Sou racista? Quais os sentimentos despertados pelo confinamento? O que me surpreende? Quem pensas que és? Qual o valor do meu trabalho para o coletivo? Quais momentos me sinto livre? Quais escolhas influenciaram meu destino? Quais monstros escondo sob sete chaves? Quais são as coisas do mundo que me olham?” Estas e outras questões, de um modo aproximado, abrangem o clássico desafio filosófico transcendental à espécie humana: “Quem somos, de onde viemos e para onde vamos”. Foi sobre isto que a artista visual brasileira Ana Sabiá refletiu, como se de uma urgência se tratasse, quando, em pleno período pandémico, se viu confrontada com as medidas de confinamento e com o inerente isolamento social. É nestas alturas que tal introspecção ganha força e adquire um alcance surpreendente no “conhece-te a ti mesmo”, aforismo do grego antigo que convida a moderar os nossos impulsos e a lidar de maneira menos intransigente ante as impossibilidades.

Cartão de visita do Festival iNstantes, partilhando o hall de entrada da Casa da Cultura de Avintes com “The Aviary”, do norte-americano CJ Karch, “Correspondências 2020-21” é uma das mais interessantes exposições do certame. Baseando o seu trabalho nas pesquisas a partir do corpo, no surrealismo e na auto-representação como estratégia de problematização crítica de temáticas que perpassam feminismos, identidades e autobiografia, Ana Sabiá convida-nos a decifrar os enigmas que se abrigam nas imagens que nos são mostradas. Retratando um conjunto de composições cuidadosamente estruturadas, o corpo de trabalho desta exposição abre-se à reflexão sobre momentos capitais da nossa existência, o nascimento e a morte, desde logo, mas também o casamento, o nascimento dos filhos, a consolidação dos vínculos familiares, o envelhecimento, as saudades de quem está longe ou disse adeus para sempre. Através dos objectos que as compõem - fotografias antigas, sobrescritos, desenhos, rendas, penas, lâmpadas, favos -, as imagens adquirem uma enorme carga simbólica, parecendo abrigar passado e presente sob uma capa chamada destino.

As palavras de Ana Sabiá são reveladoras das “correspondências” que pretende estabelecer: Diz ela que “a historia humana é feita de adversidades. Do nascer ao morrer, desde o início dos tempos, a vida é tecida por histórias de amores e lutas. Em que instante a minha história individual se entrelaça à das demais bilhões de pessoas desde que o mundo é mundo? Quais foram / são / serão as contingências que tramam tais aparições? Essas interrogações nortearam a construção do meu trabalho no qual sou tanto destinatária quanto remetente destas Correspondências. A partir de antigos retratos de pessoas desconhecidas, comprados em sebo e feiras, respondo às proposições em metáforas justamente intentando não encerrar a reflexão mas, ao contrário, expandi-la para além de mim. Através daquelas faces desconhecidas busco reconhecer a minha e, no esforço de revitalizar suas existências, me debato a preencher os evidentes hiatos entre suas histórias e a minha própria.” A exposição está patente só até ao próximo domingo e, como se percebe pelo que atrás referi, é de visita obrigatória.

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