Páginas

quinta-feira, 16 de maio de 2024

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Proibido Subir ao Altar"



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Proibido Subir ao Altar”,
de Maria Lucila Horn
iNstantes 2024 – Festival Internacional de Fotografia de Avintes
Parque Biológico de Gaia
10 Mai > 26 Mai 2024


Lugar de encantos mil, o Parque Biológico de Gaia tem, desde o passado dia 10, mais um motivo de interesse a convidar a uma visita. Trata-se de “Proibido Subir ao Altar”, da fotógrafa brasileira Maria Lucila Horn, exposição integrante da 11ª edição do iNstantes - Festival Internacional de Fotografia de Avintes, e que irá estar patente até 26 de Maio. Lucila Horn não é uma ilustre desconhecida do certame, tendo assumido a curadoria de “Mulheres e Resistência”, de Milton Ostetto, uma das mais impactantes exposições da anterior edição do iNstantes. Mas se recuarmos a Setembro de 2020 e à 7ª edição do Festival, é forçoso lembrar “Tás Co’ Olho!?”, dos fotógrafos Orlando Azevedo, Tadeu Vilani e do já referido Milton Ostetto, na qual encontramos imensos pontos de contacto com o actual trabalho de Lucila Horn, sobretudo no que à diáspora açoriana diz respeito e à sua presença nas comunidades disseminadas pelo sul do Brasil, com a herança portuguesa a evidenciar-se em edifícios públicos, casas e igrejas, nomes de família e, necessariamente, no culto ao Divino Espírito Santo.

Resultado de uma pesquisa desenvolvida a partir da residência artística “De cultura a Cultura”, realizada na região do Porto e na Ilha de São Miguel, Açores, em Fevereiro de 2019, “Proibido Subir ao Altar” reflecte sobre a religiosidade característica da cultura açoriana, muito presente nos costumes e tradições do interior da Ilha de Santa Catarina, onde Lucila Horn vive. Para além de abordar poeticamente questões como os valores morais e a disciplina, heranças de uma sociedade judaico-cristã que tenta definir o papel da mulher, conferindo-lhe um valor secundário, a artista desenvolve um conjunto de narrativas associadas a cada uma das imagens e que apontam para a necessidade de quebrar barreiras estabelecidas ao longo de séculos. Fá-lo através de uma série de imagens que encontram no culto católico o objecto da sua atenção, estabelecendo uma relação com os aspectos sociais, culturais e religiosos a ele ligados e mostrando-os nas suas múltiplas camadas, umas leves, outras densas, quase impenetráveis, difíceis de decifrar, capazes de ocultar tudo quanto de mau possa abrigar-se no seu interior.

A beleza das imagens é inegável. Às histórias que se sucedem por “debaixo da pele”, soma-se a componente estética, nalguns casos a roçar a perfeição. Durante a exposição tive oportunidade de dizer isso mesmo à artista e de lhe confessar a minha admiração pela forma como sabe, ao mesmo tempo, mostrar e esconder os objectos da sua atenção. Explorando o potencial das superfícies para distorcer imagens, quebrar linhas ou amplificar sombras, a artista tira o maior partido do valor impressivo dos elementos, buscando a sua essência (alma?) no diáfano espaço que vai da opacidade à transparência. Ao dizer-nos que é “proibido subir ao altar”, Lucila Horn sabe que é fundamental podermos guardar as devidas distâncias e, se necessário, recuar o suficiente para melhor discernirmos aquilo que se abre à nossa frente. Só assim nos damos conta da riqueza de elementos que cada composição engloba, contribuindo para uma narrativa conjunta que nos fala de espiritualidade, sublimidade e elevação, mas também do que se configura como ostentatório, repressivo, imoral.

Sem comentários:

Enviar um comentário