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quinta-feira, 2 de maio de 2024

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Na Terra"



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Na Terra”,
de Ana Brígida
MFA - Mostra de Fotografia & Autores
Clube Fenianos Portuenses
23 Mar > 11 Mai 2024


Cruzei-me com a fotografia de Ana Brígida no Centro Português de Fotografia, em dois anos consecutivos, à boleia do Prémio Estação Imagem Coimbra. Em 2020 com a série “Touros”, a fotógrafa venceu o prémio na categoria Arte e Espectáculos, e no ano seguinte arrebatou o prémio na categoria Assuntos Contemporâneos com a série “Super-Heróis”. Em ambos os casos, é marcante o cuidado e a subtileza na forma de contar uma história, a par da qualidade da sua fotografia que lhe é intrínseca. Esta ligação ao Prémio, porém, obriga a recuar a 2019, ano em que lhe foi atribuída a Bolsa Estação Imagem Coimbra, com a proposta de trabalho sobre as comunidades e eco-aldeias de estrangeiros e portugueses que repovoam o interior desertificado da região de Coimbra. Na Serra do Açor, estima-se que vivam já mais de mil novos habitantes nos concelhos da região. A maior parte são estrangeiros, mas contam-se também alguns portugueses que voltam a dar vida às terras. Reunidas sob o título “Na Terra”, as imagens de Ana Brígida podem ser apreciadas no Clube Fenianos Portuenses, à boleia da extraordinária Mostra de Fotografia & Autores que ali estará patente até 11 de Maio.

“Na Terra” é uma história de amor entre o homem, a natureza e os animais. Desde há muito que o interior se despovoa, seja pela falta de interesse na continuação do trabalho no campo, seja pela utopia das cidades de uma vida mais cheia e rica. O êxodo para as metrópoles deixou aldeias ao abandono, casas em ruínas, terras tomadas pela natureza e à mercê dos incêndios. Mas a vivência desligada da terra, a massificação urbana e uma sociedade virada para o consumo e para a tecnologia trouxeram também o interesse de muitos em voltar para a calma do interior. Procuram a vida perdida de gerações anteriores e dão-lhe uma nova energia e significado. Vêm com o sonho de viver mais perto da natureza, tratar dela. Viver de uma forma mais sustentável e onde o círculo de utilização é completo. Usar o que a terra dá, para comer, construir, curar e meditar. Juntos pelo interesse comum, das suas mãos nasceu uma nova economia, uma moeda própria – a estrela –, dois mercados de produtos artesanais, um projecto de aprendizagem comunitária, uma associação criativa e uma loja de roupa em segunda mão, entre muitas outras coisas.

A eles se deve a reconstrução de muitas casas devoradas pelas chamas em outubro de 2017 e ao reerguer da comunidade. Na zona da Benfeita, há agora 35 crianças que devolveram à aldeia a vida e energia que há muito dali andavam arredadas. É vê-las, juntamente com os pais, nessa luta a favor das espécies autóctones da floresta e contra o eucalipto e as monoculturas. Há quem tenha cabras e ovelhas. Todas têm nome. A maior parte dedica-se à permacultura e alguns recebem voluntários que se interessam por aprender. Muitos acabam até por comprar terreno e começam uma nova vida. Uma vivência onde há tempo para plantar, trabalhar, descansar e, principalmente, para as relações humanas. Aprendem os velhos costumes, as técnicas de xisto e dão-lhes uma nova vida. Misturam a arquitectura do passado com madeiras vindas dos fogos e juntam-lhe o que a natureza tem. A vida nem sempre é fácil, o trabalho na montanha é por vezes árduo, mas a vontade é maior do que a dificuldade. Unem-se para o bem comum e em torno da natureza. As imagens aí estão para ajudar a contar a sua história.

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