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quarta-feira, 1 de maio de 2024

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Aqui Um Homem Matou Uma Mulher”



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Aqui Um Homem Matou Uma Mulher”,
de José Carlos Carvalho (fotografias), Teresa Campos (textos) e Álvaro Rosendo (infografia)
MFA - Mostra de Fotografia & Autores
Clube Fenianos Portuenses
23 Mar > 11 Mai 2024


Enquanto morrerem mulheres às mãos de quem as prometeu amar, haverá sempre atualidade neste trabalho. Disse-o a secretária de Estado da Igualdade, quando a exposição “Aqui Morreu Uma Mulher” iniciou a sua digressão pelo país; as palavras bem que podem ser repetidas, no momento em que se apresenta, no Clube Fenianos Portuenses, uma versão da mesma, revista e aumentada, que toma o nome de “Aqui Um Homem Matou Uma Mulher”. Como elemento integrante da Mostra de Fotografia & Autores, a mostra revisita o trabalho inicial que resultou de uma reportagem que nos levou José Carlos Carvalho, Teresa Campos e Álvaro Rosendo a percorrer o país, de norte a sul, em 2015. Passavam, então, 15 anos desde que o Parlamento aprovara a lei que tornava a violência doméstica um crime público. Ou seja, que qualquer pessoa pode denunciar. Além disso, partia de uma indignação perante o número hediondo de 43 mulheres que, no ano anterior, tinham sido mortas às mãos de quem as prometera amar, fazendo de 2014 uma espécie de annus horribilis para as mulheres.

Maria da Luz, Filomena, Laura, Gracinda, Maria José, Aidé, Marinha, Céu, Maria Beatriz, Maria de Lurdes, Ângela, Isabel de Jesus, Deolinda, Joana, Sílvia, Fátima, Maria Cândida, Maria Luísa, Vânia, Leonor, Maria Cremilda ou Judite são apenas alguns nomes de uma longa lista de mais de 500 mulheres assassinadas desde o ano em que a lei portuguesa nos passou a responsabilizar a todos pela denúncia de um crime desta natureza. Aquilo que podemos perceber é a transversalidade deste fenómeno a toda a sociedade portuguesa: a violência doméstica sobre as mulheres existe no litoral e no interior, no meio urbano e no meio rural, em todas as classes sociais, em todas as faixas etárias. Segundo o Portal da Violência Doméstica, disponível no sítio da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, em 2022 tinha sido ultrapassada a fasquia das 30 mil queixas-crime, o mesmo voltando a suceder em 2023. No último trimestre do ano passado, 659 mulheres e 615 menores estavam a ser apoiados pela Rede Nacional de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica, em 35 casas-abrigo espalhadas pelo país.

Quando se cumpre praticamente uma década sobre esse momento, os números confirmam que não há alterações ao cenário da violência doméstica um pouco por todo o país. Ao longo de 2015,  José Carlos Carvalho, Teresa Campos e Álvaro Rosendo haveriam de retratar 28 casos de mulheres mortas em contexto de violência doméstica. Os números baixaram um bocadinho, no par de anos seguinte, mas, como já lembrava a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, no ano passado, rapidamente foi retomada a triste trajetória pré-pandemia. O relatório divulgado pela Procuradoria-Geral da República sobre os homicídios em ambiente de violência doméstica referente aos casos ocorridos em 2023 indica que 22 pessoas foram assassinadas, das quais 17 eram mulheres, três homens e duas meninas. Súmula fria de números, imagens como gritos desesperados, nomes que servem de alerta e nos implicam a todos num problema social de enorme magnitude, “Aqui Um Homem Matou Uma Mulher” é uma exposição incontornável em qualquer contexto e pode ser visitada nos Fenianos até ao dia 11 de Maio.

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