CONCERTO: Monda convidam Rui Veloso e Vitorino
Grupo Coral de Cantares Regionais de Portel
Coliseu Comendador Rondão Almeida
27 Abr 2024 | sab | 22:00
“Ao vivo, muito mais do que a celebração do cante alentejano, Monda torna-se numa festa genuína, luminosa e emocionante, que canta fundo as raízes de um país inteiro.” Foi nesta expectativa que abracei a possibilidade de assistir a um concerto dos Monda e de uma música vertida em “serenidade, força e distinção”. O belíssimo concerto de Buba Espinho, no palco do Cine-Teatro de Estarreja, estava ainda muito presente na minha memória e poder sentir de novo o que de muito bom se vem fazendo em matéria de música tradicional, no respeito pelas suas raízes e acrescentando-lhe novas cores e contornos, constituía uma forte motivação. Além do mais, Jorge Roque, Pedro Zagalo e Herlander Medinas traziam com eles convidados ilustres, desde logo o Grupo Coral de Cantares Regionais de Portel, agrupamento que há 48 anos punha um país inteiro a cantar “Eu Ouvi Um Passarinho”. Mas também Vitorino Salomé e Rui Veloso, dois músicos que dispensam apresentações. Um extraordinário concerto em perspectiva, no majestoso espaço do Coliseu Comendador Almeida Roldão, por uma noite transformado no coração da planície alentejana.
“Grândola, Vila Morena / Terra da fraternidade / O povo é quem mais ordena / Dentro de ti, ó cidade”. Foi no encontro de vozes entre o palco e o público, em torno deste verdadeiro Hino Nacional, que teve início um concerto de celebração do 25 de Abril e dos 50 anos da Revolução dos Cravos. O momento verteu-se em poesia e dele resultaram gargantas aquecidas e sentidos despertos para o muito que estava para vir. Fundadas na excelente voz de Jorge Roque, a harmonia e ritmo de temas como “Aurora”, “Adeus Maria até quando”, “Eu hei-de amar uma pedra”, “Rapaz Pimpão” ou “Três Passos” encontraram nas guitarras e nos teclados, no acordeão, no contrabaixo e na bateria o condimento perfeito, encantando o público com a sua luz e a sua doçura. Chegou então o primeiro momento especial da noite, com a chamada de Vitorino Salomé ao palco. Recebido com emoção, o cantor mostrou-se igual a si próprio e ofereceu a voz em músicas verdadeiramente inspiradas: “A Queda do Império”, “Diz a Laranja ao Limão” e “Dá-me Cá os Braços Teus”, além de uma homenagem sentida a Zeca Afonso com “Traz Outro Amigo Também”.
A abrir a segunda metade do concerto, o Grupo Coral de Cantares Regionais de Portel subiu ao palco para acompanhar os Monda em temas que lembram a faina nas searas, mas também as perseguições no tempo da ditadura ou a partida para a Guerra do Ultramar: “Mais Brando João Brandão”, “Menina que Andas no Campo” e “É Tão Triste Ver Partir”. O “pai do rock”, Rui Veloso, haveria de ser o último convidado a pisar o palco, trazendo com ele a sua voz eterna e a enorme capacidade de integrar a sua música em géneros com os quais, afinal, “é muito mais o que os une, que aquilo que os separa”. Foram disso exemplo “Só Uma Pena Me Existe”, “Moreninha” (em que alguns encontram a participação de Maro na versão original dos Monda) e “Nunca Me Esqueci de Ti”. Já no “encore”, e com todos os convidados em palco, escutou-se (e cantou-se a plenos pulmões) “A Paixão (Segundo Nicolau da Viola)”, “Menina Estás à Janela” e “Fui-te Ver Estavas Lavando”. Um final apoteótico, numa noite em que o cante se passeou de uma forma ligeira mas segura e firme e onde apenas terá faltado, do meu ponto de vista, um tributo especial ao género nas vozes únicas do Grupo de Portel.
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