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terça-feira, 30 de abril de 2024

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Olhar no Feminino"



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Olhar no Feminino”
Evgenia Arbugaeva, Jane Evelyn Atwood, Kiana Hayeri, Claudine Doury
Leica Store Porto
03 Fev > 09 Mai 2024


Atribuído desde 1980, o Prémio Leica Oskar Barnack homenageia o principal inventor e pioneiro da fotografia de 35 mm. A atestar o valor e qualidade do concurso, encontramos entre os vencedores nomes como os de Sebastião Salgado (por duas vezes), Luca Locatelli, Eugene Richards, Larry Towell, Luc Delahaye, o português Gonçalo Fonseca, na categoria “estreante” e ainda as fotógrafas Evgenia Arbugaeva, Jane Evelyn Atwood, Kiana Hayeri e Claudine Doury. Em conjunto, as séries das quase seis dezenas de artistas galardoados com o Prémio formam um arquivo vibrante da história da fotografia e do fotojornalismo, uma pequena parte do qual chega agora ao Porto e à Leica Store, inaugurando a programação da Galeria para 2024. São quatro séries que se apresentam sob o título “Olhar no Feminino”, feitas integralmente por mulheres vencedoras do Prémio Leica Oskar Barnack Award, dando-nos a conhecer os seus trabalhos documentais íntimos e de longo prazo, numa clara afirmação do poder do olhar feminino.

O projeto da fotojornalista iraniano-canadiana Kiana Hayeri, “Promises Written on the Ice, Left in the Sun”, vencedor em 2022, documenta os momentos quotidianos das mulheres no Afeganistão antes da tomada do poder pelos Taliban. Hayeri narra o resultado de vinte anos de progressos nos direitos das mulheres, retrocedidos quase imediatamente após a queda do governo afegão. Esta série mostra o Afeganistão como um lugar de extremos, onde o melhor e o pior da humanidade vivem lado a lado. O trabalho da fotógrafa confronta-nos com as histórias de mulheres que descobriram que assassinar os maridos era a única forma de escapar à violência doméstica e que agora, apesar de estarem na prisão, encontraram a paz; histórias de raparigas de algumas das regiões mais remotas que caminham durante horas, faça chuva ou faça sol, para irem à escola; histórias de mães que choram a perda das suas filhas adolescentes, brutalmente assassinadas quando saíam da escola na parte ocidental de Cabul; a história de uma mulher cujos quatro filhos seguiram caminhos diferentes na vida quando se juntaram a lados opostos do conflito e que carrega uma ferida aberta na garganta que os médicos acreditam ser causada pela dor.

Evgenia Arbugaeva, vencedora em 2013 com o projeto “Tiksi”, regressa à sua terra natal na Sibéria após duas décadas de ausência. Sentia falta da “tundra que parecia não ter fim, do vento tão forte que podia pegar em nós e levar-nos para lugares distantes, das tempestades de neve e da sensação de espaço exterior da noite polar”, e perguntava-se se Tiksi existiria realmente tal como a recordava. Encontrou uma cidade que parecia “quase abandonada... as cores vivas das casas desbotadas, as janelas fechadas com tábuas, os barcos deixados a enferrujar na água do mar.” São as memórias da infância como que transformadas em imagens surreais que podemos ver em seis imagens de enorme beleza. A fotógrafa francesa Claudine Doury, vencedora em 1999, também realizou o seu trabalho no Ártico Russo. Com o projeto “The Last Nomads of Siberia”, Doury documenta a dura realidade das últimas tribos indígenas que ainda resistem na região e cujos estilos de vida tradicionais se encontram fortemente ameaçados. Um olhar agudo, entre o património omnipresente, mas em vias de desaparecimento, e um mundo em rápida mudança.

Fecho esta apresentação com “Women in Jail”, trabalho seminal da fotógrafa americana Jane Evelyn Atwood, vencedora do Prémio em 1997. Atwood trabalhou no projecto durante mais de nove anos e teve de ultrapassar inúmeros obstáculos burocráticos e administrativos antes de receber autorização para retratar as reclusas e acompanhá-las na sua vida quotidiana. Passou pelo menos uma semana em cada prisão, cobrindo um total de quarenta instalações em nove países, incluindo os Estados Unidos, a França, a Rússia, a Índia e a República Checa. Com uma pesquisa precisa e uma preparação intensiva, a fotógrafa explorou os sistemas prisionais femininos, fotografando e entrevistando tanto as reclusas como os seus directores. O resultado deste esforço é uma série impressionante em que Jane Evelyn Atwood, com grande envolvimento pessoal, revela um mundo que parece inimaginável para a grande maioria de nós. As fotografias ilustram as condições desumanas do cativeiro, bem como situações muitas vezes desesperadas, com todas as dificuldades e depressões sofridas pelas mulheres abandonadas. Um dos aspectos marcantes prende-se com o facto de as prisões para mulheres estarem geralmente pior equipadas do que as prisões para homens. Desde 1990, o número de mulheres nas prisões dos Estados Unidos multiplicou-se por dez; as estatísticas dos outros países escolhidos por Atwood são semelhantes.

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