EXPOSIÇÃO: “Aurélio da Paz dos Reis, Uma Vida”
MFA - Mostra de Fotografia & Autores
Clube Fenianos Portuenses
23 Mar > 11 Mai 2024
Aurélio da Paz dos Reis viveu plenamente os tempos da mudança, do progresso e da inovação que dinamizavam o Porto, afirmando-se como um homem actuante na vida económica, política, social, cultural e artística da sua cidade. Nascido no Porto em 1862, foi um hábil comerciante e floricultor, com a sua loja “Flora Portuense” na Praça de D. Pedro (hoje, Praça da Liberdade) e horto, jardins e estufas no palacete que habitava em Nova Cintra, ganhando vários prémios nas Exposições no Palácio de Cristal. Aurélio recebeu influências do avô, que foi miguelista e por isso deu ao filho o nome de Miguel da Paz dos Reis. Porém a inclinação política de Aurélio era o liberalismo, confirmando-se com a sua participação na Revolta do Porto, de 31 de Janeiro de 1891, que pretendia derrubar a Monarquia. Através dos seus ideais conseguiu uma progressão rápida nos graus da Maçonaria do Vale do Porto, e aderiu ao Partido Republicano. Esta sua opção política originou dois encarceramentos na Cadeia da Relação do Porto.
De certa forma irónico é o facto de ser precisamente na Cadeia da Relação, onde está instalado o Centro Português de Fotografia, que se encontra o espólio fotográfico do artista, doado pelo neto, Hugo Paz dos Reis. Constituído por 9260 negativos e 2464 positivos, este fundo reflecte a produção fotográfica relativa a reportagens políticas, principalmente comícios republicanos, eventos sociais e fotografias de carácter familiar e de viagens. Existe ainda outro tipo de documentação tais como documentos de identificação da família, da Flora Portuense, da Maçonaria, do “Grupo dos Zecas”, correspondência com os filhos e outros, programas de teatro, recortes de jornais, artigos fotográficos, artigos sobre cinema, livros, revistas, jornais relacionados com a fotografia, a plantação de sementes e flores, a agricultura ou a maçonaria. Este fundo possui também objectos tridimensionais pessoais, envelopes de papel fotográfico, caixas de negativos de vidro não expostas, produtos químicos, postais, indumentária da maçonaria, medalhas ou alfinetes.
No verão de 1896, Aurélio da Paz dos Reis pensou em comprar um cinematógrafo aos irmãos Lumière, e desloca-se a Paris, mas estes não lho venderam, acabando, por comprar aos irmãos Werner (juntamente com o seu cunhado Francisco Magalhães Bastos Júnior, comerciante e fundador da Photo Universal), um aparelho cronofotográfico, uma variante do cinematógrafo, com um funcionamento mecânico diferente mas que cumpria o propósito a que se destinava: filmar. Com este equipamento Aurélio da Paz dos Reis filma a fábrica do amigo, António da Silva Cunha, a Camisaria Confiança, na Rua de Santa Catarina, n.º 181. Este filme é a primeira obra de referência do cinema português. É uma parte deste espólio que é mostrado ao público pela primeira vez, numa justíssima homenagem do Clube Fenianos Portuenses àquele que foi um dos seus mais notáveis sócios e que a Mostra Fotografia & Autores tão bem soube recuperar, integrando a exposição nesse evento maior, de visita obrigatória.
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