Páginas

sexta-feira, 22 de março de 2024

EXPOSIÇÃO: NERVO – Observatório do Fotolivro Português do Século XXI



EXPOSIÇÃO: NERVO – Observatório do Fotolivro Português do Século XXI
Curadoria / produção | Coletivo de investigadores e artistas da plataforma Nervo
Direção artística e coordenação | Ângela Ferreira e Rodrigo Peixoto
Centro Português de Fotografia
18 Nov 2023 > 30 Mar 2024


Nos últimos anos, Portugal tem assistido a um florescimento de criatividade no universo das fotolivros, consolidando-se como uma referencia não apenas pelos autores e títulos publicados, mas também graças a uma comunidade editorial que reconhece na fotolivro uma parte integral da fotografia, com o seu próprio alfabeto. Uma peça nuclear na história do fotolivro português e que contribuiu para este fenómeno é “Lisboa, cidade triste e alegre”, da autoria da dupla de arquitectos e fotógrafos Victor Palla e Costa Martins. Originalmente publicada em 1959 e reeditada pela Pierre von Kleist em 2009 (2ª reedição em 2015), esta obra seminal sobre Lisboa dos anos cinquenta, desempenhou um papel crucial no impulso da produção editorial da fotografia portuguesa no alvorecer de séc. XXI. A consagração da obra, viria a surgir apenas em 2004 com a sua inclusão no “The Photobook: A History, Vol 1”, de Gerry Badger o Martin Parr, o único livro português destacado, considerado um dos melhores livros de fotografia da Europa do pós-guerra, pela sua notável complexidade em ternos de forma e conteúdo. Com uma abordagem poética a uma atmosfera vibrante e cinematográfica, distingue-se aо incorporar muitas das técnicas de produção de livros desenvolvidas por William Klein, além de influências de fotógrafos holandeses como Ed van der Elsken a Joan van der Keuken.

Por trás deste crescente fenómeno dedicado ao fotolivro, território em certa medida desbravado por “Lisboa, cidade triste e alegre”, move-se hoje um verdadeiro ecossistema de produção, aquisição, circulação, discussão e pesquisa sobre esta forma de expressão. Para os fotógrafos e críticos de fotografia, Martin Parr, Gerry Badger e John Gossage o fotolivro é o veículo que expressa o verdadeiro potencial narrativo da fotografia. Apesar de ter surgido logo após o seu nascimento em 1839 (Fox Talbot: Pencil of Nature, em 1844; Anna Atkins: Photographs of British Algae em 1843), só recentemente veio a ocupar uma posição central na fotografia contemporânea, como um vasto e extraordinário território a ser mapeado enquanto pesquisa interdisciplinar e artefacto artístico. Perante um mundo hiperconectado, o fotolivro ergue-se como ferramenta de resistência à pressão que o processo de desmaterialização tem exercido sobre a Fotografia, sendo por isso entendido politicamente como uma singularidade dialéctica para (des)elitizar a distribuição do trabalho fotográfico. Por outro lado, sabemos que dentro do género da Fotografia contemporânea, os fotolivros são um dos modos de conhecer e apreciar a linguagem de uma forma verdadeiramente imersiva. Considerados símbolos da sua época, são importantes artefactos visuais, pelo que entender a gramática e alfabeto é entender a cultura e o pulsar dos tempos.

Ora, conscientes do potencial de criação artística despertada pela efervescência dos fotolivros em Portugal, a equipa de investigadores e artistas deste projecto, lançou-se na missão de implementar uma Biblioteca inédita digital de Fotolivros em Portugal, inspirados pela plataforma parceira da América Latina [www.livrosdefotografia.org]. Assim nasce o NERVO - Observatório de Fotolivros Portugueses [www.nervophotobooks.com] que envolve a criação de novas visualidades de livros de fotografia de expressão portuguesa, resultando na criação de um observatório da contemporaneidade que abrange a sua inclusão e digitalização, a criação e edição de podcasts e o lançamento de uma publicação. O NERVO abre-se como um território de reconhecimento da comunidade portuguesa de fotolivros, ao dar voz aos seus autores e editores, agindo como um valioso espaço editorial de criação e pensamento dos fotolivros e suas equivalências às questões contemporâneas sobre arquivo e memória num mundo globalizado e digital. A exposição centra-se exclusivamente nos fotolivros do século XXI, integrando desde obras clássicas até formatos mais experimentais e independentes e é concebida como uma obra viva e plural, espelhando uma seleção dos principais autores e obras, trazendo à luz assuntos da história portuguesa e especificidades técnicas da sua produção até distintas práticas artísticas, revelando um verdadeiro sistema alternativo de produção editorial portuguesa que, ano após ano, continua a dar sinais da sua vitalidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário