CINEMA: “A Sala de Professores” / “Das Lehrerzimmer”
Realização | Ilker Çatak
Argumento | Johannes Duncker, Ilker Çatak
Fotografia | Judith Kaufmann
Montagem | Gesa Jäger
Interpretação | Leonie Benesch, Anne-Kathrin Gummich, Rafael Stachowiak, Michael Klemm, Eva Löbau, Kathrin Wehlisch, Sarah Bauerett, Canan Samadi, Kersten Reimann, Henriette Sievers, Benjamin Bishop, Tim Porath, Katinka Auberger, Katharina Marie Schubert, Uygar Tamer, Özgür Karadeniz, Leonard Stettnisch, Oskar Zickur, Antonia Luise Krämer, Elsa Krieger
Produção | Ingo Fliess
Alemanha | 2023 | Drama | 98 Minutos | Maiores de 12 anos
UCI Arrábida 20 – Sala 9
28 Fev 2024 | qua | 16:45
“O que acontece na sala de professores fica na sala de professores ”, diz Carla Nowak em entrevista ao jornal da escola, mesmo que isso não passe de pura ilusão de uma jovem idealista e bem-intencionada. Dedicada ao ensino de matemática e educação física, este é o seu primeiro contacto com esta escola e o seu entusiasmo e determinação parecem ser factores de motivação no seio da turma. O “estado de graça”, porém, não irá manter-se por muito tempo. Uma série de roubos ocorre na escola e as suspeitas recaem sobre um aluno seu. Indignada com o preconceito que se adivinha por detrás do dedo acusador, Nowak parte para uma investigação a título pessoal e vem a descobrir que o provável perpetrador é alguém pertencente aos quadros da própria escola. A descoberta do crime não tardará a provocar as conversas mais desencontradas, inflamando discursos e dividindo opiniões. Obrigada a enfrentar as perguntas de pais indignados, a mediar conflitos entre os próprios alunos e a lidar com a própria violência, a professora acaba por cair numa teia complexa e de consequências imprevisíveis.
É difícil ver “A Sala de Professores” sem nos lembrarmos de “Clube dos Poetas Mortos”, filme de Peter Weir de 1989, os bancos de escola como lugar onde se instala a discriminação social e se multiplicam os conflitos. Ainda que Keating fosse um idealista e Nowak seja essencialmente pragmática, aproxima-os a forma como procuram resolver os problemas, a abordagem aos seus alunos ou as atitudes em relação àqueles que defendem persistentemente os métodos tradicionais de ensino. A questão está em saber se as palavras e as ideias dos que questionam antes de julgar ou rotular, que buscam a verdade de forma intransigente e são ainda capazes de pensar pelas próprias cabeças, serão capazes de prevalecer e de mudar o mundo. A este propósito, Ilker Çatak responde, convidando a que abandonemos o preconceito e nos coloquemos do lado da verdade (e aqui recordo outro filme, “Anatomia de Uma Queda”, da cineasta francesa Justine Triet e vencedor da Palma de Ouro de Cannes, que formulava o mesmo convite).
Mostrar como funciona a hierarquia escolar é uma das preocupações do realizador, igualmente autor do argumento de parceria com Johannes Duncker. Os alunos parece que têm uma palavra a dizer sobre a forma como a escola é gerida, mas as fórmulas democráticas e as atitudes participativas deixam de contar na altura de tomar decisões de fundo. Somente quando os estudantes se rebelam é que demonstram ter algum poder real. Çatak mostra o quanto uma sala de professores, que deveria servir de refúgio a uma equipe extremamente sobrecarregada, pode transfigurar-se e mostrar o quão hostil pode ser o seu ambiente, afinal espelho do que sucede com uma sala de aulas, “feios, porcos e maus” e “lindos, limpos e bonzinhos” de um e outro lado da barricada. No papel de Carla Nowak, Leonie Benesch é absolutamente fantástica numa actuação que se inicia com uma saudação toda ela doçura e termina com o grito animalesco. Um filme inteligente sobre esse particular microcosmos que é a escola, feito de sonhos e ideais, mas também de medos, culpa e castigo.
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