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quinta-feira, 23 de novembro de 2023

EXPOSIÇÃO: “Apagar a linha: Entre a Terra e a Água”



EXPOSIÇÃO: “Apagar a linha: Entre a Terra e a Água”,
de Attilio Fiumarella
Curadoria | Ivo Poças Martins
Porto Design Biennale
Museu do Porto - Palacete dos Viscondes de Balsemão
19 Out > 03 Dez 2023


Ocupando três salas do Museu do Porto - Palacete dos Viscondes de Balsemão, “Apagar a linha: Entre a Terra e a Água” integra o conjunto de eventos que dão corpo à terceira edição da Porto Design Biennale. Com curadoria de Ivo Poças Martins, a exposição é pontuada pelo trabalho do artista Attilio Fiumarella e incide sobre a zona do Cabedelo do Douro, território que levanta questões profundas sobre as fronteiras e linhas que separam (ou unem) os diferentes elementos que compõem a vida na Terra. O contorno da margem de um rio, a linha de horizonte, a linha do ‘copo meio cheio’, são invenções. Os oceanos tocam-se, numa massa contínua, bem como os rios, os ribeiros, e assim sucessivamente até ao interior da terra. Não existindo linhas, como podemos delimitar territórios? Ou, por outras palavras, se tudo está ligado, se tudo se move constantemente e nos surge com diferentes graus de invisibilidade, qual será a sua geografia pertinente? Arrisca-se, pois, uma abordagem radical, escolhendo um só lugar, o Cabedelo do Douro, para tentar nele encontrar muitas destas questões e as muitas linhas (ou manchas, ou cores) que permitem representá-las, e que se ligam a tantos outros lugares e seres.

Apesar de estar geograficamente perto, o Cabedelo do Douro permanece como um lugar povoado por mistérios e por uma complexidade de usos e histórias que o seu desenho, enquanto uma mera massa uniforme de areia, não é suficiente para desvendar. É esse o ponto de vista complementar que se pretende construir, de pés no chão (ou de pés na areia) e arriscando enfrentar a imersão nas ondas do Cabedelo e nas correntes do rio. Dos arquivos foram resgatadas algumas cartas náuticas do século XIX, cujo desenho cuidado nos mostra as rochas, os fundos ou as variações dos formatos que a restinga foi sofrendo sazonalmente e ao longo dos anos. Tratando-se de fenómenos discretos ou pouco conhecidos, são fundamentais para a navegação e, consequentemente, para o sucesso da atividade portuária que, historicamente, é também marcada por incontáveis naufrágios e perdas materiais e humanas. A construção de molhes, a consolidação das margens, as dragagens e rebentamento de formações rochosas são expressões da vontade de domesticar a variação das correntes e das marés.

No Cabedelo, ainda não se tinha estabelecido a Reserva Natural e já as ondas eram glorificadas pela comunidade do Surf que começava a estabelecer-se no Porto; o areal extenso, as dunas e as construções improvisadas feitas com materiais transportados pela deriva foram servindo, e ainda servem, àqueles que procuram um discreto canto para fugir às multidões. O ensaio artístico e o registo de testemunhos orais em vídeo apresentados nesta exposição funcionam como olhares complementares àqueles que os documentos históricos nos trazem, expandindo o entendimento que temos destas paisagens. Apagar a linha é uma forma de dar espessura e densidade aos espaços que estão nas margens. Mais do que a relação entre terra e água, procura-se reconhecer os fenómenos transitórios, efémeros, discretos e informais como sendo aspetos fundamentais a manter e potenciar nas transformações que impomos ao mundo.

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