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terça-feira, 22 de agosto de 2023

EXPOSIÇÃO: "Linhas de Vento - Percursos Artísticos na Natureza"


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EXPOSIÇÃO: “Linhas de Vento - Percursos Artísticos na Natureza”
Alberto Carneiro, Ana Mendieta, Catarina Braga, Fernando Lanhas, Hamish Fulton, João Charters de Almeida, Lothar Baumgarten, Lourdes Castro, Pedro Vaz, Richard Long, Robert Smithson
Organização | Fundação de Serralves – Museu de Arte Contemporânea, Porto
Curadoria | Joana Valsassina
Museu de Aveiro / Santa Joana
14 Jul > 01 Out 2023


Ao longo da História da Arte, a relação entre Arte e Natureza foi sempre um estímulo para a criação artística e para a expressão de uma relação idiossincrática dos artistas com o mundo em que vivem. Essa relação será muitas vezes de confronto, outras vezes toma o lugar da representação, do diálogo e da busca de correspondências. É neste contexto que se insere “Linhas de Vento – Percursos Artísticos na Natureza”, conjunto de obras de artistas portugueses e internacionais associados ao movimento “Land Art”, ou “Earthworks”, que buscam no território natural o lugar e a matéria para o desenvolvimento de projectos artísticos intencionalmente deslocados dos espaços tradicionais de criação e exposição. As suas práticas surgem intimamente associadas à emergência da Arte Conceptual, à valorização do processo de criação em detrimento do objecto artístico, à diluição de fronteiras entre disciplinas e ao questionamento do sistema de valor imposto pelo mercado da arte. O recurso a materiais não processados, à fotografia, ao desenho e à linguagem torna-se recorrente no trabalho destes artistas que documentam e transportam para o espaço expositivo as suas experiências.

Longe de apresentar exaustivamente as investigações artísticas desenvolvidas neste enquadramento durante as décadas de 1960 e 1970 ou de definir uma genealogia rigorosa daí em diante, “Linhas de Vento” estabelece pontos de contacto entre obras paradigmáticas deste período e trabalhos posteriores de artistas com percursos muito distintos, traçando caminhos de aproximação de índole temática, processual e material. O título da exposição é emprestado de uma obra gráfica de Richard Long – “Wind Line” (1989) –, que inclui o registo da direcção do vento ao longo de vinte dias de caminhada pela Península Ibérica. Richard Long é uma das figuras centrais da corrente europeia da “land art” que, ao contrário da produção americana, tende a privilegiar um trabalho de cariz pessoal – subtil, delicado e, por vezes, imaterial – com o território natural. Deste artista pudemos ver ainda “Earth Circle”, transposição do trabalho de campo para o espaço do Museu de elementos naturais encontrados, aos quais é dada uma forma geométrica; ou, o conjunto de trabalhos “Sem Título”, nos quais o artista intervém em pedaços de madeira encontrados junto ao mar, desenhando composições lineares com marcas das suas impressões digitais, que associa às formas de expressão pré-históricas.

A perspectiva singular de Alberto Carneiro é outro dos pontos altos desta exposição, através da qual percebemos a forte comunhão física, conceptual e espiritual entre a natureza, o ser humano e a arte. A incorporação rural na prática artística de Alberto Carneiro faz com que as suas obras reflictam não apenas sobre o “trabalho de campo”, mas também sobre o “trabalho no campo”. As relações dialéticas entre espaço e plano, luz e sombra, forma e trama são exploradas magistralmente por Lourdes Castro na série de desenhos “Sombras à volta de um centro”, nos quais a artista regista o contorno e a sombra projectada de diferentes espécies de flores e plantas que compõe, caso a caso, numa jarra de dimensões apropriadas. Fernando Lanhas debruça-se também sobre os contornos geométricos do mundo natural, encontrando no movimento dos corpos celestes, no rolamento de seixos desgastados pelo tempo, em vestígios fósseis de idades remotas e na harmonia da música clássica, manifestações de uma ordem universal de base geométrica que a humanidade procura desvendar.

A diversidade de percursos artísticos pela natureza que marcam esta exposição – distintos em forma, processo e propósito – sublinha o carácter aberto, ilimitado e transformador da obra de arte e a multiplicidade de caminhos seguidos pelos artistas contemporâneos. . As obras mais recentes apresentadas nesta exposição que compõem a série “If a tree falls in a forest and no one is around to hear it, does it make a sound?” (2019), de Catarina Braga, centra-se no território da Amazónia e no crescente impacto da acção humana nesta que é a maior formação florestal do planeta. Surgida no contexto de uma série de propostas que visavam transformar territórios impactados pela indústria mineira em projectos artísticos de enorme escala, a obra “Untitled (Project for Peabody Coal”), de Robert Smithson, é reveladora do interesse do artista pela geologia, paleontologia, arqueologia e astronomia. Os elementos são protagonistas nos trabalhos de Ana Mendieta intitulados “earth-body works”, nos quais a artista cubana invoca uma ligação ancestral entre o corpo feminino e a natureza. Lothar Baumgarten desenvolve uma investigação de base antropológica focada no estudo das culturas indígenas americanas e Pedro Vaz regressa à Trilha do Ouro, revisitando o caminho histórico entre Ouro Preto e Paraty, fundamental no escoamento dos minérios extraídos do território brasileiro para Portugal. Para ver até 01 de Outubro.

[Composto a partir do Roteiro da Exposição | Texto de Joana Valsassina]

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