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terça-feira, 16 de maio de 2023

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "In Limbo"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “In Limbo”,
de Carmen Serejo
Curadoria | José Soudo
iNstantes - Festival Internacional de Fotografia de Avintes
Casa da Cultura de Avintes
28 Abr > 31 Mai 2023


“A vida não é garantida.
Milhões de pessoas em todo o mundo são perseguidas, torturadas, insultadas, assediadas. Vivem constantemente preocupadas com a segurança dos filhos. Afectadas física e psicologicamente, lutam pela sobrevivência. São forçadas a fugir e a deixar tudo para trás.
Vivem no LIMBO.”

No Afeganistão, as mulheres são sistematicamente excluídas da vida pública, vivem sob o signo da violência, enfrentam tanto o colapso dos seus direitos e sonhos como as ameaças à sua própria sobrevivência. Na Síria, casar as filhas, crianças ainda, é a resposta desesperada às circunstâncias de pobreza extrema em que vivem milhões de famílias deslocadas. Na África Subsariana, são em número infindável aqueles que procuram a rota do Mediterrâneo, as pernas em sangue, procurando escapar da mutilação física, da violência sexual e de género, das detenções arbitrárias, do recrutamento forçado. Na América Central, os sonhos de segurança, conforto e meios de subsistência sustentáveis para milhares de pessoas, esbarram na fronteira do México com os Estados Unidos e numa burocracia que torna a espera insustentável. Em Myanmar, a minoria Rohingya procura escapar ao genocídio, caminhando durante dias através de selvas e montanhas, arriscando a vida em viagens tormentosas no Golfo de Bengala. Enquanto isso, às portas da Europa, são muitos aqueles que gelam agarrados ao arame farpado, por bagagem uma mochila apenas.

Podia continuar a citar exemplos que ilustram algumas das mais terríveis emergências humanitárias, nomeadamente o drama dos refugiados que tem gerado níveis sem precedentes de deslocados e sofrimento humano, em todo o mundo. O número, infelizmente, é imenso e não cessa de aumentar, nomeadamente através do conflito que opõe a Ucrânia à Rússia e que traz a guerra para o interior da Europa. Com base em histórias do terreno, Carmen Serejo procura representar aqueles que foram deslocados à força; aqueles que foram obrigados a regressar a casa durante a pandemia da COVID 19; aqueles que são apátridas e, por isso, invisíveis e desconhecidos; e outros grupos que não devem ser negligenciados e esquecidos. Em “In Limbo”, a artista faz de cada uma das imagens uma entrevista fotográfica com o público, propondo uma reflexão sobre cada momento da vida destas pessoas que experienciam a condição de dúvida, indecisão, incerteza.

Com curadoria de José Soudo e o apoio da Amnistia Internacional, “In Limbo” oferece duas leituras distintas, mas que se complementam. Desde logo, porque cada fotografia carrega consigo o peso de uma mensagem onde o sonho há muito cedeu o lugar à desesperança. São imagens fortes, reveladoras de realidades das quais não temos como desviar os olhos. Há, por outro lado, a questão da fotografia enquanto arte que é espelho do mundo, que assume o dever de denunciar, de questionar, de inquietar. Carmen Serejo não precisou de ir aos lugares de conflito para os dar a ver. Abdicou da chancela do fotojornalismo e, com enorme sensibilidade, agarrou-se aos símbolos. Os faróis na noite, o rosto que espreita do outro lado da porta, a mão que agarra o arame farpado, a pele na pele do branco e do negro, bastam para nos lembrar que a humanidade caiu numa profunda crise, de cuja solução todos parecemos alheados. Num xaile ou num rosário, percebemos que os símbolos de que Carmen Serejo se vale para nos levar nessa viagem por um mundo de dor e desespero, podem ser os mesmos que guardamos dentro de nós de forma inocente. Vale a pena pensar nisto!

2 comentários:

  1. Acordar para a realidade de um mundo com tantas desigualdades que incomodam e nos transmitem insegurança, mas também nos motivam a participar mais na defesa dos Direitos Humanos, na educação da sociedade, na resiliência nos objectivos concretos para a qualidade de vida humana e no planeta. Ver o sensibilidade e expressão neste trabalho é também um factor que nos chama a agradecer o nosso próprio conforto perante a vida ! Obrigada Maria Carmen

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  2. Caro Joaquim Margarido, Agradeço reconhecida o seu artigo.
    Com esta série quis honrar mais de 100 milhões de pessoas que se vêm obrigados a deixar tudo para trás e a procurar refugio, quando a vida é insustentável. Tenho sentido uma espécie de amnésia coletiva, em certa medida, mais ou menos involuntária, sendo menosprezadas as causas mas também as consequências das crises de refugiados a todos os níveis nas nossas vidas. Por isso, na construção deste projecto, fiz de cada imagem uma entrevista fotográfica com o público.
    Bem haja, Joaquim Margarido

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