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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

LUGARES: Sala René Lalique | Museu Calouste Gulbenkian


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LUGARES: Sala René Lalique
Museu Calouste Gulbenkian
Av. de Berna, 45A, Lisboa
Horário | De quarta a segunda, das 10:00 às 18:00 (encerra à terça-feira)
Ingressos | Bilhete normal € 10,00 (entrada gratuita aos domingos a partir das 14:00)


Após um período de renovação, a sala do Museu Calouste Gulbenkian exclusivamente dedicada à produção joalheira e vidreira de René Lalique reabriu ao público. Nela é possível apreciar uma parte significativa das quase duas centenas de obras adquiridas por Calouste Gulbenkian directamente a René Lalique entre os anos de 1899 e 1927, nas quais é forçoso reconhecer tanto a prodigiosa imaginação do artista, como o gosto e a personalidade do coleccionador. René Lalique e Calouste Sarkis Gulbenkian conheceram-se em meados da década de 1890. Em carta dirigida a Suzanne Lalique-Haviland, em 1945, por ocasião da morte do artista, Gulbenkian manifestava à filha de Lalique o seu profundo pesar pelo desaparecimento do amigo: “O seu Pai era um amigo muito querido, e ao desgosto de o termos perdido junta-se o infinito pesar que sempre experimentamos perante o desaparecimento de um grande homem. A minha admiração pela sua obra única nunca cessou de aumentar ao longo dos cinquenta anos que durou a nossa amizade […] Orgulho-me de possuir, creio bem, o maior número de obras suas, que ocupam um lugar privilegiado entre as minhas colecções”.

De enorme valor e interesse, a colecção traduz, sobretudo no que diz respeito ao período Arte Nova, momento em que Gulbenkian assegurou a aquisição de algumas das mais célebres joias do genial criador, uma síntese da sua obra em cujo centro figura a imagem obsessiva da mulher. Adquirido por Gulbenkian em 1903, o peitoral “Libélula”, que Sarah Bernhardt terá usado em cena, e a que as asas articuladas em esmalte vitral conferem uma dimensão espectacular, resulta da simbiose de dois temas recorrentes do imaginário de Lalique: a figura feminina e o insecto em que esta se transforma e que dá origem a uma criatura híbrida. O broche em marfim “Figuras e Serpentes” é uma das quatro joias da Coleção Gulbenkian que fizeram parte da apresentação triunfal de Lalique na Exposição Universal de Paris, em 1900. A introdução de materiais inesperados na criação joalheira, como o marfim, o esmalte, o chifre ou o vidro, em detrimento da utilização de pedras preciosas, ilustra a importância do mestre na transformação da joalharia, que conheceu, através da originalidade das suas criações, uma verdadeira revolução.

Também na ourivesaria Lalique associou materiais como o vidro e a prata na concepção de um mesmo objecto. A jarra “Cardos”, igualmente presente na exposição de 1900, e o açucareiro “Serpentes”, em vidro soprado e patinado, numa montagem vazada em prata, envolta por serpentes entrelaçadas, tema recorrente na obra de Lalique, são exemplos representativos dessa integração de materiais. O pendente Rosto Feminino, de onde se suspende uma pérola barroca, de influência renascentista, encontra-se envolto por quatro papoilas abertas, flor emblemática no período Arte Nova, cuja simbologia se encontra associada ao mundo onírico. No diadema “Orquídeas”, uma sublime síntese da natureza, no qual se combinam chifre e marfim, Lalique recria literalmente uma natureza plasmada do real. Flor símbolo do movimento Arte Nova, a orquídea assume, no centro do diadema, total protagonismo. O diadema “Haste de Macieira”, um dos vinte e sete objetos em chifre conservados na Colecção realizado nesse material, demonstra igualmente a constante inspiração de Lalique num inesgotável e maravilhoso repertório botânico, que o acompanhou ao longo de toda a carreira.

A procura da transparência foi, desde muito cedo, uma preocupação primordial para Lalique. A gargantilha “Gatos”, em cristal de rocha, é disso exemplo. Após a Primeira Guerra Mundial, em 1922, ficou operacional a sua fábrica vidreira, na localidade de Wingen-sur-Moder. A atividade do «industrial criador» – Lalique abandonara a criação joalheira em 1912 –, voltou-se definitivamente para a produção de objectos em série, em vidro moldado-prensado. Encomendas destinadas a projetos de arquitectura ou de decoração, identificados com uma clara ideia de modernidade, foram realizadas na fábrica da Alsácia. Em 1925, por ocasião da Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, em Paris, Lalique conheceu uma vez mais o aplauso do público e da crítica com a apresentação das suas criações em vidro, a que chamou a “matéria maravilhosa”. Também no estilo Art Déco o artista encontrou resposta para as aspirações de uma nova era de optimismo e de consumo, e contribuiu, de forma decisiva, para a transformação da arte do vidro.

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