EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Viva Manta!”,
de João Abel Manta
Curadoria | João Paulo Queiroz, Luísa da Rocha
Sociedade Nacional de Belas Artes
17 Jan > 18 Fev 2023
João Abel Manta é conhecido pelo seu traço como cartoonista, mas o seu caminho espalhou-se também pela arquitectura, ilustração, pintura, cerâmica, tapeçaria e mosaico. Ao longo de um mês, a Sociedade Nacional de Belas Artes dedicou-lhe uma exposição retrospectiva que incidiu sobre os trabalhos de pintura, aos quais se dedica em exclusivo desde os anos 80 do século passado. “Viva Manta” acompanha o percurso intenso do artista que se inicia com a expressão neo-figurativa dos anos 60 e 70, através de grafismos planificados e composição assente na justaposição na página, com referencias na Pop Arte, a que se somam apontamentos letristas. Após decidir encerrar a sua atividade como cartoonista, cerca de 1980, o autor dedica-se à pintura como que começando de novo, mergulhando na paisagem, e tomando como referência Gouveia, terra natal do seu pai, o pintor Abel Manta.
O interesse pelas figuras da cultura está presente desde sempre, e também na extensa galeria de retratos, onde escritores, pintores, filósofos, actores, músicos, são convocados com a proximidade intensa e o companheirismo ameno que se conhecia dos seus desenhos e cartoons. “A minha atração por alguns artistas do chamado impressionismo, deriva do modo notável como utilizam a técnica da pintura e talvez também pela tranquilidade dos temas, tranquilidade curiosa numa época agitada e revolucionária: intimidade da vida burguesa, paisagens repousantes, gente feliz, bailarinas”, conta, a propósito da exposição no Palácio Galveias, levada a cabo em 2009. Mas a sua aparente proximidade formal com o impressionismo é enganadora, e nas suas pinturas das décadas de 1980 a 2000 deparamos frequentemente com um universo sombrio de onde emergem “figuras inomináveis e terríveis, produtos da alucinação”.
Já no lado esquerdo da exposição estão presentes os últimos trabalhos de João Abel Manta, que evocam tanto a mitologia revisitada, como a biografia familiar, no contexto dos referentes profundos das relações humanas: a sexualidade, as idades, os livros, as viagens. A visão perturbante de João Abel Manta funde o “quotidiano e o fantástico, em paisagens lisboetas invadidas de seres estranhos”, a par de uma recorrente presença de auto-figurações que remetem para um território autorreferencial até aí desconhecido na sua obra. Identifica-se o artista, ora como criança, de três ou quatro anos, ora como pintor, adulto e envelhecido, assim como também se identifica a sua companheira de vida, entre outros referentes da sua biografia.
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