EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “O Inverno Vermelho de Bucha”,
de Daniel Berehulak
Centro Português de Fotografia
19 Nov 2022 > 21 Fev 2023
Multipremiado fotojornalista australiano e colaborador assíduo do The New York Times, Daniel Berehulak visitou até hoje mais de 60 países, cobrindo eventos históricos que incluem a Guerra do Iraque, o julgamento de Saddam Hussein, a guerra dos cartéis da droga nas Filipinas,o surto de Ébola na África Ocidental, o trabalho infantil na Índia, as eleições no Afeganistão, o retorno de Benazir Bhutto ao Paquistão, os “elefantes brancos” do Brasil, o terramoto do Nepal, as consequências do tsunami no Japão ou o desastre de Chernobyl. O seu trabalho foi reconhecido com dois prémios Pulitzer, seis world Press Photo, dois Photographer Of the Year da Pictures of the Year International, entre outros. Entre Março e Abril do ano passado, Berehulak permaneceu algumas semanas em Bucha, uma cidade a noroeste de Kiev, onde documentou crimes de guerra cometidos pelo ocupante russo. Numa parceria com a Estação Imagem e com a Câmara Municipal de Coimbra, a foto-reportagem “O Inverno Vermelho de Bucha” pode agora ser vista no Centro Português de Fotografia.
De que falamos quando falamos de Bucha? O nome fez capa de jornais e foi tema de abertura de noticiários em todo o mundo no início de Abril do ano passado, ao 39º dia de guerra na Ucrânia. Com a retirada das tropas russas, o mundo viu o que ficou para trás: dezenas de corpos nas ruas que denunciam “execuções sumárias” e “outros abusos graves” que podem configurar crimes de guerra. A comunidade internacional uniu-se no choque e no espanto ao ser confrontada com as imagens. Pela voz do Presidente Volodymyr Zelensky, a Ucrânia veio dizer que a morte de civis em Bucha é um “massacre deliberado” e “um genocídio”. Agnès Callamard, secretária-geral da Amnistia Internacional, afirmou: “Estes relatos de Bucha estão a demonstrar um padrão mais alargado de crimes de guerra que incluem execuções extrajudiciais e tortura, e que estão a acontecer noutros territórios ocupados da Ucrânia. Tememos que a violência sofrida pelos civis em Bucha às mãos dos soldados Russos não seja caso único.”
Prepare-se o visitante para as imagens que irá ver. Cruas, sombrias, carregadas de dor e sofrimento, mostram dezenas de corpos exumados de uma vala comum e metidos em sacos, outros caídos nas ruas da localidade, nos quintais ou no interior das habitações. Abatidos de forma indiscriminada, são marcas do horror que transformam Bucha numa cidade-mártir, o conflito na Ucrânia como uma ferida aberta nos valores do respeito, da justiça, da solidariedade e da ética. Há pessoas que, nos cemitérios, choram os seus; outras, de olhar perdido, olham os escombros das casas onde viviam; outras, ainda, estendem as mãos para um pacote de pão que lhes é oferecido. Neste dar a ver a iniquidade e a barbárie, Daniel Berehulak mostra o quanto uma imagem vale mais que mil palavras. As mais fortes emoções ganham um novo despertar perante testemunhos tão vivos. Reportagens desta natureza são um murro no estômago da humanidade, o que dão a ver questiona, de forma veemente, as causas e valores pelos quais nos devemos reger. São fundamentais para que a(s) guerra(s) pare(m) e o mundo possa, enfim, alcançar a paz e a concórdia.
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