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segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

CINEMA: "Broker - Intermediários"



CINEMA: “Broker – Intermediários” / “Beurokeo”
Realização | Hirokazu Koreeda
Argumento | Hirokazu Koreeda
Fotografia | Hong Kyung-pyo
Montagem | Hirokazu Koreeda
Interpretação | Song Kang-ho, Dong-won Gang, Bae Doona, Ji-eun Lee, Lee Joo-young, Kang Gil-woo, Park Hae-joon, Seung-soo Im, Sae-Byuk Kim, Ryu Kyong-Soo, Donh-hwi Lee, Lee Moo-saeng, Ji-young Park, Sae-byeok Song, Kim Sun-young
Produção | Eugene Lee
Coreia do Sul | 2022 | Drama | 129 Minutos | Maiores de 12
Cinema Vida  08 Jan 2023 | dom | 18:15


Solidamente enraizado nos conceitos e valores ligados à família, o cinema de Hirokazu Koreeda encontra aí campo fértil para se estabelecer e se expandir. Já foi assim com “Shoplifters – Uma Família de Pequenos Ladrões”, o filme vencedor da Palma de Ouro de Cannes em 2018 e que pôde ser visto no Cinema Vida no final desse ano [crítica AQUI]. Volta a sê-lo agora com “Broker – Intermediários”, uma espécie de fábula contemporânea debruçada sobre o viver em sociedade e que, desta feita, nos diz que não são apenas os laços de sangue que legitimam uma família, mas que ela pode muito bem ser um conjunto de pessoas sem relações de parentesco entre si, mas que, unidas por um propósito comum, se vão conhecendo e compreendendo intimamente.

Assente na questão do tráfico ilegal de bebés e nas muito controversas “babybox”, onde o número de crianças depositadas devido a estigmas sociais – como a questão das mães solteiras ou bebés com deficiência – ultrapassa já as 100.000 na Coreia do Sul, “Broker – Intermediários” conta-nos a história de uma criança abandonada e das repercussões desse acto na vida de algumas pessoas, desde logo a mãe, mas também dois trabalhadores da instituição que recebe estas crianças e que decidem “desviá-la” ilicitamente e ir em busca de um comprador. Exceptuando a criança, ninguém é inocente nesta história. Em todos há culpas por expiar, passados sombrios que se carregam com esforço, segredos que envergonham. E, contudo, há em todas estas pessoas uma extraordinária humanidade que se evidencia nos pequenos gestos, nos olhares, no que fica por dizer.

Mais do que as questões morais e éticas que o filme levanta, é a forma aberta como estas são colocadas e o espaço de liberdade dado ao espectador para, ele próprio, fazer os seus juízos, o que de mais emocionante ressalta em “Broker – Intermediários”. Hirokazu Koreeda sabe que as questões que coloca em cima da mesa não podem ser tratadas de ânimo leve, pautando o filme por um ritmo lento mas firme, seguro das emoções e sentimentos que cada acção convoca e do tempo necessário à sua interiorização. Nesta espécie de “road movie” a bordo de uma velha carrinha, o espectador é convidado a acompanhar uma complexa e dolorosa jornada interior, desligando-se das paisagens neutras que vão desfilando ante os seus olhos. É no escuro que se expressam os sentimentos mais íntimos, os mais ardentes segredos, a gratidão à vida e aos companheiros de aventura por existirem. Sem retórica nem alarde, terno e sensível, este é um filme que toca as cordas da alma e nos comove profundamente.

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