CINEMA: “Shoplifters – Uma
Família de Pequenos Ladrões” / “Shoplifters”
Realização | Hirokazu Koreeda
Argumento | Hirokazu Koreeda
Fotografia | Ryûto Kondo
Montagem | Hirokazu Koreeda
Interpretação | Lily Franky,
Sakura Ando, Mayu Matsuoka, Jyo Kairi, Miyu Sasaki, Sosuke Ikematsu,
Yuki Yamada, Moemo Katayama, Daisuke Kuroda, Kazuaki Shimizu
Produção | Kaoru Matsuzaki, Hijiri
Taguchi, Akihiko Yose
Japão | 2018 | Crime, Drama | 121
Minutos | M/14
Cinema Dolce Espaço
07 Dez 2018 | sex | 16:00
Vencedor da Palma de Ouro na edição
deste ano do Festival de Cannes, “Shoplifters – Uma Família de
Pequenos Ladrões” aborda as dinâmicas muito próprias criadas em
torno de um grupo de pessoas próximas entre si. A história tem o
seu epicentro em Tóquio, onde descobriremos um homem e uma criança
(pai e filho?) que vivem do pequeno furto em supermercados. No
regresso a casa - um barraco miserável sufocado pelos imponentes
arranha-céus da grande metrópole -, há uma mulher à espera deles,
a avó, bem como duas raparigas. A “família” irá crescer com a
chegada da pequena Yuri, abandonada pelos pais e resgatada pelos dois
delinquentes.
Embora atípica, a família volta a ser o
instrumento de que Hirokazu Koreeda se serve para pensar os grandes
temas da existência humana. No caso concreto, um pequeno núcleo
funciona como refúgio em situações de aperto, o realizador a
dizer-nos que, mais do que os laços naturais, o acolhimento e a
solidariedade são palavras-chave na forma como os seus membros se
comportam. São muitos os momentos que sustentam esta visão ao longo
do filme, nomeadamente a cena em que, perante a proximidade da morte,
a avó sussurra um “obrigada” que incorpora uma enorme gratidão
apesar de toda uma vida vivida à margem da sociedade.
É
surpreendente o que Koreeda consegue dizer num filme que se pode
considerar minimalista, a acção praticamente resumida a ambientes
fechados, que tanto podem ser reais, como a casa de habitação, ou
metafóricos, como a unidade familiar. A partir dum argumento muito
simples, o realizador constrói uma crítica severa a uma sociedade
que se mostra incapaz de entender as relações que verdadeiramente
contam. Os momentos de felicidade resultantes da viagem que a família
faz até à beira mar, por exemplo, depressa serão abafados pela
legião de assistentes sociais, juízes e policias que se apressam a
restabelecer a (sua) ordem. Porque importa não revelar muito mais,
restará dizer que estamos perante um dos grandes filmes de 2018,
devidamente recompensado com um dos prémios de cinema de maior
prestígio e, talvez mais importante do que isso, com as opiniões
elogiosas dum vasto público.
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